Internacional
O “Bolsonaro” argentino: a missão de Javier Milei para resgatar uma nação em ruínas
Por Roberto Tomé
O palco argentino virou espetáculo. Javier Milei, com seus discursos inflamados e cortes de gastos que fariam Adam Smith aplaudir, colocou a nação em um laboratório econômico cheio de experimentos polêmicos. A Argentina virou manchete, mas será que o show é mesmo de soluções ou só mais uma promessa? Proponho desmontarmos esse quebra-cabeça.
Comecemos com a moeda. A proposta de dolarização de Milei soa como um grito de desespero para muitos economistas. A ideia é enterrar o peso, uma moeda tão desvalorizada que já virou piada, e adotar o dólar como salvação. Mas isso é só para economias com dinheiro sobrando, não para um país com cofres vazios. Sem reservas suficientes, dolarizar significa abrir mão de ferramentas básicas de controle econômico. Traduzindo: se a inflação explodir, adeus, opções. Parece remédio para a febre que pode causar infarto.
Outro alvo de Milei foi o Banco Central. Acabar com a instituição parece promissor no papel. Ele acusa a entidade de ser o motor da inflação. Só que sem um banco central, quem regula? Quem cria políticas para crises futuras? É como tirar o árbitro de uma partida de futebol e esperar um jogo justo. A crítica é válida, mas o caminho proposto soa mais como vendaval do que solução.
Os cortes nos gastos públicos são o coração da agenda do presidente. Austeridade extrema. Do ponto de vista fiscal, ele conseguiu um superávit. Parece bom certo? Mas o custo é altíssimo. Subsídios, que eram a tábua de salvação de muitos, desapareceram. Quem paga a conta? O pobre, sempre ele. O superávit pode ser uma medalha para Milei, mas é um pesadelo para quem depende de serviços básicos.
E o Brasil? O impacto dessa onda argentina já chega ao parceiro comercial. Apesar das diferenças ideológicas, Lula e Milei precisam se entender. O comércio entre os países é vital. Mas será que o pragmatismo vencerá a polarização? Por enquanto, parece que sim, com diálogo mantido, mesmo que o tom seja de desconforto.
O futuro de Milei e da Argentina dependerá de uma equação complexa. Se as reformas estabilizarem a economia, ele será celebrado como herói. Se não, a instabilidade social pode transformar seu governo em tragédia. O risco de exclusão social cresce a cada decisão controversa.
No fim das contas, Milei é o reflexo de um país exausto de promessas vazias. Ele é polêmico, ousado, mas arrisca errar feio. A Argentina virou um teste vivo de até onde o ultraliberalismo pode ir em tempos modernos. A dúvida é: a conta fecha ou explode?