ECONOMIA
Governo Lula recua: Pix agora tem “blindagem contra Fake News” ou mais confusão?
Por Roberto Tomé
O governo Lula jogou a toalha diante da intensa pressão e recuou na ideia de monitorar transações financeiras via Pix. Não foi uma decisão voluntária, longe disso. Foi à repercussão negativa, como um tsunami de críticas, que obrigou o Planalto a rever sua posição. Afinal, não tem como brigar com a opinião pública e sair ileso.
A Receita Federal tinha publicado uma norma exigindo que carteiras digitais e maquininhas de cartão reportassem transações acima de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para empresas. A justificativa? Melhorar a fiscalização e fechar o cerco contra sonegadores. Parece bonito no papel, mas a história pegou fogo quando surgiram boatos de que o governo poderia, em breve, taxar o Pix. As redes sociais explodiram, e a narrativa virou um campo minado.
Para tentar apagar o incêndio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o chefe da Receita, Robinson Barreirinhas, convocaram uma coletiva de imprensa. Prometeram uma Medida Provisória para reforçar o sigilo bancário e garantir que o Pix continue gratuito para pessoas físicas. Haddad foi enfático: “Não vamos tributar o Pix. Isso é fake news”. Mas a questão aqui é: o dano já estava feito.
Houve críticas de todo lado. Especialistas disseram que a norma era vaga e abria brechas para interpretações perigosas. Será que o governo não previu o caos que isso causaria? Não se pode jogar uma regulação no ventilador sem antes preparar o terreno. E pior, os boatos acabaram dominando o debate público, expondo uma clara fragilidade na comunicação oficial.
Outro ponto que vale destacar: a desconfiança do brasileiro em relação ao governo e seus reais objetivos. O Pix é uma ferramenta popular, usada por milhões de pessoas, justamente por ser gratuita e acessível. Mexer nisso é brincar com fogo. E a ideia de monitorar transações, mesmo que com boas intenções, foi vista como invasiva e autoritária.
É claro que o governo tentou vender a ideia de que estava apenas equiparando as regras do Pix ás dos bancos tradicionais. Mas convenhamos: o momento foi o pior possível. O Brasil vive uma polarização tão intensa que até um copo d’água pode virar motivo para guerra nas redes sociais. Lidar com fake news e com o calor das críticas é parte do jogo. E dessa vez, o Planalto não soube jogar.
A edição da nova Medida Provisória tenta remendar o estrago. Ela promete proteger o sigilo bancário, manter a gratuidade do Pix e impedir cobranças extras de comerciantes por pagamentos via Pix. Mas isso vai ser suficiente para acalmar os ânimos? Ou é tarde demais para recuperar a confiança da população?
O recuo é um lembrete claro de que um governo não pode ignorar a opinião pública. Não adianta ter boas intenções se a mensagem chega distorcida. E para quem está no poder, não basta dizer que “não é nada disso”. É preciso antecipar problemas, dialogar melhor e, acima de tudo, ser claro e objetivo. Caso contrário, o governo não vai apenas recuar. Vai tropeçar feio.