Saúde
Genes moldam nossa personalidade? Alguns cientistas ainda acreditam que sim
Genética e personalidade
Em mais um estudo controverso, em um campo inteiramente polêmico, cientistas garantem estar um passo mais perto de vincular a personalidade das pessoas aos seus genes.
Priya Gupta e colegas da Universidade de Yale, nos EUA, realizaram um estudo de associação genômica ampla para procurar variações genéticas, chamadas “locus”, associadas a cada um dos “Cinco Grandes” traços de personalidade: Extroversão, abertura, amabilidade, neuroticismo e conscienciosidade.
Reunindo dados de 700.000 indivíduos e um bocado de malabarismos estatísticos, a equipe acredita ter encontrado “alguns sinais” da conexão entre genética e traços de personalidade.
Ao comparar os resultados da avaliação de personalidade com a análise de variações no DNA dos participantes, os cientistas encontraram 62 loci associados ao neuroticismo e um loci para agradabilidade. Indo um pouco além na estatística, combinando seus próprios resultados com dados publicados anteriormente, eles realizaram uma meta-análise cuja conclusão aponta para cerca de 200 loci genéticos entre os cinco traços de personalidade.
Estima-se que o genoma humano contenha entre 20.000 e 25.000 genes codificadores de proteínas. Cada um desses genes ocupa um locus específico em um cromossomo.
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Insistência
Os resultados estão longe de serem conclusivos ou indicarem causalidade. Mas, se um dia alcançarem uma precisão digna de respeito, os cientistas terão chegado a uma das conclusões mais revolucionárias da ciência: A de que o homem é uma máquina, cujo comportamento é determinado por seus genes e, portanto, nada tem a fazer quanto a “tornar-se melhor”, “aperfeiçoar-se”, “evoluir como pessoa” ou qualquer outra meta desse tipo, que acompanham o ser humano intuitivamente desde o início dos tempos.
Curiosamente, a equipe responsável pela pesquisa reconhece isto: “Sua personalidade se adaptará e mudará ao longo do tempo, então há uma relação temporal que não estamos necessariamente capturando com a forma transversal que estamos observando a personalidade em nosso estudo. Só porque estamos encontrando essas variações genéticas não significa que essas são coisas que estão fadadas e que você não pode mudar em sua vida,” disse o professor Daniel Levey, coordenador da pesquisa.
Esse reconhecimento apenas torna mais difícil compreender o porquê da insistência nessa linha de pesquisa: “Estamos um passo mais perto desse processo de aumentar o tamanho da amostra para poder entender mais claramente quais variantes estão realmente relacionadas a esses traços de personalidade,” disse o próprio professor Levey.