Internacional
ONU alerta para execução sumária de crianças na República Democrática do Congo
Relatos estão relacionados à tomada da cidade de Bukavu pelo grupo armado M23, que matou três menores; Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas recebe relatos de detenções arbitrárias e retornos forçados, além de pedidos de proteção por vítimas e testemunhas

A situação no leste da República Democrática do Congo, RD Congo, está se deteriorando, cada vez mais, com relatos de execuções sumárias de crianças e violência sexual generalizada.
Em um alerta, nesta terça-feira, o Escritório de Direitos Humanos da ONU, confirmou que três crianças foram mortas pelo grupo armado M23, que é apoiado por Ruanda, o país vizinho.
Avanço do M23 marcado por violações e ameaças
A porta-voz da entidade, Ravina Shamdasani, revelou que as execuções ocorreram em Bukavu, capital do Kivu do Sul, que foi tomada pelos combatentes do M23 no domingo, dias após eles terem ocupado o aeroporto de Bukavu. Ela também relatou que as crianças estavam em posse de armas.
Shamdasani fez um apelo para Ruanda e para o M23, pedindo garantias de respeito aos direitos humanos e ao direito humanitário internacional.
Ela também condenou os ataques a hospitais e armazéns humanitários, bem como as ameaças contra o Judiciário, diretamente ligados ao rápido avanço dos combatentes do M23 por Kivu do Norte e Kivu do Sul.

Porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos: Ravina Shamdasani (arquivo)
Medo de retaliações
O órgão de direitos humanos tem recebido informações sobre prisões e detenções arbitrárias, tratamentos degradantes e supostos retornos forçados de jovens congoleses que fugiram da violência em direção a países vizinhos.
A porta-voz comentou que, após as fugas em massa das prisões de Kabare e Bukavu, no dia 14 de fevereiro, o Escritório da ONU recebeu pedidos de proteção de vítimas e testemunhas.
Elas temem retaliações por parte dos fugitivos, pois tiveram participação ativa nos julgamentos contra alguns destes prisioneiros condenados por graves violações e abusos. Alguns dos quais “equivalem a crimes internacionais”, adicionou Shamdasani.
Confrontos em Kivu do Sul forçaram 150 mil pessoas a fugir
A crise desalojou milhares de pessoas no leste da RD Congo. Segundo a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, entre 10 mil e 15 mil pessoas cruzaram a fronteira para o Burundi em poucos dias.
A maioria dos que chegam ao país vizinho são congoleses, vindos principalmente dos arredores de Bukavu.
Essas famílias e indivíduos recém-deslocados se juntam a mais de 91 mil refugiados e requerentes de asilo da RD Congo que chegaram há várias décadas.

Uma tenda serve de área de recepção para famílias deslocadas num hospital perto de Goma, província de Kivu do Norte, República Democrática do Congo
O porta-voz do Acnur, Matt Saltmarsh, declarou que a situação no leste do país continua “extremamente desafiadora e fluida”, com confrontos recentes em Kivu do Sul forçando mais de 150 mil pessoas a fugir.
Ele adicionou que pelo menos 85 mil desses deslocados estão vivendo em locais improvisados, onde serviços básicos como água, abrigo e acesso à saúde são extremamente escassos.
Contexto marcado por proliferação de grupos armados
O leste da RD Congo é uma região rica em minerais que tem enfrentado décadas de instabilidade em meio à proliferação de grupos armados. Os confrontos contantes forçaram milhares de pessoas a fugir de suas casas.
Segundo agências de notícias, o tântalo ou coltan e tantos outros minerais são usados na produção de dispositivos eletrônicos como tablets e telefones inteligentes.
A violência se intensificou no final de janeiro, quando os combatentes do M23, majoritariamente tutsis, tomaram o controle de partes do Kivu do Norte, incluindo áreas próximas a Goma, e avançaram em direção ao Kivu do Sul, tomando a segunda maior cidade da região, Bukavu.