Segurança Pública
Preocupado com sua imagem, Exército contrata pesquisa de R$ 717 mil pra consultar cidadãos sobre temas relevantes: Brasileiros podem estar menos propensos a aceitar uso de militares em solução de conflitos, como GLOs
O Exército justifica a pesquisa argumentando que, em uma sociedade cada vez mais influenciada pela informação, a narrativa pode ser considerada um ponto decisivo nas operações militares
O Comandante do Exército, General Tomás Paiva, determinou a contratação de 3 pesquisas no valor de R$ 717 mil reais para levantar o direcionamento e as tendências da opinião pública em relação a temas relevantes para a Força Terrestre. As informações foram reveladas pela Veja na última sexta-feira, 27 de dezembro.
Segundo a publicação, um dos objetivos é analisar o emprego de contingentes militares em operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), como a que aconteceu no Rio de Janeiro.
O Exército acredita que a opinião pública está menos propensa a aceitar o emprego das Forças Armadas pelo Estado em situações que haja possibilidade de prejuízos de natureza humana e material.
“Tão importante quanto a legalidade e o aspecto formal da legitimidade do emprego de forças militares é a percepção do que a sociedade e a população local da área de operações têm sobre o emprego de forças militares numa operação, pois a opinião pública, tanto nacional quanto internacional, pode estar menos propensa a aceitar o emprego da Força para a solução de antagonismos”.
O Exército justifica a pesquisa argumentando que, em uma sociedade cada vez mais influenciada pela informação, a narrativa pode ser considerada um ponto decisivo nas operações militares e o terreno informacional passa a ser tão importante quanto o físico e o humano.
Falta de confiança nas Forças
O histórico dos últimos meses apontam descrença da sociedade em relação às Forças Armadas.
O índice de desconfiança da população em relação a Exército, Marinha e Aeronáutica está em tendência de alta desde 2017 segundo o Datafolha. A última pesquisa, divulgada pelo instituto em 18 de dezembro, mostra que 24% dos entrevistados disseram não confiar nas Forças Armadas. Esse percentual era de apenas 15% há 5 anos atrás.
No lado positivo da balança, a plena confiança nas Forças Armadas está em 34%. É o melhor índice entre as instituições, considerando imprensa, STF (Supremo Tribunal Federal), grandes empresas, Ministério Público e Congresso. Mas esse número já foi de 45% em 2018.
O possível envolvimento de militares de alta patente na suposta tentativa de golpe de Estado que está sendo investigada pela Polícia Federal, o vídeo da Marinha, as fraudes no sistema de pensão e a conduta de agentes em redes sociais são outros fatores que podem estar deixando a relação nociva, segundo especialistas ouvidos pelo jornal O Globo.
Para João Roberto Martins Filho, professor da UFSCar e um dos maiores especialistas do país no pensamento político da caserna, a dubiedade causada pelo possível envolvimento dos militares em tentativa de golpe e, ao mesmo tempo, a falta de apoio a ele por parte dos Comandantes do Exército e da Aeronáutica, contribui para atrair a rejeição dos 2 lados do jogo político.
“Hoje vemos democratas perdendo a confiança nas Forças por causa dessas notícias todas, e ao mesmo tempo bolsonaristas insatisfeitos com elas por não terem interferido”.
Martins Filho aponta ainda o envolvimento dos militares na política como outro grande motivador dessa crise de confiança por parte da sociedade.
“Na medida em que os militares decidem entrar na política, entram numa área de risco, porque a política é um ambiente de conflito. No governo Bolsonaro, a imagem foi sendo desgastada por vários episódios, porque eles assumiram um protagonismo em várias posições”.
Múcio coloca comunicação institucional como estratégia
Apontado como hábil político, gestor e conciliador, o ministro da Defesa José Múcio Monteiro, que pode estar prestes a deixar o governo, parece saber o quanto é necessário o fortalecimento e laços de confiança e de respeito mútuos entre civis e militares e também o quanto seria essencial o apoio público para blindar os militares em discussões como a inclusão nos cortes de gastos públicos e tesouradas na Defesa e apoiá-los em lutas como mais investimentos em setores estratégicos e melhoria da atratividade da carreira militar, já muito combalida.
No Planejamento Estratégico Setorial de Defesa 2024-2035, dedicou inteiramente um capítulo a fortalecer a imagem institucional das Forças Armadas.
Segundo o material, na próxima década a Defesa vai ampliar a interação com a Administração Pública e os formadores de opinião (como jornalistas e influenciadores), de maneira a disseminar melhor as atividades realizadas e maior compreensão dos temas da defesa nacional, ampliar a interação com a sociedade, aperfeiçoar a comunicação estratégica institucional e a qualidade de informação a ser prestada à sociedade, divulgar a cultura e os valores institucionais das Forças Armadas, entre várias outras iniciativas.