Segurança Pública
O segredo dos concursos militares de nível estratégico: as oportunidades que rendem bem dentro e fora das Forças Armadas
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Entre os chamados concursos militares, há aqueles que proporcionam vantagens imediatas e outros que nem tanto, demandando algum tempo de serviço para que os salários cheguem a valores razoáveis. A Revista Sociedade Militar classifica os concursos para as Forças Armadas em concursos militares de base, concursos militares estratégicos e concursos militares de excelência, levando em consideração não só os salários nas Forças Armadas, mas também a possibilidade de emprego na vida civil.
O papel dos concursos militares como trampolim para o mundo civil
Muitos candidatos que optam por concursos militares não têm a intenção de fazer carreira dentro das Forças Armadas, mas veem esses concursos como uma oportunidade estratégica para conquistar estabilidade financeira, experiência profissional e qualificação antes de buscar outras oportunidades no setor público ou privado. Para esses concurseiros, as carreiras militares funcionam como um trampolim, uma etapa intermediária antes de alcançarem colocações melhores no mundo civil.
Com as recentes mudanças e insegurança na legislação que regula a vida dos militares, principalmente em relação à política salarial e tempo de serviço necessário até a transferência para a reserva na Marinha, Exército ou Força Aérea, a escolha do concurso militar correto se tornou ainda mais relevante, é uma decisão estratégica que pode definir todo o futuro do concurseiro.
Diante desse cenário, muitos enxergam a formação recebida dentro das escolas militares como um diferencial competitivo e se preparam desde cedo para uma transição bem-sucedida para o mercado civil. Aqueles que ingressam em concursos militares com maior aceitação no setor privado, como os da Escola Naval ou do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), encontram uma via facilitada para alcançar remunerações superiores e melhores condições de trabalho fora do meio militar.
Definição das categorias de concursos militares
- Concursos militares de base: oferecem estabilidade e salários razoáveis ao longo da carreira e salários na casa dos 8 mil reais somente após 25 anos de serviço como militar. A formação tem pouca valorização no mercado civil. Os diplomas adquiridos geralmente não são suficientes para garantir boas oportunidades fora das Forças Armadas.
- Concursos militares estratégicos: proporcionam remuneração inicial maior e possibilidade de crescimento na carreira militar, mas ainda com limitações no setor privado. Salários na casa dos 15 mil reais somente após 20 anos de carreira. Alguns desses concursos militares permitem uma transição mais favorável para o mercado civil, com necessidade de aperfeiçoamento ou especialização, principalmente em áreas técnicas ou náuticas.
- Concursos militares de excelência: garantem formação altamente qualificada e suficiente para amplas oportunidades no mercado civil. Os militares formados por essas instituições costumam ser disputados por empresas, especialmente nos setores de aviação e engenharia.
Alguns concursos de base
O concurso para a Escola de Sargentos do Exército (ESA) é um concurso militar de base, pois proporciona ao candidato aprovado e com curso concluído, já como terceiro-sargento, em menos de três anos, um salário na casa dos 4 mil reais e, em 30 anos de serviço, um salário que hoje está na casa de 11 mil reais.
Aqueles que se formam na ESA saem da academia militar com pouca possibilidade de disputar, de forma vantajosa, uma posição no mundo civil. A formação recebida no Exército não proporciona um diploma atrativo para grandes empresas, a não ser em cargos relacionados à segurança privada, entre outros.
Outro concurso considerado como de base é o para ingresso nas Escolas de Aprendizes-Marinheiros. O militar, após formado, tem possibilidade de receber um salário na casa dos 2,5 mil reais, e o diploma oferecido pela instituição não tem atratividade para grandes empresas.
Concursos militares estratégicos
Outros concursos militares podem ser considerados estratégicos, como o concurso para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), que garante o ingresso na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Os militares formados na AMAN recebem salários na casa dos 10 mil reais e têm a possibilidade, ao final da carreira, de receber salários entre 17 e 20 mil reais, com exceção dos que chegam ao chamado generalato, que podem receber até 23 mil reais líquidos.
Entretanto, militares formados na AMAN, apesar de receberem um diploma de curso superior em administração, não têm muitas possibilidades de aproveitamento na vida civil com os conhecimentos adquiridos. A formação é voltada para o mundo militar, e a principal meta daqueles que se formam e pedem demissão, a chamada baixa, é prestar algum concurso público, onde provavelmente receberão salários bem maiores com jornadas de trabalho mais brandas.
Ainda na categoria estratégica, mas com uma possibilidade de aproveitamento melhor na vida civil, está o concurso para a Escola Naval, pois, com formação na área de ciências náuticas, o militar que optar por dar baixa pode ser aproveitado na Marinha Mercante, quase sempre com um curso curto para acréscimo de conhecimentos.
Os concursos de excelência
Entre os concursos militares que proporcionam excelência para os aprovados estão o concurso para a Academia da Força Aérea (AFA) e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Os militares formados nesses centros de instrução têm altíssima chance de aproveitamento logo após a graduação e são responsáveis por uma alta taxa de evasão de oficiais recém-formados na Força Aérea Brasileira (FAB).
Com muita frequência, a FAB publica portarias divulgando a demissão de pilotos e engenheiros recém-formados pelas academias da instituição. As portarias com a demissão de oficiais, dada a importância do processo, são sempre assinadas pelo próprio oficial – general que comanda a força, que, neste momento, é o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno. Segundo apuração da Revista Sociedade Militar, os oficiais aviadores estão entre os que mais pedem demissão.
Um oficial aviador no posto de primeiro-tenente na Força Aérea tem salários entre 9 e 10 mil reais líquidos, enquanto um piloto iniciante na aviação civil pode receber salários entre 15 e 25 mil reais mensais, sem contar horas extras, plano de saúde, seguros, entre outros benefícios.
Segundo o jornal Valor Econômico, os pilotos empregados em empresas com sede na Região Sudeste do Brasil têm uma média salarial de 20 mil reais líquidos, além de um plano de saúde pago pela empresa. Para receber um salário nesse patamar dentro da Força Aérea Brasileira, o militar precisaria permanecer pelo menos 25 anos na instituição e alcançar o posto de coronel.