Internacional
Maiorca abre temporada com protestos contra turistas
Ilha espanhola é um dos principais destinos turísticos da Europa. Moradores criticam alta nos aluguéis e falta de moradia, enquanto alguns empresários se empenham em atrair visitantes mais endinheirados

É primavera em Maiorca e as gaivotas ainda têm a maior parte da Playa de Palma para si. Aquecendo-se ao sol, elas só levantam voo quando um visitante ocasional chega perto demais. Lentamente, a principal faixa turística da ilha espanhola se recupera do sono invernal.
Mas alguns quilômetros mais adiante, no coração de Palma, a capital da ilha, a situação é menos tranquila. No último fim de semana, milhares de manifestantes participaram de uma marcha organizada por 60 grupos que se opõem à indústria turística da ilha e exigem moradias acessíveis.
Os manifestantes afirmam que os aluguéis de temporada e os estrangeiros que compram propriedades na ilha são parcialmente culpados pela crescente dificuldade entre os habitantes locais para encontrar moradia acessível. Nos últimos dias, pichações culpando corretores pela escassez de imóveis apareceram em agências imobiliárias por toda a ilha.
Expulsos do mercado imobiliário
“A moradia se tornou um objeto de especulação”, diz Carme Reynes, uma das organizadoras do protesto. Ela é da pequena cidade de Sencelles, onde diz já não ser possível encontrar um apartamento para alugar por menos de 1,2 mil euros (R$ 7,7 mil) por mês.
Como a maioria das pessoas com renda média em Maiorca não têm condições de pagar um aluguel como esse, mais e mais pessoas estão dividindo apartamentos, diz Reynes.
“Sei de famílias inteiras vivendo em um único quarto”, diz a ativista à DW.
Enquanto isso, 180 apartamentos e casas em Sencelles estão disponíveis para aluguel de férias.
“Mais e mais pessoas estão deixando a ilha porque não podem mais viver aqui”, afirma Reynes.
Algumas semanas atrás, várias associações de cidadãos publicaram uma carta aberta aos turistas, causando comoção.
“Os moradores estão furiosos e não são mais hospitaleiros, porque a ilha que amamos está sendo destruída — e porque muitos estão sendo forçados a se mudar, já que Maiorca está se tornando inabitável”, diz o texto. “Não precisamos de mais turistas. Vocês são a causa do nosso problema. Fiquem em casa!”

Números recordes de turistas
Por anos, Maiorca tem sido um dos principais destinos turísticos da Europa, especialmente entre turistas alemães e britânicos que se aglomeram lá em busca de sol e praias.
Um recorde de 13 milhões de turistas visitaram a ilha em 2024, com ainda mais turistas esperados para este ano. Mas o turismo de massa tem colocado uma pressão imensa sobre os recursos naturais da ilha.
Sem as usinas de dessalinização de Maiorca, por exemplo, não haveria água potável suficiente. E durante os meses de verão, muitas praias, estradas e cidades ficam irremediavelmente superlotadas.
O governo regional reconheceu que as coisas não podem continuar assim.
“Chegou a hora de estabelecer limites”, anunciou no ano passado a presidente do Governo das Ilhas Baleares, Marga Prohens, acrescentando que “o turismo não pode continuar a crescer indefinidamente”.
O governo conservador, no entanto, tem evitado medidas drásticas. Embora tenha anunciado recentemente um aumento moderado no imposto de acomodação noturna, um imposto especial sobre aluguel de carros e regras mais rígidas para aluguéis de férias, é improvável que qualquer uma dessas medidas seja implementada em breve porque o governo não tem maioria parlamentar.
Em vez disso, os principais legisladores das Ilhas Baleares viajaram mais uma vez para as principais feiras de turismo em uma tentativa de promover ainda mais a região e explorar novos mercados. Este ano, por exemplo, a United Airlines aumentou o número de voos diretos oferecidos entre Nova York e Maiorca, uma rota introduzida pela primeira vez em 2022.

De olho nos turistas americanos
Muitos manifestantes de Palma veem essa promoção de viagens contínua como outro sinal de que seus políticos não levam a sério a limitação do turismo de massa.
O empresário Mika Ferrer, que lidera a iniciativa “Palma Beach”, espera que mais turistas americanos ricos visitem a ilha. Isso porque ele quer transformar Playa de Palma, famosa pelo turismo de festas regadas a álcool, em um destino de férias chique e sofisticado.
“Visitantes dos EUA consomem muito e gastam muito durante as férias”, disse Ferrer à DW. Para ele, tais turistas são preferíveis do que aqueles que vêm para festejar, comprar álcool no mercado a preços baixos e se comportar mal.
Por muitos anos, Palma vem tentando aprimorar a popular faixa de praia de Playa de Palma. Até agora, contudo, os esforços foram em vão.
Neste verão, as coisas devem ser diferentes. O prefeito de Palma, Jaime Martínez, anunciou recentemente um plano de segurança abrangente para evitar os excessos do passado.
O policiamento em Playa de Palma será aumentado, e os agentes terão apoio de sistemas de vigilância por vídeo e drones. O código de conduta turística, que proíbe a embriaguez em público, por exemplo, está em vigor há muito tempo, mas deverá ser agora devidamente fiscalizado. A ideia das autoridades é controlar o turismo em Playa de Palma através do estabelecimento de limites claros para o comportamento aceitável.
Enquanto isso, alheias a todo esse debate, as gaivotas na longa praia de areia seguem aproveitando a calmaria antes da tempestade.