Segurança Pública
Denuncias apontam sadismo e abuso de autoridade em academia da Marinha: ex-militar descreve casos chocantes que levantam questionamentos sobre a pedagogia nas academias militares
Caso grave um ex-aluno de uma das duas principais academias militares da Marinha – Colégio Naval – narrando episódios de obvia afronta a direitos fundamentais

A revelação de questões complicadas no interior das Forças Armadas, feita em um programa na internet que foi ao ar nesse domingo chamou bastante a atenção. O título: ” EXCLUSIVO! Militar revela os segredos sombrios do Colégio Naval – A verdade que querem esconder!” dá nome À entrevista onde um ex-aluno de uma das duas principais academias militares da Marinha, o Colégio Naval, narra episódios que indicam afronta a direitos fundamentais dos alunos, todos ainda adolescentes na faixa de 15 a 18 anos de idade.
É importante também que se questione se esse tipo de situação não teria um condão pedagógico enviesado, dando aos jovens alunos, ainda adolescentes e jovens adultos, a falsa impressão de que autoridade e liderança se conquista por meio da imposição e afronta á dignidade do subordinado.
Situação perigosa para os alunos
Um dos comentários postados abaixo do vídeo levanta a possibilidade de que esse tipo de situação seja perigosa, um risco à integridade dos alunos, menores de idade. “macabro, assustador, lamentável e perigoso”, foram os termos utilizados.

Ouvido pela Revista Sociedade Militar, um psicólogo apontou comportamento pouco pedagógico e até indícios de sadismo em alguns momentos descritos, onde se percebeu humilhação coletiva e submissão forçada. Como no caso do “olha pra frente, olha pra cima”: “Enquanto a gente esperava o oficial chegar, ele ficava dizendo: ‘Olha pra frente! Agora olha pra cima! Agora pra baixo! Agora pra direita!’… E um monte de criança balançando a cabeça assim de um lado pro outro pro cara poder rir da nossa cara.” (Intervalo: 8:53 – 9:07 no vídeo)
Este comportamento pode refletir de fato sadismo em que há uma busca deliberada por desumanizar a vítima, reduzindo-a a um estado de submissão absoluta. Esse tipo de comportamento também se encaixa no conceito de “desindividuação“ (cito Zimbardo, 1971 e seu Experimento da Prisão de Stanford), onde se comprova que em instituições fechadas e sem vigilância externa a identidade pessoal dos subordinados pode ser dissolvida para reforçar a dominação.
Os segredos sombrios do Colégio Naval – A verdade que querem esconder!
1. Tratamento degradante e promessas falsas de melhora
Tempo: 2:30 – 4:04
Trecho:
“Frequentemente a gente passa por situações que você olha e pensa: cara, eu não sou um animal, sabe? Eu sou um ser humano, eu não deveria estar passando por isso. Então é sempre uma promessa de ‘daqui a pouco melhora’, porque vai melhorar, porque você tá passando por isso agora e daqui a pouco melhora. E, cara, nunca melhora. O tratamento é ruim do início ao fim. (…). Você não tem respeito, e isso é deprimente.”
2. Brincadeira perigosa com espada no Colégio Naval que resultou em corte no dedo de um aluno
Tempo: 13:22 – 15:05
Trecho: “Um belo dia eu tava almoçando tranquilo, lá no Colégio Naval. Do nada, chegou um veterano de serviço que tava usando o que a gente chama de ‘espadim’, que é o símbolo do aspirante.
Ele sacou o espadim, e começou a fazer aquela brincadeira de acertar entre os dedos. Cara, ele acertou o meu dedo! Ele cortou o meu dedo! E ficou por isso mesmo. Fé. Volta a comer e fica quieto.”
4. Obrigação de comer uma laranja com casca por ordem de veterano
Tempo: 16:10 – 17:53
Trecho: “Tinha uma laranja do lado da mesa, que era a minha sobremesa. Um outro veterano chegou e falou: ‘Come a laranja aí’. Aí eu falei: ‘Tô terminando de comer, é sobremesa’.
Aí ele: ‘Não, não. Come agora’.
‘Sim, senhor’. Peguei a laranja, ia descascar.
Nisso que eu comecei a descascar, ele falou: ‘Não, não. É para comer com casca. É para morder’.
Aí eu olhei pra cara dele. Depois do episódio do espadim, eu já não aguentava mais.
Eu falei: ‘Não, não, senhor. Não vou comer’.
A partir desse momento, por incrível que pareça, esses episódios reduziram. Porque todo mundo simplesmente aceitava e ficava quieto e tomava.”
5. Pandemia: alunos doentes sem atendimento médico adequado
Tempo: 18:16 – 20:26
Trecho: “Durante o COVID, a gente ficou em quarentena lá no Colégio Naval por três meses, quase quatro. (…). Muitos alunos começaram a sentir dores de cabeça, pararam de sentir gosto na comida, tiveram enxaqueca pesada, febre pesada.
Quando a gente ia na enfermaria, davam dipirona e falavam: ‘Não, isso aí é dor de garganta’, ‘Isso aí é dor de cabeça’, ‘Isso aí você tá cansado’.
Ninguém fez um exame para saber o que tava acontecendo!
Cara, alguém tem dúvida que todo mundo pegou COVID naquela porcaria? É óbvio!
Não morreu ninguém por sorte, porque todo mundo lá tinha um sistema imunológico bom por causa da idade.
Mas por sorte não morreu ninguém.”
6. Médico do Colégio Naval se recusando a atender aluno com febre
Tempo: 20:45 – 22:04
Trecho: “Eu cheguei na enfermaria, fui atendido. A médica de serviço queria me atender no dia seguinte. Eu bati na porta e falei: ‘Cara, tô passando mal’.
Ela virou pra mim e apontou pra placa da enfermaria que estava na porta, dizendo que abria às 8h da manhã, e falou: ‘Abre 8 horas’. Aí eu: ‘Senhora, eu estou passando muito mal. Muito mal mesmo’.
Ela falou: ‘Tá. Entra aí’.
Ela colocou o termômetro pra medir a temperatura, soltou um palavrão de susto e falou: ‘Você tá com 40 e tantos de febre’. Eu lembro dela falando: ‘Cara, você tá a um ponto de colapsar e cair duro no chão’.”
7. Oficial vasculha armário e mexe na carteira do aluno
Tempo: 31:00 – 33:09
Trecho: “Voltei da prova, meu armário tava aberto. Eu pensei: ‘Putz, esqueci o armário aberto’.
Quando eu fui ver, tudo revirado, cara. Tudo mexido. Minha carteira sumiu.
Me falaram: ‘Fulano lá, tal oficial, disse que se você sentir falta de alguma coisa, é para ir falar com ele’.
Fui falar com o oficial. Quando finalmente encontrei, ele falou:
‘Ah, você perdeu sua carteira?’
Eu: ‘Não, Tenente, eu não perdi’.
‘Aqui, olha só. Sua carteira tá contigo?’
‘Não, senhor’.
‘Então você perdeu’.
Aí ele pegou minha carteira, abriu e começou a mexer nela:
‘Ó, cartão de não sei o quê, cartão de não sei o que lá. Dinheiro, dois reais’.
Aí tirou uma foto da minha namorada da carteira. Foto da namorada!
Me corrijam se eu estiver errado, mas isso não é violação de propriedade privada?”
8. Pressão psicológica e “baile” de oficiais punindo quem não pagava festa
Tempo: 35:05 – 36:12
Trecho: “Os oficiais falaram com todas as letras: ‘Quem não aderir ao baile perde ponto de conceito’.
Meu irmão, a média do militar do aspirante é feita em acadêmico, físico e NAOF (Nota para Aptidão ao Oficialato).
Aí você vem pra mim e fala que não ter dinheiro para ir numa festa implica que eu não tenho aptidão para ser oficial?”
Vídeo completo no Canal de Adriano Rocha