Politíca
Hugo Motta alia-se a PT e PL em votações decisivas e desponta como favorito à presidência da Câmara
Deputado alterna apoios entre governo e oposição em temas econômicos e de costumes, consolidando-se como o principal nome para suceder Arthur Lira
Por Roberto Tomé
O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) tem se destacado como o principal candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados. A versatilidade de Motta em votações de grande relevância o colocou sob os holofotes. O parlamentar paraibano votou segundo o PT em 53,8% das pautas prioritárias para o governo Lula, enquanto se alinhou ao PL, partido de Jair Bolsonaro, em 46,2% das vezes, revelando um perfil que transita entre as demandas governistas e as da oposição.
Em temas de “pauta de costumes”, Motta costuma seguir posições mais conservadoras, tradicionais entre aliados do PL. Ele, por exemplo, votou para derrubar o veto presidencial ao trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que proibia o uso de verbas públicas em ações relacionadas ao aborto e transição de gênero — uma posição contrária ao governo Lula.
No entanto, o alinhamento de Motta ao governo é evidente nas questões econômicas, prioridade para o Planalto. Em todas as seis votações de interesse econômico do governo federal, incluindo temas como a recriação do seguro obrigatório DPVAT e a reforma tributária, Motta votou conforme as diretrizes governistas, sinalizando seu compromisso com a agenda econômica do Executivo.
A candidatura de Motta ganhou força com o apoio formalizado por Arthur Lira e a adesão de oito partidos, consolidando sua posição de favorito. Após o recuo de Elmar Nascimento (União Brasil-BA), que ficou isolado na disputa após seu partido direcionar apoio a Motta, a candidatura do deputado paraibano se tornou ainda mais sólida. Na terça-feira (29), Lira oficializou o apoio ao seu nome, o que atraiu as legendas PSB e PDT, que devem anunciar formalmente seu endosso a Motta ainda nesta semana.
Apesar da ampla adesão ao nome de Hugo Motta, ainda há resistência na disputa. Antonio Brito (PSD-BA) é outro candidato que permanece na corrida pela presidência da Câmara. Brito conta com o apoio do presidente de seu partido, Gilberto Kassab, e busca consolidar sua base entre deputados de diferentes setores políticos. Em reunião no último sábado (2), Brito e Nascimento discutiu a viabilidade de sua candidatura e a construção de um consenso, em um movimento que visa conquistar deputados de centro, direita e esquerda.
O PSD ainda não bateu o martelo sobre a continuidade de Antonio Brito na disputa. Nesta segunda-feira (5), a bancada do partido na Câmara dos Deputados se reúne para definir os próximos passos. Kassab e outros líderes da legenda ponderam os riscos de uma derrota na eleição para a presidência da Câmara, o que poderia comprometer o espaço do PSD na Mesa Diretora. Brito pretende negociar com cautela os termos de sua candidatura para evitar um revés que enfraqueça a posição do partido na Casa.
A corrida pela presidência da Câmara promete ser um reflexo dos desafios de articulação política no atual cenário nacional, onde as pautas de costumes e economia polarizam as alianças partidárias. Motta, ao se equilibrar entre interesses de governo e oposição, projeta-se como o candidato do consenso, mas enfrentará a persistente resistência de candidatos como Antonio Brito.