ECONOMIA
Dólar mais perto de R$ 6? O que explica a nova alta e o que esperar até o fim do ano
O dólar fechou a sexta-feira, 11, cotado a R$ 5,61, após atingir R$ 5,65 na máxima intradia, impulsionado pelas preocupações dos investidores com o equilíbrio fiscal no Brasil. Em meio a uma nova disparada, analistas do mercado financeiro consultados. Dinheiro acreditam que a moeda dos Estados Unidos alcançará ao final de 2024 patamares superiores às atuais projeções do Boletim Focus.
“A gente vê o dólar em patamares mais altos, para acima de R$ 5,60 nos próximos meses e trimestres. Muita coisa aconteceu recentemente. A gente não teve nenhuma melhora no fiscal brasileiro. Tivemos também uma perspectiva de taxa de juros mais altas nos Estados Unidos”, diz Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. Ele avalia até dezembro a cotação possa ficar flutuando “ali por volta de 6 reais”.
Projeções do mercado
Por ora, as projeções do mercado apontam para um dólar mais perto de R$ 5 do que de R$ 6 ao final do ano. Semanalmente, a média das expectativas dos analistas financeiros para o dólar é reunida pelo Banco Central no Boletim Focus. A edição da última segunda-feira trouxe as seguintes projeções:
- R$ 5,40 ao final de 2024
- R$ 5,39 ao final de 2025
- R$ 5,30 ao final de 2026
- R$ 5,30 ao final de 2027
O que explica a nova disparada
Os analistas apontam que há tanto pressões externas quanto internas para a valorização da moeda estadunidense. Dentro do governo brasileiro, atribuem principalmente a preocupação com o controle das contas públicas e as recentes falas do presidente Lula.
O mercado financeiro teme sobretudo que haja um descontrole dos gastos públicos. Segundo os analistas, o crescimento da dívida criaria a necessidade de subir ainda mais a taxa básica de juros, a Selic.
Em tese, a perspectiva de novos cortes de juros nos EUA e de elevação da Selic tende a incentivar um maior fluxo de entrada de recursos no país, jogando as cotações do dólar para baixo. O que não ocorreu nos últimos dias.
“O gringo não está entrando. Apesar dos fatores macro para termos um real mais forte, há uma coisa engasgada no mercado: o fiscal”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
“O dólar futuro está operando em mais de R$ 11,10. Isso quer dizer que precisa haver investimento estrangeiro na bolsa de valores”, diz o head de câmbio da HCI Invest, Anilson Moretti.
“O principal risco para não vir investimento estrangeiro para cá é um risco fiscal, de 75% do PIB comprometido na dívida pública”, acrescenta Moretti.
Em relação às falas de Lula, Moretti cita a defesa que o presidente fez da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil no mês, sem deixar claro como isso será feito, e o anúncio de que pretende comprar novos aviões para uso da presidência e de ministros.
O presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Pedro Afonso Gomes, discorda do peso das falas do presidente. “O que presidente falou é que deveria reduzir o imposto de renda pras pessoas físicas, e que isso poderia significar eventualmente o aumento de tributação onde hoje não há. Isso é normal e decorrente da própria ideia da reforma tributária. Não deve assustar ninguém.”
Recentemente, a agência de classificação de risco Moody’s subiu a avaliação brasileira. No entanto, o estrategista-chefe da corretora Monte Bravo, Alexandre Mathias, chega a questionar essa alta na nota, destacando que o aumento dos gastos do governo não tem acompanhado de uma adequada informação de novas receitas. “Ela sempre vem com coisas mirabolantes e não recorrentes, então não tem credibilidade. O resultado deste ano está sendo atingido com coisas não recorrentes. E discutir cortes de despesa parece pecado”, critica.
Fatores externos também pesam no câmbio
Também tem impactado o câmbio o cenário de turbulência geopolítica e climática. Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações das StoneX Banco de Câmbio, destaca as preocupações com o furacão Milton. “Os danos causados ainda não podem ser mensurados e quais impactos levarão a economia”, diz. Ele menciona também a elevação das tensões no Oriente Médio e consequente alta do petróleo.
Na semana passada, também foram divulgados dados da inflação dos EUA, que mostram uma alta dos preços mais resiliente do que previsto. Como consequência, aumentaram as apostas por uma queda mais lenta dos juros estadunidenses, tornando o cenário global menos propício para investimentos em países em desenvolvimento.
“Os últimos dados de inflação que saíram vieram mostrando uma economia ainda muito aquecida, mercado de trabalho, idem. Então, essa trajetória de queda de juros americanas não vai ser tão acentuada assim como se achava”, diz Saadia, da Nomos.
Outro fator de pressão é uma possível desaceleração da economia chinesa. “O governo chinês começou a aplicar algumas medidas entre final de setembro e começo de outubro para melhorar o crédito para aquisição de imóveis”, diz Gomes, da Corecon-Sp, que lembra como a economia chinesa tem presença forte da indústria da construção. “Mas isso demora um pouco [para fazer efeito] porque as pessoas têm que se animar a tomar um empréstimo.”
Vou viajar. Quando compro dólar?
Para quem está com viagem marcada para os próximos meses, os analistas consultados divergem em relação aao melhor momento para comprar dólar.
Saadia, por exemplo, acredita que a moeda estadunidense já deve fechar o ano na casa dos R$ 6. “Então se a pessoa ainda vai comprar dólar só pra viajar este ano, ou no meio do próximo ano, a gente acredita que a resposta é a mesma, é comprar dólar agora ali ao longo da semana que vem e não esperar.”
Já Moretti, da HCI Invest, crê que a moeda pode voltar a se aproximar de R$ 5,40, apesar da volatilidade. “A estratégia melhor é fazer um preço médio”, diz.
A técnica do preço médio consiste em diluir a quantidade de dólar a ser comprada em várias operações, de modo a conseguir diferentes preços e evitar o risco de comprar tudo em uma semana de alta.