Saúde
Dor de ouvido em crianças: erros comuns que podem agravar o quadro
Uso de antibióticos, puxar a orelha e até a utilização de azeite ou leite materno: médica esclarece dúvidas comuns e orienta quais são os cuidados corretos para proteger a saúde auditiva das crianças

A dor de ouvido é uma das queixas mais comuns entre crianças, especialmente em épocas de clima frio, e costuma gerar muitas dúvidas e preocupações entre os pais. Apesar de frequente, esse tipo de dor ainda é cercado por mitos que podem atrapalhar o cuidado adequado.
“As principais causas da dor de ouvido em crianças são as otites (inflamações ou infecções do ouvido), que podem ser classificadas em dois tipos: otite externa (infecção da pele do canal auditivo externo), geralmente causada por exposição frequente à água em atividades como banhos de mar ou piscina, ou pelo uso inadequado de cotonetes, e otite média (infecção do ouvido médio), que costuma surgir após quadros gripais ou outras infecções respiratórias. No entanto, é importante destacar que nem toda dor de ouvido está ligada a infecções. Existem dores que se originam em outras regiões próximas e irradiam para o ouvido, como o bruxismo, que pode causar disfunção temporomandibular, ou de infecções de garganta e dores dentárias”, explica a Dra. Bárbara Salgueiro, otorrinolaringologista pediátrica do HOPE – Hospital de Olhos de Pernambuco.
A exposição frequente à água, como em natação ou banhos prolongados, pode favorecer o surgimento de dor de ouvido, especialmente quando há remoção das barreiras naturais de proteção do ouvido externo. “Isso facilita a entrada de fungos e bactérias, podendo resultar na chamada otite do nadador. Nesses casos, é necessário ter atenção com os hábitos de higiene e prevenção”, comenta a médica.
Um erro comum é o uso de algodão nos ouvidos das crianças, prática que não é recomendada pelos especialistas. “O canal auditivo precisa estar ventilado, e o uso de algodão tende a abafar o local, aumentando a umidade e favorecendo a proliferação de fungos. Da mesma forma, o uso de objetos ou substâncias caseiras, como azeite ou leite materno, deve ser evitado, pois além de não trazerem alívio comprovado, podem agravar o quadro e dificultar o diagnóstico médico”, ressalta Salgueiro.
Alguns sinais devem servir de alerta para os pais e motivar a procura imediata por um otorrinolaringologista. Entre eles, a Dra. Bárbara explica que estão dores que não passam com medicação para dor comum ou que duram mais de 48 horas, febre alta (acima de 38,5°C), inchaço e vermelhidão atrás da orelha, presença de secreção saindo do ouvido, além de alterações no comportamento da criança, como irritabilidade excessiva ou sonolência.
“O tratamento inicial da dor de ouvido pode incluir o uso de analgésicos simples, como paracetamol ou ibuprofeno. Caso a dor persista, é necessária uma avaliação médica, com exame otoscópico, para determinar o tipo de otite e indicar o tratamento adequado, que pode envolver o uso de medicamentos tópicos, anti-inflamatórios ou antibióticos, dependendo da gravidade e do tipo da infecção”, diz a Otorrinolaringologista.
A prevenção das dores de ouvido em crianças envolve medidas simples e eficazes. A médica comenta que a principal delas é manter o calendário vacinal em dia, especialmente contra gripes e pneumococos, que estão entre os principais causadores de infecções de ouvido. “Além disso, deve-se evitar o uso de hastes flexíveis para limpar os ouvidos, manter a higiene das mãos, usar máscara em ambientes com risco de contaminação e evitar o contato com pessoas gripadas”, completa a Dra.
Muitas vezes, crianças pequenas não conseguem expressar com clareza o que estão sentindo, o que dificulta o diagnóstico precoce. Por isso, os pais devem ficar atentos a sinais como o ato de levar as mãos aos ouvidos, choro persistente, febre e secreções auriculares. Esses comportamentos podem indicar dor de ouvido, mesmo que a criança ainda não consiga verbalizar o desconforto.
Por fim, é importante desmistificar algumas crenças populares. “Nem toda dor de ouvido exige o uso imediato de antibióticos. Em muitos casos, especialmente em crianças maiores de dois anos sem sinais de gravidade, a infecção pode regredir com o uso apenas de analgésicos e observação. Outro mito comum é que a dor de ouvido impede totalmente o contato com a água da piscina, o que não é verdade em todos os casos. Se a infecção for uma otite média, por exemplo, a água da piscina não atinge o ouvido médio. Já na otite externa, o contato com a água deve ser evitado até a resolução do quadro. Também é incorreto afirmar que puxar a orelha é um teste confiável para identificar otite, já que isso pode causar dor apenas em alguns tipos de infecção e não serve como diagnóstico preciso. Por fim, práticas como colocar azeite ou leite materno no ouvido são perigosas e devem ser totalmente evitadas, pois podem agravar a infecção, causar lesões e interferir no diagnóstico médico”, esclarece a Dra. Bárbara Salgueiro.
A dor de ouvido infantil, embora comum, exige atenção e cuidado. “A orientação de um especialista é fundamental para garantir o tratamento adequado e evitar complicações. Ao desconfiar de qualquer sintoma, o melhor caminho é procurar avaliação médica e evitar intervenções caseiras sem respaldo científico”, finaliza a médica.