Segurança Pública
Exército destoa da Marinha e Aeronáutica e quebra tradição de publicar mensagem de fim de ano do Comandante às tropas: Até agora, Força só postou animação de 10 segundos
Em 2023 a mensagem foi publicada no dia 15/12, em 2022 no dia 24/12 e em 2021 no dia 21/12
O Exército, pelo menos até às 21h25 do dia 28 de dezembro de 2024, ainda não postou publicamente a tradicional mensagem de final de ano do seu Comandante. No dia 23 de dezembro foi postada apenas uma animação de 10 segundos nas redes sociais com a legenda: “O Exército Brasileiro deseja a todos um Feliz Natal e Próspero Ano Novo!”.
Em 2023, a mensagem foi publicada no dia 15 de dezembro pelo General de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva. Em 2022, o então Comandante da Força Terrestre, General Freire Gomes, divulgou a mensagem no dia 24 de dezembro. Em 2021, a publicação foi no dia 21 de dezembro.
Com a atitude, o Exército destoa das outras 2 Forças.
A Marinha divulgou a mensagem do Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen em 22 de dezembro, traumatizada pela repercussão negativa do vídeo de 1º de dezembro ironizando privilégios que quase custou a cabeça do seu Comandante. Na mensagem postada no YouTube, Olsen ressaltou que os feitos de 2024 atestam a centralidade da Força Naval para o desenvolvimento nacional.
“Cada adestramento efetivado, obstáculo vencido e missão cumprida compõe a narrativa de uma força que não esmorece ante as exigências impostas pelo ambiente nacional, reafirmando o papel preponderante na salvaguarda dos interesses do Estado no mar”.
A Aeronáutica divulgou a mensagem de fim do ano do Comandante um dia depois, em 23 de dezembro. Entre muitos agradecimentos e citações de momentos importantes de 2024, o Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno dedicou importante espaço do vídeo de 07:30 para falar sobre o programa espacial brasileiro.
“Por intermédio da criação da empresa Alada, formularemos as condições mais propícias para impulsionar o Programa Espacial Brasileiro, em harmonia e em sincronia com a Agência Espacial Brasileira [AEB] e o Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais]. Bem assim promoveremos desenvolvimento do complexo espacial brasileiro, revelando grandes saltos tecnológicos e capacidades que permitirão ampliar nossos horizontes na direção do espaço por meio do desenvolvimento do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Natal (RN), e do Centro de Lançamento de Alcântara no Maranhão”.
Exército enfrenta crise de imagem
Um dos motivos de o Exército ainda não ter divulgado a mensagem do Comandante, ou de ignorar completamente a tradição, é a crise de imagem enfrentada pela instituição, nítida na polarização de comentários disponíveis nas redes sociais da Força.
É por isso que o Comandante Tomás Paiva encomendou uma pesquisa de R$ 717 mil para tentar descobrir o direcionamento e as tendências da opinião pública em relação a temas relevantes para o Exército, como, por exemplo, o emprego das Forças Armadas em operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
O Exército justifica a pesquisa argumentando que, em uma sociedade cada vez mais influenciada pela informação, a narrativa pode ser considerada um ponto decisivo nas operações militares e o terreno informacional passa a ser tão importante quanto o físico e o humano.
Falta de confiança nas Forças
O histórico dos últimos meses aponta descrença da sociedade em relação não só ao Exército, mas às Forças Armadas em geral.
A desconfiança da população em relação a Exército, Marinha e Aeronáutica está em tendência de alta desde 2017 segundo o Datafolha. A última pesquisa, divulgada pelo instituto em 18 de dezembro, mostra que 24% dos entrevistados disseram não confiar nas Forças Armadas. Esse percentual era de apenas 15% há 5 anos atrás.
Para João Roberto Martins Filho, professor da UFSCar e um dos maiores especialistas do país no pensamento político da caserna, a dubiedade causada pelo possível envolvimento dos militares em tentativa de golpe e, ao mesmo tempo, a falta de apoio a ele por parte dos Comandantes do Exército e da Aeronáutica, contribui para atrair a rejeição dos 2 lados do jogo político.
“Hoje vemos democratas perdendo a confiança nas Forças por causa dessas notícias todas, e ao mesmo tempo bolsonaristas insatisfeitos com elas por não terem interferido”.
Martins Filho aponta ainda o envolvimento dos militares na política como outro grande motivador dessa crise de confiança por parte da sociedade.
“Na medida em que os militares decidem entrar na política, entram numa área de risco, porque a política é um ambiente de conflito. No governo Bolsonaro, a imagem foi sendo desgastada por vários episódios, porque eles assumiram um protagonismo em várias posições”.