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Comunicação, Centrão e menos espaço para o PT: o que esperar da reforma ministerial de Lula
Depois das diversas crises e embates com o Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende dar uma “nova cara” para o governo por meio da distribuição de cargos na Esplanada dos Ministérios a partir do ano que vem. O rearranjo, que deve começar por mudanças na Secretaria de Comunicação (Secom), pode diminuir o espaço do PT para que outros partidos do Centrão ocupem mais postos na gestão petista.
A velha estratégia dos governos petista visa amarrar o apoio de partidos como União Brasil, PSD e MDB para os próximos dois anos de mandato de Lula. Além disso, a expectativa é de que outras legendas do Centrão – como o PP, o Republicanos e o Podemos – também ganhem mais espaço por meio da reforma ministerial.
As discussões sobre as necessidades de mudanças nas alianças do governo ganharam força dentro do Planalto depois das eleições municipais, quando os partidos de centro foram os principais vencedores da disputa. O PT de Lula, por exemplo, elegeu apenas 252 prefeitos e ficou atrás de siglas como PSD (891); MDB (864) e PP (752).
A avaliação de líderes governistas é de que Lula precisa dar um “cavalo de pau” para tenta viabilizar sua reeleição ou a candidatura de um aliado para 2026, ou seja, adotar ações rápidas e que gerem impacto positivo para o governo. Levantamento do Datafolha de 18 de dezembro mostrou que, ao fim de dois anos desta gestão, o petista tem 35% de aprovação contra 34% de reprovação, enquanto a avaliação regular é de 29%.
Na comparação com a pesquisa anterior, em outubro, a aprovação caiu 1 ponto percentual, enquanto a reprovação cresceu 2 pontos. A pesquisa mostra, ainda, uma queda na avaliação positiva desde o começo do governo, quando a aprovação de Lula no Planalto era de 38%, com reprovação de 30% e regular de 29%.
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Reforma ministerial deve diminuir o espaço do PT na Esplanada
As substituições no governo já foram tratadas pelo presidente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e outros aliados mais próximos. Para contemplar os novos aliados, Lula estuda, por exemplo, mexer nas pastas atualmente comandas pelo PT e em áreas vistas como problemáticas para o Executivo.
O partido de Lula conta atualmente com 13 ministérios, mas ainda não há confirmação sobre quais serão os cortes. A formalização das trocas está prevista para o começo do ano que vem e ainda se discute qual será a estratégia para o anúncio da “dança das cadeiras”.
A Secretaria de Comunicação (Secom), atualmente comandada por Paulo Pimenta, pode ser a primeira mudança confirmada pelo Planalto. A expectativa é de que Pimenta, um dos quadros do PT na Esplanada, deixe a pasta para que o marqueteiro Sidônio Palmeira promova uma mudança na comunicação do governo até 2026.
A movimentação abriu uma disputa dentro do partido de Lula, pois uma das possibilidades seria colocar Pimenta na Secretaria-Geral da Presidência (Segov), atualmente comandada pelo também petista Márcio Macêdo.
O ministro foi criticado por Lula em algumas oportunidades devido a alguns eventos esvaziados com a participação do presidente. Cabe a Macêdo fazer a articulação com militantes e movimentos sociais em eventos da presidência.
Alvo de fogo amigo dentro do próprio PT, o ministro já havia dito que não sabia que “tinha inimigos” dentro do governo. “Eu achava que não tinha inimigo. Depois, eu descobri que tem um monte. Eu acho que isso é do processo da política. Tem em todos nós. Tem gente que, com certeza, no seu trabalho, vai querer lhe desgastar”, disse Macêdo.
Outra pasta comandada pelo PT que pode ter mudanças é a do Desenvolvimento Social, já que a saída de Wellington Dias é uma das possibilidades de mudanças na Esplanada. Uma das alternativas seria colocar a deputada Gleisi Hoffmann no comando do ministério, caso ela aceite antecipar a sua saída da presidência do PT. Já Wellington Dias é visto como uma possibilidade de reforço para o governo no Senado, já que o atual ministro é senador licenciado.
Lula quer mudanças nas lideranças do governo no Congresso
Outro petista alvo das mudanças discutidas no Planalto é Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais e responsável pela articulação com o Congresso. Um dos cotados para o posto seria o ministro Alexandre Silveira, atual ministro de Minas e Energia, um dos principais quadros do PSD.
Aliados do governo defendem que a entrada de Silveira na articulação política poderia ampliar o apoio a Lula dentro dos partidos do Centrão. O atual ministro coordenou a campanha do PT em Minas Gerais em 2022 e é visto como um dos principais aliados do petista na atual gestão.
“O Alexandre foi o achado que eu tive na campanha eleitoral. Eu nem conhecia muito o Alexandre. Quando eu vim aqui a primeira vez, eu não quis nem fazer discurso citando o nome dele. Então você sabia como era preconceituoso. Aí tivemos uma conversa, conversamos e aí o Alexandre hoje é um ministro mais atuante e muito competente”, disse Lula recentemente em Belo Horizonte.
Paralelamente, também é esperado que Lula faça mudanças nas lideranças do governo no Congresso e na Câmara, atualmente ocupadas por Randolfe Rodrigues (PT-AP) e José Guimarães (PT-CE), respectivamente. Além de integrantes do próprio partido do presidente, parlamentares dos partidos do Centrão poderão ser contemplados com esses postos a partir do ano que vem.
Mais espaço para os partidos do Centrão dentro da Esplanada dos Ministérios
Além das mudanças, envolvendo o próprio PT, a expectativa é de que a reforma ministerial contemple ainda mais os partidos do Centrão. Atualmente, PSD, União Brasil e MDB contam com três ministérios cada.
No caso do PSD, além das pastas de Minas e Energia, da Agricultura e da Pesca, o partido pode ser contemplado com a indicação do atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), para o Ministério da Justiça. A pasta atualmente é comandada por Ricardo Lewandowski, que poderia ser transferido para a pasta da Defesa, já que o ministro José Múcio Monteiro tem indicado que estaria “cansado” e já teria cumprido sua missão de pacificar a relação do governo com as Forças Armadas.
Uma ala do PSD considera, neste momento, natural a adesão ao projeto de reeleição de Lula e que o partido pode encabeçar os palanques dos petistas no Rio de janeiro e em Minas Gerais. Por outro lado, o grupo descontente com o governo, formado principalmente por parlamentares do Sul e do Sudeste, pode ganhar argumentos para se alinhar à oposição em 2026, se não receber espaço na Esplanada.
Outros partidos como MDB, União Brasil, PP, Republicanos e Podemos também estão nos cálculos do governo para o novo rearranjo desenhado por Lula. A pasta mais cortejada por esses partidos é a do Ministério da Saúde, pois detém um dos maiores orçamentos do Executivo.
Além de Pacheco na Justiça, o nome do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também é ventilado como um dos cotados para integrar a Esplanada depois da sua aproximação com o Planalto nos últimos meses. Lula, no entanto, só deve confirmar essas mudanças a partir de fevereiro do ano que vem, após as mudanças nas presidências do Senado e da Câmara.
“As coisas vão acontecendo porque você estabelece capacidade de conversação, quando tomei posse, o Lira era meu inimigo, hoje o Lira é meu amigo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, era meu inimigo, hoje ele é meu amigo”, admitiu Lula durante evento no mês passado.