Nacional
Corrupção e o jogo de conveniência: entre o silêncio e a indignação
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A Procuradoria-Geral da República apresentou uma denúncia formal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, colocando-o no centro de um processo judicial que pode redefinir sua trajetória política. A ação, sustentada por investigação detalhada, inclui mais de 500 elementos que apontam para crimes de grande impacto, especialmente contra a ordem democrática. Entre os indícios mais comprometedores está à delação premiada do coronel Mauro Cid, que trouxe à tona uma rede de supostas irregularidades envolvendo o ex-mandatário.
LEIAM A DENÚNCIA COMPLETA CONTRA BOLSONARO:
O Ministério Público, responsável por representar os interesses da sociedade, sustenta que Bolsonaro tentou desestruturar o regime democrático e articular a perpetuação no poder por meios ilegais. Caso a Justiça aceite a denúncia, o ex-presidente será formalmente réu, ampliando as complicações que já resultaram em sua inelegibilidade por oito anos. O embate judicial se intensifica com a reação de seus apoiadores, que denunciam perseguição política e ignoram o conteúdo da investigação.
Por outro lado, simpatizantes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguardam ansiosos por uma sentença que sirva como uma espécie de revanche. A ironia está na falta de um programa efetivo deste governo para combater a corrupção, um tema amplamente explorado durante a campanha eleitoral. Críticas ao chamado “orçamento secreto” foram levantadas antes das eleições, mas os repasses financeiros aos parlamentares continuaram agora sob a forma de emendas Pix, que movimentam cerca de R$ 50 bilhões anuais.
Dados da Transparência Internacional revelam que o Brasil ocupa, atualmente, a pior colocação histórica no índice de percepção da corrupção. Curiosamente, esse mesmo ranking foi utilizado por petistas para atacar Bolsonaro no passado, mas agora é ignorado. O tema desapareceu das prioridades do governo, não sendo sequer mencionado nas solenidades de diplomação e posse do atual presidente.
A negação da corrupção, seja qual for à orientação política, é tão prejudicial quanto à prática em si. Enquanto um lado finge que nada aconteceu, o outro trata o problema como uma questão seletiva, de acordo com sua conveniência ideológica. O resultado dessa postura é um cenário de impunidade crescente, com impactos diretos na democracia, na economia e na qualidade de vida da população. A apatia estatal diante do tema reforça um círculo vicioso, onde escândalos são absorvidos pelo tempo e a desigualdade segue se aprofundando.