CIDADE
Santa Rita — O abandono da comunidade Canaã que gritam por dignidade
Por Roberto Tomé
No coração de Santa Rita, há uma comunidade esquecida, que clama por socorro, mas se vê isolada pela indiferença das autoridades públicas e pela negligência daqueles que deveriam cuidar da população. A comunidade Canaã, também conhecida como antiga Usina Santa Rita, é um retrato do abandono e da falta de comprometimento do poder público com os mais necessitados. No entanto, o que se vê lá é um cenário desesperador, de total falta de dignidade para as famílias que sobrevivem em meio à precariedade.
Canaã não é uma área isolada do resto do município; fica a poucos minutos do centro de Santa Rita, onde a Prefeitura e a Câmara Municipal estão localizadas. Contudo, os moradores da comunidade vivem a sensação de que estão a anos-luz do poder público. A única ponte que liga Canaã à cidade é uma estrutura precária, feita de madeira e improvisada, mantida pelos próprios moradores com materiais que encontram. Todos os dias, crianças, idosos e até pessoas com deficiência são obrigados a atravessar essa ponte, expostos ao risco constante de acidentes. Como se isso não fosse suficiente, a infraestrutura da comunidade é completamente falha: falta saneamento básico, água potável e energia elétrica. E o pior, o esgoto da cidade é despejado diretamente no Rio Paraíba, contaminando a água e agravando ainda mais a situação de saúde da população.
Mas não para por aí. Uma das maiores fontes de sofrimento para os moradores de Canaã é a falta de acesso a direitos básicos, como saúde e educação. A cidade de Santa Rita não se importa com as dificuldades enfrentadas por aqueles que estão longe do centro, em um cenário de total desamparo. As autoridades municipais, ao que parece, simplesmente viraram as costas para os cidadãos de Canaã, ignorando uma comunidade que, ao longo dos anos, ajudou a construir a história da cidade. O que se observa é uma total negligência do poder público para com a população local.
A situação foi ainda mais agravada por um empresário da região, Heitel Santiago, que vem cercando as terras da comunidade, construindo cercas e obstruindo o acesso dos moradores à rua principal. O empresário promoveu a destruição de áreas que antes eram utilizadas pela comunidade para lazer e convivência, como escolas e espaços recreativos, substituindo-os por tanques de camarão. A exploração predatória dos recursos naturais, a escavação de valas e o despejo de água contaminada diretamente no Rio Paraíba têm comprometido ainda mais a qualidade de vida dos moradores.
Além disso, o barulho incessante das bombas usadas nas fazendas de camarão durante a noite torna a vida insuportável para quem tenta descansar, enquanto a poluição do rio compromete o acesso à água potável. Apesar disso, muitos moradores ainda resistem, mas estão cada vez mais vulneráveis e sem esperança. Enquanto isso, o poder público permanece omisso.
Diante dessa realidade, a comunidade tenta, por conta própria, organizar-se. Alguns moradores realizam a coleta de lixo e até plantam árvores, como uma forma de amenizar o impacto da degradação ambiental provocada pela exploração desenfreada. A empresa Japungu, por exemplo, doou muda de árvores para repor a vegetação destruída, mas esses esforços não são suficientes para enfrentar as dificuldades diárias.
As autoridades municipais, que têm o dever de garantir condições mínimas de dignidade para todos os cidadãos, precisam ser cobradas. Onde está o compromisso com a população que ajudou a construir a cidade de Santa Rita? Onde estão os representantes da Câmara Municipal, que devem zelar pelo bem-estar de todos os moradores, independentemente de onde vivem? Onde está o Ministério Público, que deve fiscalizar o cumprimento dos direitos fundamentais? O que falta para as autoridades compreenderem que Canaã não pode continuar sendo um cenário de abandono e descaso?
As famílias de Canaã não merecem viver dessa forma. Elas merecem o direito à moradia digna, à água potável, ao saneamento e à mobilidade. Elas não podem ser invisíveis aos olhos dos gestores públicos. O grito por dignidade que ecoa de Canaã não pode ser ignorado. As autoridades precisam agir com urgência e responsabilidade para garantir a qualidade de vida que todo cidadão merece. O tempo para agir é agora. A comunidade de Canaã não pode esperar mais.