Nacional
Quando vamos parar de atravessar o samba enredo da corrupção?
Rasguemos de vez a fantasia de povo passivo e assumamos o protagonismo da nossa história. O Brasil não pode mais se dar ao luxo de atravessar o samba.
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Por Roberto Tomé
O Brasil desafina no compasso da História. Enquanto o mundo avança, insistimos em uma coreografia errática, tropeçando em problemas estruturais, abraçando a corrupção como tradição e flertando perigosamente com a instabilidade econômica. A cada novo desfile de incompetência, a Nação se afunda em um espetáculo de caos institucional, onde o crime organizado dita regras e o cidadão comum paga a conta. Se nada mudar, o risco de uma fragmentação territorial deixa de ser um delírio alarmista e passa a ser uma possibilidade concreta.
Vivemos um carnaval permanente de desmandos. O agronegócio resiste e próspera apesar do ambiente hostil, mas o resto da economia patina. Infraestrutura precária, indústria ultrapassada, um sistema tributário asfixiante que transforma o empreendedor em refém do Estado. O modelo econômico brasileiro é um parasita voraz que consome tudo ao seu redor, alimentando uma máquina pública inchada, ineficiente e corrupta. Em vez de ser motor do desenvolvimento, o Estado age como um atravessador ganancioso, sempre pronto para impor novos tributos, burocracias e obstáculos.
Mas o buraco é ainda mais fundo. A crise não se limita à política ou à economia. Está na cultura da impunidade, na degradação do ensino, no analfabetismo funcional que se alastra e perpetua um sistema feito para manter o povo desinformado e vulnerável à manipulação. Governos passam, partidos se alternam no poder, mas a estrutura se mantém: um ciclo vicioso de corrupção, incompetência e promessas vazias. O caos institucional que assistimos hoje é somente a consequência inevitável desse processo de degradação.
A única saída passa por uma reconstrução radical das bases do país. O Brasil precisa de um novo pacto constitucional que descentralize o poder e fortaleça o federalismo real, garantindo segurança jurídica e liberdade econômica. Educação não pode mais ser tratada como slogan de campanha. Precisa ser a prioridade absoluta, a ferramenta definitiva para romper com o ciclo de miséria e violência. Sem uma sociedade bem formada, seguiremos reféns da corrupção e da instabilidade.
O Brasil não vai mudar apenas com protestos e discursos inflamados nas redes sociais. Demonizar políticos, por mais nefastos que sejam não resolve nada se não houver uma estratégia clara para transformar a política por dentro. É preciso uma elite intelectual e moralmente qualificada, com coragem de liderar uma mudança real, sem populismo barato ou soluções mágicas. Enquanto o povo não compreender a importância da articulação política e da participação ativa, continuará sendo governado pelos mesmos oportunistas de sempre.
Se conseguirmos organizar um evento gigantesco como o Carnaval, por que falhamos miseravelmente em organizar o país? O desejo de mudança precisa ser maior do que a resignação. O Brasil precisa se livrar dessa cultura de submissão à corrupção e ao atraso. A mudança não será fácil, nem rápida, mas é inadiável.
É possível aproveitar o Carnaval sem esquecer que, depois da festa, a realidade nos espera. Que essa folia seja o marco de uma transformação urgente. Rasguemos de vez a fantasia de povo passivo e assumamos o protagonismo da nossa história. O Brasil não pode mais se dar ao luxo de atravessar o samba.