Educação & Cultura
Coordenação pedagógica: como planejar um calendário de formações para o segundo semestre
Em um momento ainda delicado de recomposição de aprendizagens, é hora de fazer um balanço do que deu certo no início do ano e organizar capacitações significativas e em diálogo com os professores para poder avançar
Desde que as aulas presenciais voltaram, as formações dos professores têm propiciado muita troca de experiências na Escola Estadual Dr. Pompílio Guimarães, em Leopoldina (MG). Por lá, a equipe sentiu fortemente os impactos que a pandemia da Covid-19 e o consequente ensino remoto tiveram no processo de aprendizagem dos alunos, já que a maioria deles não têm acesso de qualidade à internet.
Assim como em outras escolas do país, o processo de recomposição de aprendizagens na Dr. Pompílio Guimarães tem sido realizado em equipe. Nesse sentido, a coordenadora pedagógica Rosane Aparecida Martins Ferreira Tavares, que atua nos Anos Finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, se vê como uma facilitadora no compartilhamento de ideias e práticas durante as formações, ajudando os professores a lidarem da melhor forma com um processo tão delicado.
Ela considera as trocas muito ricas tanto nas formações quanto nas conversas informais e nas mensagens no grupo da equipe no WhatsApp. “Aprende-se mais trocando experiência. Os professores contam o que tem dado certo e que pode ajudar os colegas. Fotos dos projetos são postadas no grupo, e depois a gente discute isso em formações.”
Trilha de cursos gratuitos: Coordenação Pedagógica
Saiba como criar espaços de confiança com o corpo docente, realize formações significativas e tenha o PPP alinhado à BNCC.
Trocas e trabalho conjunto
Silvia Fuertes, coordenadora e formadora em projetos de formação continuada da Comunidade Educativa CEDAC, ressalta que o ensino remoto deixou, além de lacunas na aprendizagem, uma evidência ainda maior sobre as desigualdades presentes dentro das escolas. “A gente sabe que sempre existiram os grupos heterogêneos mas, após o período de afastamento causado pela pandemia, essas diferenças ficaram muito evidentes em relação ao que cada um aprendeu.”
Para a especialista, mais do que nunca é momento dos coordenadores pedagógicos se colocarem como verdadeiros parceiros dos professores, apoiando-os nas diversas dificuldades para construção de propostas e experiências que auxiliam na recomposição de aprendizagens. Nesse contexto, a formação continuada aparece como um dos elementos a serem explorados para estabelecer essa parceria e criar um canal de troca.
“Há uns anos, o papel do coordenador era visto como de controle e fiscalização. Hoje, a gente sabe que é uma função que vai muito além disso. O coordenador é alguém que se coloca como parceiro do professor para que ele possa avançar no seu desenvolvimento profissional e aprimorar suas práticas para ensinar”, afirma Silvia. Ela reforça que as formações são momentos de troca, análise das práticas, trabalho em grupo entre os professores e criação de planejamentos colaborativos.
Analisando evoluções e seguindo em frente
Depois de um primeiro semestre tão complexo, julho é o mês que muitos coordenadores pedagógicos vão usar para consolidar o balanço dos últimos seis meses e traçar estratégias para o período seguinte. Os desafios relacionados à recomposição das aprendizagens devem continuar presentes, mas é hora de avançar.
Para isso, o planejamento de um cronograma de formações para o segundo semestre é essencial. Arleide Hilário Freitas, coordenadora pedagógica do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental na Escola Professora Verônica Pereira de Araújo, em Pindoretama (CE), já começou a se preparar com um passo que vem antes do planejamento em si: o balanço do primeiro semestre.
Na última semana de junho, ela se reuniu com os professores e conversou a respeito da evolução dos alunos, que já vinha sendo avaliada ao longo de todo o semestre. “A gente vem diagnosticando as crianças com frequência para fazer as ações e ter um retorno. Temos tido esse retorno, mas agora é pensar no planejamento de longo prazo”, diz.
Além de consultar os professores da sua escola, Arleide troca muitas experiências com coordenadores pedagógicos de outras unidades, já que o balanço geral da rede a tem ajudado a ter novas ideias para se planejar.
Em Leopoldina, Rosane também está sondando com os professores quais aspectos devem aparecer no cronograma do segundo semestre, por meio de conversas individuais, reuniões e autoavaliações dos docentes. A equipe pedagógica também conta com o auxílio dos estudantes para fazer esse balanço de fim de ciclo. Os representantes de classe participam dos conselhos escolares, relatando as impressões das turmas e as principais demandas dos estudantes, o que ajuda a coordenadora a pensar em temas para aprofundar com os professores.
Como fazer o balanço do semestre e traçar os próximos passos
O Planejamento das formações deve considerar diferentes instrumentos, como materiais produzidos pelos estudantes, sondagens com os docentes e registros feitos pela coordenação
Silvia Fuertes, da Comunidade Educativa CEDAC, recomenda que o balanço a ser feito para planejar as próximas formações leve em conta diversos aspectos. O objetivo é obter uma avaliação do desenvolvimento escolar como um todo, traçando estratégias para auxiliar os professores a atingirem os objetivos em sala de aula. Essa observação vai além das provas dos estudantes e dos relatos dos docentes e pode incluir:
- registros formais dos professores
- instrumentos próprios de observação que o coordenador utilizou ao longo do semestre, como anotações durante observações em sala de aula
- materiais produzidos pelos alunos em projetos e exposições
- registros de reuniões de conselho de classe
“Tudo isso vai oferecer elementos e pistas [para saber] em que é preciso investir”, destaca a especialista. “A partir daquilo que foi observado e dessa análise, o coordenador vai elaborar um plano de formação para o segundo semestre que costure as necessidades que ele identificou a partir desse acompanhamento das aprendizagens com as necessidades formativas dos próprios professores”. Ela ressalta que essas decisões também podem ser tomadas em parceria com o diretor escolar.
Planejar e replanejar
Depois de feito o balanço, é hora do coordenador pedagógico planejar os temas que serão abordados nas formações do segundo semestre. Para Silvia, a palavra-chave é “equilíbrio”: o profissional deve levar em consideração tanto o seu levantamento pessoal quanto as informações que obteve nas sondagens realizadas com os professores.
“Da mesma forma que a gente fala que os professores precisam escutar as crianças, o coordenador pedagógico também precisa escutar os seus professores”, afirma a formadora. Ela lembra do conceito de homologia de processos, que propõe que o gestor adote com os docentes estratégias que ele espera que sejam incorporadas à prática pedagógica dos professores. “Esses educadores também são sujeitos que estão aprendendo e que carregam suas histórias e experiências profissionais. Por isso, devemos realizar com eles esse mesmo processo que a gente quer que eles façam com as crianças. A gente também quer que eles deem voz para as experiências das crianças e costurem essas experiências com os objetos de aprendizagem.”
Diante disso, também é importante que o planejamento tenha uma certa flexibilidade para absorver novas demandas dos docentes ou dos alunos que possam surgir ao longo do semestre. “A gente planeja e executa. Se não deu certo, a gente volta, vê o que aconteceu e planeja novamente. Estamos sempre nesse ciclo”, comenta Arleide.
Além dessa flexibilidade, o planejamento precisa ter bastante intencionalidade por parte da equipe gestora. Isso significa que o coordenador deve saber onde pretende chegar e qual o caminho para a equipe alcançar os objetivos. Isso necessita estar bem definido não somente para o coordenador, mas também para todos os professores. “É importante que, quando for compartilhar esse plano de formação com a equipe, o coordenador possa explicitar o porquê dessa escolha e abrir espaço para que os professores falem, coloquem suas impressões e façam contribuições”, orienta Silvia.
Gestão escolar: planeje as formações da equipe
Acesse roteiros e materiais para formação de professores, com foco na reconexão dos alunos com a comunidade escolar e na organização do trabalho pedagógico no retorno presencial à escola.
Reflexões para qualificar as práticas
Apresentar o planejamento aos professores antes do início do semestre, permitindo colaborações é a estratégia adotada por Arleide e a equipe gestora. “A gente nunca toma uma decisão sozinha na escola”, conta.
Depois da escolha de temas e do planejamento feito, as formações devem ser realizadas de forma a acolher os professores e propiciar momentos de troca de experiências “É importante que os encontros formativos tenham muito diálogo e interações entre os pares e que os professores possam refletir sobre o que eles fazem, por que fazem, como fazem e busquem qualificar ainda mais essas práticas a partir das discussões que forem surgindo ali no grupo”, salienta Silvia.
A especialista também lembra que o coordenador pode pesquisar e indicar materiais que ajudem os professores, trazer exemplos práticos para as formações, sejam de dentro ou de fora da unidade escolar, relacionar referências teóricas com a prática cotidiana e utilizar estratégias formativas atrativas, com discussões, dinâmicas e mídias. “A formação precisa contribuir para os docentes enfrentarem os problemas do dia a dia. Eles precisam ver sentido no momento e no assunto que está sendo trabalhado.”
Consultoria pedagógica: Alline Soares, educadora e formadora de professores.
Fonte: Nova Escola