Nacional
Lula critica preço da gasolina, mas omite imposto federal sobre combustível
Por sugestão da equipe econômica comandada por Fernando Haddad, presidente voltou a elevar o PIS/Cofins em 2024 e isso hoje equivale a R$ 0,47 por litro de gasolina
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O Lula reclamou na última segunda-feira (17) do preço da gasolina, mas omitiu que recompôs os impostos federais em R$ 0,47 com o combustível em março de 2023. Segundo ele, a população é “assaltada” pelos intermediários da cadeia de produção dos combustíveis no país.
Em março de 2023, Lula acabou com a isenção do PIS/Cofins (Programa de Integração Social/ Contribuição para Financiamento da Seguridade Social) sobre a gasolina e o etanol. Com a medida, a alíquota do imposto saiu de R$ 0,00 para R$ 0,47, no caso da gasolina, e de R$ 0,00 para R$ 0,02, para o etanol.
Em janeiro de 2024, o governo Lula retomou de forma integral a cobrança do imposto federal sobre o óleo diesel. Aumentou a alíquota para R$ 0,35 por litro. Portanto, todos os principais combustíveis de veículos automotores tiveram aumento de tributação no governo Lula.
A renúncia fiscal foi implementada durante o governo Jair Bolsonaro (PL) para reduzir os preços dos combustíveis, que impactavam a inflação. Quando assumiu o cargo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou a medida por dar benefícios tributários a produtos poluentes, além de impactar as contas públicas.
A desoneração de impostos federais sobre os combustíveis tem grande impacto fiscal. Em 2023, o governo federal deixou de arrecadar R$ 33,25 bilhões, em valores reais-corrigidos pela inflação– com o PIS/Cofins sobre os combustíveis. Em 2024, a renúncia fiscal foi de R$ 2,0 bilhões, referente ao PIS/Cofins sobre a gasolina e o etanol, que não foi retomado de forma integral. Caso houvesse a cobrança por completa dos tributos, a alíquota seria de seria de R$ 0,69 por litro da gasolina e de R$ 0,24 do etanol.
Haddad reonerou os combustíveis utilizados pelos veículos a passeio em 2024, mas a decisão teve resistência da ala política do governo na época. Ao criticar o aumento dos preços dos combustíveis nesta 2ª feira (17.fev.2025), Lula não citou a reoneração dos tributos.
Leia abaixo o que disse o presidente Lula:
“Acho que a Petrobras tem que tomar uma atitude, sobretudo o óleo diesel, a gente precisa vender para os grandes consumidores direto. Se puderem comprar direto, para a gente poder baratear o preço do diesel. Se a gente puder vender direto a gasolina, se a gente puder vender direto o gás, porque o povo é, no fundo, no fundo, assaltado pelo intermediário. Ele é assaltado e a fama fica nas costas do governo”.
POLÍTICA DE PREÇOS ABRASILEIRADA
A Petrobras mudou a política de preços no governo Lula. A estatal vende os combustíveis nas refinarias. Antes de chegar ao consumidor, os produtos são reajustados após o transporte das distribuidoras e armazenamento nos postos. Lula culpou os intermediários pelo preço elevado.
Às 17h39, as ações ordinárias da estatal registravam alta de 1,57%, aos R$ 41,49. Os papéis preferenciais tinham alta de 1,04%, aos R$ 37,83.
Em dezembro de 2024, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, disse que a estatal teve sucesso em sua estratégia de “abrasileirar” o preço dos combustíveis produzidos nas refinarias. Declarou que, mesmo vendendo um produto a um valor inferior à do PPI (Preço de Paridade de Importação), foi capaz de ter lucro.
A defasagem nos preços dos combustíveis é criticada por analistas. A valorização do dólar em relação ao real também encarece a importação do produto e impacta financeiramente a Petrobras.
CRITICOU BOLSONARO POR NÃO DAR “CANETADA”
Lula já criticou a antiga política da estatal e o ex-presidente Bolsonaro por causa dos preços dos combustíveis. Afirmou durante uma entrevista concedida à rádio Itatiaia em junho de 2022 que a situação poderia ter sido resolvida com uma “canetada”. Eis o que o presidente disse à época:
sobre Bolsonaro – “O presidente da República é fanfarrão, que deveria fazer numa canetada ou chamar a Petrobras e obrigar ela fazer uma canetada, ele fica trocando de presidente da Petrobras para dizer que ele está tomando atitude, quando, na verdade, ele poderia chamar o presidente da Petrobras, chamar o Conselho da Petrobras, chamar o Conselho Nacional de Política Energética e tomar uma decisão”;
sobre a política de preços da Petrobras que vigorava à época – “A 1ª coisa que eu queria te dizer era o seguinte: o aumento da gasolina ao preço internacional não foi feito com uma votação no Congresso, foi uma canetada do Pedro Parente [ex-presidente da Petrobras]. Foi uma canetada do presidente da Petrobras. Portanto, se para aumentar o preço do combustível e transformar o preço do combustível no Brasil a um preço internacional foi numa canetada, para você tirar também pode ser numa canetada. O presidente, se tivesse coragem, se não fosse um fanfarrão, se não fosse um embusteiro, ele já teria feito isso”.