Internacional
Violência de gangues no Haiti matou mais de 5,6 mil pessoas num ano
Escritório de Direitos Humanos documentou 315 linchamentos de membros de gangues e pessoas supostamente associadas; pelo menos 281 casos de alegadas execuções sumárias envolveram unidades policiais especializadas
Mais de 5,6 mil pessoas foram mortas pela violência de gangues em 2024 no Haiti, segundo dados das Nações Unidas.
O alto comissário para os Direitos Humanos, Volker Turk, destacou que “estes números não são suficientes para explicar os horrores absolutos perpetrados” no país caribenho.
Centenas de linchamentos
Um dos episódios mais mortíferos e chocantes resultou recentemente na morte de pelo menos 207 pessoas após a intervenção de membros do grupo armado Wharf Jeremie em dezembro, no município de Cité Soleil, em Porto Príncipe.
Turk disse estar claro já há muito tempo que prevalecem no país a impunidade para as violações e os abusos
Muitas dessas vítimas eram idosos acusados de causar a morte do filho do líder dessa formação através de supostas práticas de vodu. Para eliminar as provas, membros da gang mutilaram e queimaram grande parte dos corpos e outros foram jogados ao mar.
No total, foram documentados 315 linchamentos de integrantes desses grupos e de pessoas supostamente associadas a gangues. Em algumas ocasiões, os atos foram supostamente facilitados por agentes policiais haitianos.
Somente no ano passado houve um total de 281 casos de alegadas execuções sumárias envolvendo unidades policiais especializadas.
Agentes alegadamente envolvidos em violações
Turk disse estar claro já há muito tempo que prevalecem no país a impunidade para as violações e os abusos dos direitos humanos, bem como a corrupção as quais ele considera os principais motores da crise multidimensional que o país enfrenta. A esta situação juntam-se as desigualdades económicas e sociais enraizadas.
Pelo menos 207 pessoas morreram após a intervenção de membros do grupo armado Wharf Jeremie em dezembro
Para o chefe de Direitos Humanos, as autoridades haitianas precisam empreender esforços, com o apoio da comunidade internacional, para abordar essas causas profundas.
Ele sublinhou que a restauração do Estado de direito deve ser uma prioridade, um propósito que requer assistência logística e financeira para que seja cumprido o mandato da Missão Multinacional de Apoio à Segurança, MSS, apoiada pela ONU no Haiti.
Outra recomendação é que a Polícia Nacional, junto à comunidade internacional, também reforce o seu mecanismo de supervisão para responsabilizar os seus agentes alegadamente envolvidos em violações dos direitos humanos.