ECONOMIA
Confiança é a moeda que não pode perder valor
Confiar é complicado. Seja num chefe, no vizinho ou no governo. No Brasil, essa ideia de confiança anda meio cambaleante, especialmente quando olhamos para os indicadores econômicos. De um lado, tem crescimento do PIB e queda no desemprego; do outro, um mercado que mais parece um campo minado de incertezas. O governo federal, liderado por Lula, está num jogo perigoso: cortar gastos para controlar a inflação ou gastar para manter a população satisfeita? Difícil agradar a todos.
Lula chegou ao Planalto com a promessa de mudar as regras do jogo. Criticou o teto de gastos, chamou de amarração e jogada de mercado. E, para ser justo, mudou mesmo. Com a ajuda do Congresso, conseguiu evitar um colapso financeiro sem usar a tão temida tesoura nos gastos em 2023. Mas não pense que foi de graça: vieram novas diretrizes fiscais que prometem um controle maior no futuro. A palavra-chave aqui é prometer. Aí está o novo arcabouço fiscal, vendido como a solução para evitar desastres econômicos.
Esse arcabouço é uma obra de engenharia política. Parece bonito no papel: gaste menos do que arrecada e controle sua dívida. Regras para que o governo não extrapole, com um teto de 70% da arrecadação para a dívida e limite de 2,5% para aumento de despesas. Legal, né? Mas, como sempre, no Brasil a regra tem exceção. Gastos com precatórios, queimadas, desastres naturais? Fora da conta. Resultado: as metas viram mais uma sugestão que uma obrigação.
E o que acontece quando as contas não batem? Inflação. Em 2024, ela fechou em 4,83%. Parece aceitável, mas ultrapassa o teto da meta de 4,5%. O ano começa com os preços subindo e uma Selic, a taxa de juros, fixado em 12,25% que parece mais água de chá no fogo do que um extintor de incêndio. Se as coisas não mudarem, a previsão é que a Selic atinja 14,25% em março, uma tentativa desesperada do Banco Central de conter a alta nos preços.
Não bastasse isso, o real está perdendo valor. Em 2024, desvalorizou 27%. Isso encarece produtos importados, pressiona ainda mais a inflação e alimenta o círculo vicioso. A política fiscal perdeu credibilidade, o que fez os juros futuros subirem. Isso é especulação? Até é, mas a coisa não se resume a isso. Tem também o aumento da demanda interna, a falta de mão de obra que elevou os salários, os combustíveis sob controle estatal e o endividamento crescente. Parece uma panela de pressão pronta para explodir.
Diante desse cenário, as previsões para 2025 se dividem em três caminhos:
- Otimismo desmedido: PIB crescendo entre 2,5% e 3,5%, inflação controlada, investimentos estrangeiros bombando e comércio exterior de vento em popa. Empregos pipocam na construção civil, tecnologia e serviços.
- Pé no chão: Crescimento moderado entre 1,5% e 2,5%, agronegócio como motor da economia, inflação entre 4% e 5% e ajustes fiscais que não resolvem tudo. As desigualdades continuam, mas há chances de avanços comerciais.
- Pessimismo realista: PIB abaixo de 1%, indústria e comércio em crise, inflação passando de 6%, desemprego em alta e instabilidade política. Isso tudo somado à desaceleração da China e ao protecionismo dos EUA.
Se quiser evitar o pior, o governo vai precisar fazer o dever de casa. O arcabouço fiscal não pode ser apenas uma peça de decoração. A credibilidade nas políticas fiscal e monetária precisa ser recuperada. Só assim a confiança, esse alicerce tão frágil, pode ser restaurada. Porque sem confiança, meu amigo, nem o mercado, nem o brasileiro comum aguentam segurar o peso da incerteza.