Como usar IA para elaborar um material didático personalizado pelos estudantes? Veja passo a passo

A Inteligência Artificial (IA) generativa pode impulsionar a personalização de materiais didáticos construídos por professores e também pelos próprios estudantes. Está cada vez mais simples elaborar materiais personalizados, levando em consideração o contexto da escola e da turma e as habilidades que os alunos precisam desenvolver.  

Gracieli Dall Ostro Persich, autora de materiais didáticos e formadora de professores, costuma criar principalmente planos de aula para os Anos Iniciais e Finais do Ensino Fundamental com ajuda do Copilot. Ela pede à ferramenta para gerar textos curtos e passo a passos para propostas práticas. “Na hora de instruir a IA para criar jogos e brincadeiras, eu descrevo qual o tipo de movimento ou dinâmica eu quero e quais são os objetivos de aprendizagem, além da temática. Depois de conduzida a atividade em sala, recebo bons feedbacks de professores e alunos”, explica. 

Ela notou que, ao usar uma sequência de prompts, mantendo o tipo de proposta e contexto, a ferramenta vai aprendendo e personalizando cada vez melhor os textos. “Percebo que a IA já conhece até a minha linguagem, é impressionante como captura a inteligência orgânica, e isso otimiza meu trabalho.”

Outra entusiasta da IA é a professora Virginia Chagas, que desenvolveu com os alunos dos Anos Iniciais do Ginásio Educacional Tecnológico (GET) Tobias Barreto, no Rio de Janeiro, um projeto no qual eles recriaram os contos clássicos. “Como em um passe de mágica, a IA cria o que os estudantes gostariam de ilustrar. E assim eles trazem à tona o que desejam e precisam ter no material”, comenta ela, reforçando a importância de colocar os estudantes no centro do processo de aprendizado. 

A seguir, confira um passo a passo de como criar junto dos estudantes um material didático personalizado:

Passo 1. Escolha das ferramentas

Para que os estudantes possam criar textos e imagens, faça o uso de uma IA generativa, como a presente no Copilot, que pode funcionar de forma integrada aos programas da Microsoft ou ser acessada aqui em qualquer navegador de internet. Também é possível acessar o Copilot por meio de aplicativos para PC e dispositivos móveis ou via chat do whatsapp, adicionando e iniciando uma conversa com o número +1 877-224-1042. Além disso, outras ferramentas podem ajudar em diversas etapas do processo. A seguir, confira exemplos de ferramentas gratuitas que podem ser acessadas por qualquer usuário com uma conta Microsoft (Hotmail, Skype, Outlook etc.):

• Microsoft Whiteboard: essa ferramenta pode ser usada para trabalhar ideias de forma colaborativa, incentivando os estudantes a darem os primeiros passos no projeto. Ela funciona como uma lousa digital, na qual todos podem depositar ideias.
• Microsoft Sway: esse programa pode ajudar na hora de compilar o conteúdo criado. Com ele, é possível deixar a produção visualmente mais atraente, adicionando texto e imagem e deixando a IA cuidar do design.

Passo 2. Preparação pedagógica

Inicialmente, é essencial escolher quais habilidades serão abordadas no projeto, que pode ser desenvolvido por um ou mais professores. Nesse sentido, é importante:

• Identificar quais habilidades prioritárias serão abordadas no trabalho, considerando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Essa etapa pode ser construída em parceria com a coordenação e demais professores envolvidos no projeto.
• Pensar nas principais dificuldades específicas da turma e utilizar a tecnologia como aliada na superação desses desafios.
• Explorar o “aprender fazendo”, presente na cultura maker, como uma estratégia para tornar o aprendizado mais significativo.

Passo 3. Preparação técnica

Nesta etapa, é importante que o professor:

• Habilite a escola ou a turma com os sistemas escolhidos, ensinando os estudantes sobre o funcionamento.
• Crie uma conta institucional no serviço para ser usada por todos os estudantes. Esse passo permite que  o professor tenha acesso direto ao que está sendo produzido, podendo acompanhar a criação em tempo real, mesmo que em outro dispositivo.

Passo 4. Introdução à IA

Se os estudantes não estiverem familiarizados com o uso de IA, é importante:

• Ensinar aos alunos sobre como dar comandos para a IA generativa. Nessa etapa, os alunos vão aprender a criar prompts completos, chegando ao melhor resultado possível; já abordamos essa temática em outros conteúdos, mas é sempre válido reforçar que um prompt (ou comando) bem estruturado e contextualizado é o caminho para melhores resultados. Incentive seus estudantes a explorar, experimentar e exercer a curiosidade, aprimorando seus processos.
• Conversar com a turma sobre o uso crítico e responsável desse tipo de tecnologia, apontando para a possibilidade de encontrarem erros ou vieses durante o trabalho.

Dica: na hora de ensinar a turma a criar prompts, é importante mostrar a lógica de programação, na prática. Uma forma lúdica de abordar o tema é, por exemplo, pedir aos estudantes para darem o comando para o professor chegar até a porta da sala e abri-la. 

No começo, é provável que eles deem comandos simples, como “levante e vá”. Neste momento, o docente deve cumprir exatamente o que foi dito, como se levantar e ir para qualquer lugar. Isso fará os alunos perceberem que o “comando” foi muito vago. 
Aos poucos, eles entenderão que é necessário ser preciso, com indicações como “levante, vire o corpo completamente para a direita, dê sete passos, estenda o braço, alcance a maçaneta e gire-a para a esquerda”. Depois da prática lúdica, é interessante mostrar prompts menos estruturados e completos e suas contrapartes mais estruturadas e completas, a fim de que eles entendam como essa lógica se aplica na prática na IA generativa.

Passo 5. Produção do material

Com tudo preparado, é hora de realizar a atividades, na prática:

• Em grupos ou com a turma toda reunida, peça para que os estudantes criem os comandos que serão capazes de gerar os textos e imagens para o material didático em questão.
• É muito importante provocar a criatividade dos alunos, incentivando a personalização do material. O contexto da escola e da turma deve ser levado em consideração para a produção do material.
• Depois de criar imagens e texto, o professor deve auxiliar os estudantes a compilarem o conteúdo de forma coerente, criando o material didático pretendido. Com ajuda da IA, é possível criar apostilas, folders, cartazes, vídeos, podcasts, apresentações, entre outros. 

Passo 6. Indo além

Todo o processo, desde as intervenções iniciais até a criação do material, pode levar algumas aulas ou semanas, a depender da turma e da etapa de ensino. Depois de passar por todo o processo, os estudantes já estarão habilitados a darem ideias de novos materiais que gostariam de criar. 

Nesse sentido, não há limites. É possível usar o trabalho com a IA para criar os mais diversos materiais, saindo da sala de aula e impactando toda a comunidade escolar. Criar campanhas de conscientização e fazer apresentações para outras turmas e para os pais são algumas sugestões.

Esse passo a passo foi construído com base na experiência da professora Virginia Chagas, e contou com a contribuição de Ricardo Vasconcelos, professor e consultor de Microsoft Learning na Trivium.