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O novo erro de Lula: Quando a estratégia se torna um tiro no pé

Enquanto o Brasil aproveitava o Carnaval, lideranças políticas estavam ocupadas digerindo a mais recente jogada do presidente Lula: a indicação de Gleisi Hoffmann para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), no lugar de Alexandre Padilha. Uma escolha que, longe de fortalecer sua base de apoio, foi vista como uma aposta arriscada e até um sinal de isolamento.
Lula teve uma chance de ouro para reforçar sua relação com os partidos do Centrão — Republicanos, MDB, PSD e até o PP. Em vez disso, decidiu dobrar a aposta no próprio partido, ampliando a presença do PT na Esplanada. Para parlamentares que esperavam uma sinalização de abertura, a movimentação soou como um recado claro: o espaço na estrutura do governo vai continuar sob o domínio petista.
Na visão de deputados e senadores do Centrão, o presidente poderia ter feito diferente. A indicação de um nome forte do grupo para a Saúde e outro para a SRI teria garantido maior estabilidade no Congresso. Havia especulações de que Arthur Lira (PP-AL) pudesse assumir a Saúde, enquanto Isnaldo Bulhões (MDB-AL) ou Sílvio Costa Filho (Republicanos) seriam opções viáveis para a SRI. Nada disso aconteceu. O resultado? Insatisfação crescente nos bastidores.
Se havia alguma expectativa de que Lula consolidaria sua frente ampla de 2022, o efeito foi o oposto. Parlamentares interpretaram a mudança como uma movimentação para fortalecer a ala mais radical do PT, tornando ainda mais difícil a articulação política no Congresso. Um líder do Centrão resumiu a insatisfação: “O Lula mostrou que vai ampliar a hegemonia do partido na Esplanada e isso vai dificultar muito a vida dele no Congresso”.
O problema dessa estratégia é que ela ignora um detalhe importante: sem uma base sólida no Congresso, qualquer governo fica vulnerável. Ao reforçar a presença do PT em cargos estratégicos e não ceder espaço ao Centrão, Lula pode estar preparando o terreno para enfrentar dificuldades ainda maiores na aprovação de projetos prioritários.
Se o objetivo era consolidar o poder do PT, Lula conseguiu. Mas a que custo? A relação com o Congresso, já delicada, pode se tornar um verdadeiro campo minado. As próximas semanas serão decisivas para medir a temperatura da base aliada e entender se essa escolha foi um lance ousado ou um erro de cálculo que pode comprometer sua governabilidade.
A questão que fica: Lula confia tanto assim no seu poder de articulação ou subestimou o peso do Centrão? Uma coisa é certa: quem acompanha política sabe que todo movimento tem um preço. E este, pelo visto, pode sair mais caro do que o esperado.