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Márcio Pochmann na Berlinda: IBGE Vira Campo de Batalha Política e Estatísticas Entram na Linha de Tiro
O presidente do IBGE, Márcio Pochmann, parece ter uma vocação para acender debates acalorados. Em uma publicação no X, ele declarou que “a democracia falece na escuridão sem estatísticas oficiais”. Uma frase forte, mas que rapidamente transformou o chefe do instituto no alvo principal de críticas vindas de todas as direções.
Ele defendeu que atacar os números do IBGE enfraquece a democracia, argumentando que vivemos em uma era onde as pessoas estão sobrecarregadas de informações, mas incapazes de compreender a realidade. “O iletramento digital é o grande desafio do nosso tempo”, afirmou. Bonito no papel, mas será que isso convence quem já olha para Pochmann com desconfiança?
Conforme o IBGE, o desemprego caiu para um recorde de 6,1%. Impressionante, não? Mas tem quem diga que isso é apenas ilusão de ótica. Críticos acusam o instituto de ajustar critérios metodológicos convenientemente para “embelezar” os números. E não são apenas políticos fazendo barulho; economistas independentes também levantam a sobrancelha diante desses resultados.
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) já está na cola de Pochmann, ameaçando abrir uma CPI para investigar o que ele chama de “manipulação de dados”. Segundo ele, os números são fabricados para contar uma história que favorece o governo. “O IBGE não pode virar um braço de propaganda política”, disparou.
E o buraco é mais fundo. Alterações recentes nas métricas de pobreza e desemprego geraram discrepâncias gigantescas quando comparadas a medições anteriores. Economistas apontam que parte da melhora no mercado de trabalho, por exemplo, pode ser explicados por reformas feitas anos atrás, como a trabalhista de 2017. Isso sem falar nos bilhões em gastos públicos do governo atual, que injetaram ânimo temporário na economia.
Pochmann não é exatamente um nome consensual. Quando foi escolhido para comandar o IBGE pelo governo Lula, muita gente já torceu o nariz. Sua passagem pelo IPEA foi repleta de polêmicas. Ele é visto como alguém mais alinhado com agendas partidárias do que com a neutralidade técnica que se espera de quem lidera um órgão tão estratégico.
E as coisas não melhoraram desde então. Recentemente, ele propôs uma “nova relação do IBGE com a imprensa e a sociedade”. Parece inofensivo, mas essa ideia gerou um rebuliço. Martha Mayer, ex-diretora do IBGE, foi direta: “As referências de Pochmann, como a China, são um péssimo exemplo para a transparência de dados públicos”. E ela não está sozinha.
A China, vale lembrar, decidiu simplesmente parar de divulgar as taxas de desemprego juvenil em 2023, sob a justificativa absurda de que “dados ruins não devem ser divulgados”. Mayer foi categórica: “Isso não é o tipo de modelo que queremos no Brasil”.
A questão aqui não é apenas técnica, mas profundamente política. O IBGE é uma instituição vital para qualquer país. Sem dados confiáveis, como planejar políticas públicas, atrair investidores ou medir o progresso nacional? O problema é que, no cenário atual, o instituto virou campo de batalha entre esquerda e direita, com a credibilidade pendurada por um fio.
Enquanto isso, Pochmann segue firme no discurso de que estatísticas são essenciais para a democracia. Ninguém discorda disso. Mas a pergunta que fica no ar é: como o IBGE pode recuperar a confiança pública, se a cada passo dado, sua liderança parece mais comprometida com ideologias do que com a verdade dos números?
Se Pochmann quiser sair desse tiroteio político, vai precisar provar que está acima de qualquer viés partidário. Porque, no fim das contas, o que está em jogo não é apenas a reputação dele, mas a de uma das instituições mais importantes do Brasil.