Internacional
Em Dia Mundial, região das Américas celebra 30 anos sem poliomielite
Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, defende manter cobertura vacinal acima de 95% para impedir retorno do vírus; diretor da agência alerta que desinformação e desconfiança seguem afetando imunização em algumas áreas
A Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, celebrou nesta quinta-feira o 30º aniversário da erradicação da transmissão do poliovírus selvagem nas Américas.
O aniversário da certificação da OMS coincidiu com o Dia Mundial de Combate à Pólio, marcado neste 24 de outubro.
Preocupação com casos importados
Em 1975, foram relatados quase 6 mil casos de poliomielite nas Américas. Por meio de ações como vacinação infantil e esforços de vigilância, apoiadas pela Opas e parceiros, os governos da região conseguiram eliminar a doença.
O último caso de poliovírus selvagem foi detectado em setembro de 1991 no Peru. Em 1994, a região se tornou livre da enfermidade.
O diretor da Opas, Jarbas Barbosa, ressaltou que “alcançar um marco como este não é fácil. Envolve muito trabalho, comprometimento e tenacidade de milhares de profissionais de saúde, pesquisadores, parceiros e todas as pessoas responsáveis pela vacinação de seus filhos”.
Barbosa explica que até o poliovírus ser erradicado globalmente, será preciso manter “uma alta cobertura vacinal e vigilância adequada para detectar quaisquer casos de fora”.
O perigo da desinformação
A poliomielite é uma doença altamente contagiosa que afeta o sistema nervoso central, causando paralisia flácida aguda. Embora a maioria das infecções seja assintomática, em 1 em cada 200 casos, o vírus pode causar paralisia permanente nas pernas ou braços.
Globalmente, os casos de poliomielite diminuíram em mais de 99% desde 1988, quando cerca de 350 mil casos foram relatados em mais de 125 países.
Existem agora apenas dois países ainda endêmicos: Paquistão e Afeganistão. No entanto, o poliovírus não respeita fronteiras e pode afetar grupos de crianças não vacinadas ou subimunizadas, o que pode levar a surtos em outros locais.
O diretor da Opas alertou que a desinformação e a desconfiança “continuam afetando a cobertura vacinal em algumas áreas e populações” das Américas.
Um bebê recebe a vacina contra a poliomielite em uma clínica na Jamaica
Cobertura abaixo do recomendado
Segundo dados da agência, em 2023, cerca de 87% das crianças receberam a terceira dose da vacina contra a poliomielite necessária para a imunização completa. O número foi considerado um avanço em relação ao ano anterior, que registrou 83%, mas ainda está abaixo da taxa de cobertura recomendada.
Barbosa explicou que para evitar a volta do vírus, “é essencial continuar trabalhando para alcançar uma cobertura sustentada de mais de 95% em cada país”.
À medida que o mundo avança em direção à erradicação total da poliomielite selvagem, os esforços também estão cada vez mais focados em mitigar o risco de casos derivados da vacina.
Mutações
Em raras ocasiões, em populações com baixas taxas de vacinação o vírus vivo atenuado originalmente contido na vacina oral contra a poliomielite pode sofrer mutação e se tornar um poliovírus derivado da vacina circulante.
Esse vírus, ao se replicar no trato gastrointestinal, pode se espalhar pelas fezes e esgoto, circulando no ambiente e expondo indivíduos não vacinados, suscetíveis a contrair poliomielite.
O diretor da Opas pediu a todos os líderes comunitários, profissionais de saúde e educadores, entre outros, que se juntem ao esforço para erradicar a poliomielite e outras doenças evitáveis.
Barbosa disse que a data desta quinta-feira serve para promover a união e celebrar mais 30 anos livres da pólio selvagem nas Américas, reafirmando o compromisso com um mundo livre da doença.