ECONOMIA
Campos Neto: reconhecido como melhor banqueiro central pelo terceiro ano consecutivo
O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, acaba de ser premiado pela terceira vez consecutiva como o melhor banqueiro central da América Latina e do Caribe pela revista LatinFinance. Este reconhecimento é inédito, marcando uma série histórica para o Brasil e evidenciando o trabalho de Campos Neto à frente da política monetária nacional. O anúncio oficial do prêmio ocorreu na quinta-feira, 24 de outubro, e foi celebrado por Campos Neto como um triunfo coletivo.
Em sua declaração, Campos Neto destacou que a conquista do prêmio é resultado de um “esforço conjunto”, no qual cada servidor do Banco Central desempenhou um papel fundamental para alcançar as metas estabelecidas. Com a humildade que lhe é característica, declarou: “Esse prêmio é de todos nós. Muito obrigado.” Essa postura, aliada à sua firmeza em decisões monetárias, o colocou em evidência e foi decisiva para que ele se tornasse o primeiro presidente do Banco Central brasileiro a ser laureado três vezes seguidas pela LatinFinance.
Em meio ao reconhecimento, a comparação com outras lideranças econômicas da América Latina também foi evidenciada. Enquanto Campos Neto levava o prêmio de melhor banqueiro central, o título de melhor ministro das Finanças foi entregue a Luis Caputo, da Argentina, mostrando o olhar crítico e de avaliação que a LatinFinance adota na análise de gestão econômica dos líderes regionais. Em 2023, foi o próprio Fernando Haddad, ministro da Fazenda do Brasil, quem dividiu a homenagem com Campos Neto, destacando o papel brasileiro no cenário econômico continental.
A gestão de Campos Neto ficou marcada por uma série de ações decisivas, sobretudo em relação ao controle inflacionário e ao crescimento econômico. A revista enfatizou o “processo de desinflação” no Brasil, que conseguiu manter o crescimento econômico acima das expectativas de mercado, mesmo diante de um cenário de instabilidade global. A LatinFinance justificou a premiação, afirmando que “ele tem um plano para lidar com a inflação”, ressaltando a visão estratégica de Campos Neto frente a um dos maiores desafios econômicos do Brasil.
Campos Neto não apenas se destacou por sua habilidade técnica na gestão da inflação e do crescimento econômico, mas também por promover avanços tecnológicos significativos. Sob sua liderança, o Banco Central introduziu o sistema de pagamentos instantâneos, o PIX, em 2020. Esta inovação revolucionou o mercado financeiro brasileiro, tornando-se uma ferramenta essencial para o cotidiano da população e das empresas. Além do PIX, outros projetos de inovação foram colocados em prática, como o *open finance* — que visa ampliar a transparência e a concorrência no sistema financeiro — e o Drex, a moeda digital do real, que reforça o compromisso do Banco Central com a modernização do mercado financeiro.
A autonomia do Banco Central foi outro marco importante na gestão de Campos Neto. A autonomia foi consolidada com a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 65/2023, que transformou o Banco Central em uma entidade com maior independência, garantindo que as decisões da autoridade monetária não sejam influenciadas por pressões políticas imediatas. A PEC continua sob análise e enfrenta resistência de setores do governo Lula, o que demonstra o desafio que Campos Neto precisou enfrentar e que seu sucessor também encontrará.
Campos Neto deixará o cargo em dezembro de 2024, completando seu mandato de quatro anos em um momento de transição delicada para o Banco Central. Em janeiro de 2025, Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do Banco Central, assumirá o posto com mandato até 2028. Galípolo terá a responsabilidade de continuar com as políticas de inovação financeira e de fortalecimento da economia, sem perder de vista o controle da inflação, que ainda representa um dos maiores desafios econômicos do país.
Embora Campos Neto sejam amplamente respeitados por sua atuação, ele também enfrentou críticas vindas do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de aliados do governo. A divergência entre a política monetária adotada pelo Banco Central e a política fiscal defendida pelo governo federal gerou atritos, especialmente em um momento em que Lula e sua equipe econômica tentavam programar medidas mais voltadas para o crescimento econômico. As críticas, no entanto, não abalaram o compromisso de Campos Neto com a autonomia e a transparência do Banco Central.
A continuidade de sua gestão foi frequentemente vista como um ponto de equilíbrio e segurança para o mercado financeiro. Mesmo em face das críticas, Campos Neto manteve sua postura focada e resiliente, sustentando uma política que visava à estabilidade econômica e o fortalecimento do real. Sua saída em dezembro de 2024 marca o fim de uma era no Banco Central, mas o legado que ele deixa especialmente no que tange à independência institucional e à inovação tecnológica, será uma referência para futuros presidentes da autarquia.
A premiação da LatinFinance e a consagração de Campos Neto como líder financeiro representam um marco não só para sua carreira, mas também para o Brasil, que, por meio do Banco Central, vem ganhando destaque no cenário financeiro mundial. Essa série de reconhecimentos internacionais reforça a posição do país como uma potência econômica na América Latina e coloca a próxima administração de Galípolo sob os holofotes, com grandes expectativas sobre o futuro do Banco Central e suas próximas direções na condução da política monetária brasileira.