ECONOMIA
Gabriel Galípolo e a Bomba-Relógio do Banco Central
Gabriel Galípolo está no olho do furacão. Novo presidente do Banco Central, ele assume um barco que já estava fazendo água antes de ele subir a bordo. O cenário? Inflação teimosa, dólar fugindo do controle, dívida pública nas alturas e uma plateia dividida entre governo, mercado financeiro e o resto do Brasil, que só quer sobreviver ao fim do mês. Boa sorte, Galípolo, você vai precisar.
Ninguém ficou exatamente surpreso com o nome de Galípolo. Afinal, o cara já era diretor de política monetária e tinha experiência o suficiente para não tropeçar no caminho até a cadeira de chefe. Mas, vamos ser sinceros, não dá pra ignorar que ele é um queridinho do PT, alguém que já escreveu críticas afiadas ao capitalismo e está mais para estrategista do que tecnocrata.
Isso incomoda principalmente o mercado. E quando o mercado começa a torcer o nariz, a coisa desanda. Foi só Gleisi Hoffmann abrir a boca e detonar o Banco Central — “está desancorado da realidade”, disse ela — que o sinal vermelho acendeu. Pra completar, Lula também não economizou palavras e lascou que o problema do Brasil são os juros altos. Galípolo, querido, tá na hora de você provar que não é apenas mais uma peça no tabuleiro do Planalto.
Se Galípolo dormiu bem na primeira noite como presidente do BC, ele é um herói. A inflação tá ali, dançando nos 5%, e a taxa Selic foi empurrada para 12,25%, com previsão de escalar ainda mais. Dá pra imaginar o peso de segurar o dólar, que bateu 6,30 reais em novembro, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentava um pacote fiscal que mais parece um remendo em pano velho.
E não para por aí. A dívida pública flerta com 80% do PIB. É tipo aquele cartão de crédito estourado que você continua usando porque precisa, mas sabe que a fatura vai chegar e vai doer. Só que aqui, a “fatura” significa desconfiança geral do mercado e a real possibilidade de o Brasil tomar um tombo feio.
Se você acha que isso é novidade, pense de novo. Lembra de 1999, quando o câmbio fixo colapsou e a Selic foi parar em 45%? Ou de 2002, quando o dólar pirou com medo do primeiro mandato de Lula e a taxa de juros disparou para 26%? Pois é, o Brasil adora repetir capítulos desse livro trágico. Mas, desta vez, o enredo é outro. Não é só o câmbio ou as eleições. É uma dívida monstruosa combinada com políticas fiscais desastrosas e uma liderança que precisa se provar urgentemente.
O Banco Central não é pra amadores, e Galípolo sabe disso. O mercado quer independência, rigor técnico e, acima de tudo, confiança. O governo, por outro lado, quer juros baixos e um pouco de alívio fiscal. No meio disso tudo, estamos nós, esperando que o pão e o arroz não fiquem ainda mais caros.
O desafio de Galípolo não é só econômico, é político. Ele vai ter que dançar conforme a música, agradar os dois lados e, quem sabe, surpreender. Se ele conseguir, será lembrado como o homem que segurou as pontas no momento mais crítico. Se não, bem… A cadeira de presidente do BC tem rodinhas por um motivo.