Educação & Cultura
PT retoma comissão de educação do Senado após 15 anos com Teresa Leitão no comando
Na foto, a senadora Teresa Leitão (PT-PE), que deve ser a nova presidente da Comissão de Educação. Os trabalhos do Congresso voltam em fevereiro
Após um hiato de 15 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) voltará a presidir a Comissão de Educação do Senado, em um movimento que marca o retorno do partido a um dos colegiados mais estratégicos para a agenda progressista no Brasil. A senadora Teresa Leitão (PT-PE) assumirá a presidência, consolidando um acordo político com Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), favorito para manter-se como presidente do Senado. O último parlamentar petista a liderar esta comissão foi Fátima Cleide (RO), em 2010, ainda no primeiro governo Lula.
Atualmente presidida por Flávio Arns (PSB), a Comissão de Educação será repassada ao PT como parte de uma redistribuição de poderes entre os partidos no Senado. Além da Educação, o PT ficará responsável pela Comissão de Meio Ambiente, que será comandada pelo deputado Beto Faro (PT-PA). Essa nova configuração reflete não apenas a proporção das bancadas, mas também as negociações internas que têm como objetivo o equilíbrio político nas decisões legislativas para o próximo biênio.
A divisão das comissões no Senado segue critérios proporcionais ao tamanho das bancadas. O PT, que conta com nove senadores, é a quarta maior força na Casa, atrás do PSD (15 senadores), PL (14) e MDB (11). Esse cenário restringiu o acesso do partido às comissões consideradas mais influentes, como a de Constituição e Justiça (CCJ) e a de Assuntos Econômicos (CAE).
Enquanto o PSD assumirá o controle da CCJ, sob a liderança de Otto Alencar (PSD-BA), e o PL ficará com a Comissão de Infraestrutura, presidida por Marcos Rogério (PL-RO), o PT concentra sua atuação em comissões mais voltadas a pautas sociais e ambientais. Além da Educação e do Meio Ambiente, o partido mantém a presidência de colegiados como os de Direitos Humanos, Assuntos Sociais e o recém-criado Combate à Violência Contra a Mulher.
Especialistas avaliam que, embora o PT tenha conquistado espaço em áreas essenciais para seu eleitorado, sua influência nas decisões de maior impacto econômico e constitucional permanece limitada.
Assumir a presidência da Comissão de Educação em um país com desafios históricos no setor é uma tarefa que exige habilidade política, articulação e um planejamento robusto. Teresa Leitão, conhecida por sua atuação como defensora da educação pública e da valorização do magistério, terá pela frente questões complexas que demandam ações urgentes, entre elas:
- Melhoria da Qualidade da Educação: O Brasil enfrenta problemas crônicos de desigualdade no acesso e na qualidade do ensino básico, agravados pela pandemia. O aumento do investimento e a revisão de políticas públicas serão cruciais.
- Valorização dos Professores: A categoria enfrenta baixos salários, condições precárias de trabalho e, em algumas regiões, falta de segurança nas escolas. Propostas de reajuste salarial e programas de formação continuada serão indispensáveis.
- Inclusão e Diversidade: A ampliação de políticas que promovam igualdade de oportunidades para estudantes de diferentes origens e condições sociais promete ser um dos temas centrais da gestão.
- Pautas Polêmicas: A regulamentação do ensino sobre gênero e diversidade, além de discussões sobre drogas e outras políticas de inclusão, promete gerar debates intensos, especialmente com a oposição conservadora.
A redistribuição das comissões gerou reações mistas entre os parlamentares e a sociedade civil. Setores alinhados às pautas progressistas celebraram o retorno do PT ao comando da Educação, considerando a escolha de Teresa Leitão como uma vitória para o fortalecimento de políticas públicas inclusivas e democráticas. Por outro lado, grupos mais conservadores têm manifestado preocupação com os temas que devem ganhar protagonismo no colegiado, como a implementação de políticas de gênero nas escolas.
Além disso, o fortalecimento de agendas como a democratização do ensino superior e o incentivo à ciência e tecnologia deve enfrentar resistência em um Senado fragmentado. A oposição, liderada principalmente pelo PL e pelo PSD, já sinaliza que usará sua força nas comissões estratégicas para bloquear pautas que considera “ideológica”.
Paralelamente à Educação, a presidência da Comissão de Meio Ambiente, sob o comando de Beto Faro, também representa um espaço fundamental para a atuação do PT. Em um momento em que o Brasil busca reverter os retrocessos ambientais e reafirmar seu compromisso internacional no combate às mudanças climáticas, a comissão terá a missão de conduzir debates sobre desmatamento, energia limpa e sustentabilidade, temas diretamente ligados à recuperação da imagem do país no cenário global.
Embora fora das comissões mais poderosas, o PT terá um papel estratégico em duas áreas que impactam diretamente a vida da população e o futuro do país. A Comissão de Educação, em especial, será um palco central para debates essenciais sobre a construção de um Brasil mais igualitário e preparado para os desafios do século XXI.
Teresa Leitão carrega a responsabilidade de transformar as pautas do colegiado em avanços concretos para a sociedade, equilibrando as demandas de seu partido com a necessidade de diálogo e consenso em um Senado polarizado. Resta saber se o PT conseguirá usar esses espaços como trampolins para ampliar sua relevância no jogo político e recuperar a confiança de uma parcela significativa da população.