Educação & Cultura
Lançamento de livro paraibano no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Imagine um crítico de cinema na periferia do Brasil subdesenvolvido dos anos 1950/60, escrevendo diariamente e que disserta sobre o “jovem Kubrick”, nouvelle vague e seus ícones, cineastas do neorealismo italiano, além de exibir sintonia fina com o zeitgeist latino-americano (via Fernando Birri, revolução cubana e a criação do ICAIC), e que elege O Pátio, primeiro curta-metragem de Glauber Rocha como um primor do experimentalismo só concebido pelo baiano à época, no Brasil, segundo ele. Então, esse personagem singular e originalíssimo se chama Linduarte Noronha (1930-2012), diretor do seminal Aruanda (1960), içado pelo mesmo Glauber Rocha como filme que introduziu sangue novo, instituindo as bases do “moderno documentário brasileiro” em artigo publicado no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil na época.
Linduarte Noronha foi radialista, jornalista, fotógrafo e crítico de cinema nos anos 1950-1960 no centenário jornal A União (1893-2023), ainda em circulação no formato impresso na Paraíba. O professor da UFPB, documentarista e diretor do Fest Aruanda, Lúcio Vilar, é o organizador da obra, tendo se debruçado sobre mais de novecentos textos escritos e publicados no diário paraibano para chegar à seleção de sessenta e quatro textos que ganham lume agora com sua publicação no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
LUZ, CINEFILIA… CRÍTICA! – Arqueologia e Memória do Crítico Linduarte Noronha, Jornal A União, Anos 1950 – 1960 |
Quando: dia 02 de dez. |
Horário: 19h00 – Valor: 60,00 |
Local: Na área anexa do Cine Brasília |
A ideia se transformou em projeto de Pesquisa na UFPB e foi abraçado pela Empresa Paraibana de Comunicação (EPC) e o Iphaep, com selo da Editora A União, e deverá seguir circuito de lançamentos por festivais de cinema e universidades brasileiras em 2025. Trata-se de uma coletânea primorosa de escritos de setenta anos atrás que vêm, devidamente acompanhada, de olhares e releituras feitas por colaboradores do naipe do crítico Luiz Zanin Oricchio (ESTADÃO), João Batista de Andrade (cineasta), Maria do Rosário Caetano (Revista de Cinema), Marília Franco (ECA-USP), João Batista de Brito (UFPB), Fernando Trevas Falcone (UFPB) e Rodrigo Fonseca (Correio da Manhã).
RUY GUERRA
Quem teve acesso ao projeto antes mesmo de se consumar, foi uma lenda viva do cinema nacional e latino-americano: Ruy Guerra. Cineasta luso-brasileiro (diretor de “Os Fusis”, “Os Cafajestes”, “Quarup” e tantos outros filmes premiados), assim se pronunciou sobre o projeto editorial de A União, sendo ele próprio objeto de uma das críticas publicadas por Linduarte Noronha na década de 1960:
“Esse livro não deveria estar apenas nas escolas, mas ser leitura obrigatória da história cultural do Brasil, assim como ser bem discutido, falado, lembrado, porque são essas lacunas que a gente tem na Cultura que está muito atrasada em relação ao país. O Linduarte Noronha tem abrangência maior do que a gente sabe dele”.
SOBRE O AUTOR-ORGANIZADOR
LÚCIO VILAR
Jornalista, produtor audiovisual, documentarista e docente da Universidade Federal da Paraíba (Mídias Digitais-CCHLA). Tem Mestrado e Doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) pelo Programa de Pós-Graduação Meios e Processos Audiovisuais, com foco na participação paraibana no contexto do cinema silencioso brasileiro dos anos 1920.
Como documentarista, roteirizou e produziu em curta-metragem: Pastor de Ondas (2003); O menino e a bagaceira (2004); Aruandando (2005); Camará – O que sei contar é isso! (2007); O fio da memória (2008) e Kohbac – A maldição da câmera vermelha (2009); em média-metragem: DOC Correio, 60 anos e O Homem é Pedro! (perfil sobre o ex-governador paraibano Pedro Gondim). Autor do livro Janelas da Sedução Cotidiana (sua Dissertação de Mestrado); é coorganizador da coletânea Menino de Engenho – 40 anos depois (2007); idealizou e fundou em 2005 o Fest-Aruanda do Audiovisual Brasileiro que esse ano chega à sua décima nona edição, em João Pessoa-PB.
Em fase de pré-produção, dirige atualmente seu primeiro longa-metragem intitulado O Homem por Trás do Cinema Novo, com previsão de lançamento em dezembro de 2025.