CIÊNCIA & TECNOLOGIA
O que é gargalo no PC?
Num suposto relatório que seria do FBI, é dito que o inventor Nikola Tesla era de Vénus. Bom, considerando suas contribuições para a humanidade, podemos dizer, no mínimo, que ele estava muito à frente do seu tempo. Outras tantas personalidades poderiam muito bem compartilhar uma moradia com Tesla em outro planeta. Dentre eles um grupo de cientistas húngaros que fizeram história nos EUA pós-segunda guerra.
Um deles tem uma participação seminal no campo da computação, a lenda Jonh Von Neuman, considerado um dos homens mais brilhantes do século XX. Sua contribuição mais midiática é a arquitetura que leva seu nome, e que é uma base estrutural de entendimento e aplicabilidade sobre a computação digital, em que programas são armazenados no mesmo espaço de memória em que os dados, conceito concebido a partir de 1946.
Essa ideia quebrava o paradigma pré-arquitetura. Antes do EDVAC, um dos primeiros computadores eletrônicos, todas as máquinas eram programadas por meios externos, como cartões perfurados. Durante o envolvimento com o EDVAC, Neumann cunhou uma expressão que ainda utilizamos com frequência, principalmente no meio gamer. O gargalo. Alguns documentos revelam que o tal gargalo a que ele se referia era utilizado para comentar as dificuldades de projeto e funcionamento da memória.
Quando olhamos para uma garrafa, o gargalo, conectado ao pescoço do vasilhame, impede a passagem plena do líquido, há uma restrição no fluxo.
Constituição física que favorece a sustentação e ao ato de servir a bebida. No mundo da computação, o gargalo ficou apenas com o contexto negativo. É um fator limitador de performance. Limitações que podem ser ocasionadas por um balanceamento inadequado da configuração, deficiência, ou recurso de segurança que visa proteger o componente.
Por exemplo, SSDs M.2 NVMe, além de entregar mais desempenho, quando comparados as unidades SATA AHCI, chamam atenção por sua temperatura de operação mais elevada.
Caso a temperatura do SSD M.2 esteja acima do que o projeto foi concebido como o limiar do pleno funcionamento, pode ocorrer uma limitação térmica, o Thermal Throttling, que visa reduzir a temperatura do componente, a fim de preservá-lo. Evidentemente isto tem um preço: queda momentânea na performance.
Analisando o gargalo de forma mais ampla, o Thermal Throttling pode ser entendido como tal. O desbalanceamento na configuração faz com que algum componente atue diretamente para jogar pra baixo o desempenho geral do computador ao executar alguma tarefa. O gargalo se faz presente com mais alarde durante a atividade de uma aplicação que exige alto poder computacional, como a execução de jogos.
Normalmente, o gargalo é mencionado nos momentos em que o processador do PC é inferior a uma placa de vídeo, ou vice-versa.
Mas é importante reforçar que o gargalo pode vir de onde você menos espera. Pare um segundo pra pensar. Qual componente, considerando uma configuração gamer, costuma ser negligenciado por muitos usuários? Se você pensou na fonte de alimentação, estamos totalmente de acordo.
Embora seja crucial para manter tudo devidamente ligado, e até mesmo atuar como um fator de proteção, que impacta diretamente na longevidade dos componentes, muitos ainda dão pouco crédito para a fonte de alimentação quando estão esquematizando a configuração. Esse desleixo pode ser um fator preponderantemente de gargalo. Uma fonte subdimensionada é um erro gravíssimo e frequente na montagem de computadores.
Outro ponto evidente de um gargalo é o foco pleno na placa de vídeo. É comum que muitos comprem uma placa de vídeo que esteja bem acima do que determinado processador pode “empurrar”, em determinados contextos. É gargalo na certa.
A memória RAM também pode entrar na equação. Um bom processador combinado com uma placa de vídeo adequada, mas com uma configuração abaixo em termos de RAM, que tal aplicação exige, também terá um impacto na equalização da configuração.
Também é importante mencionar que o gargalo para um determinado contexto pode perder sua importância prática quanto outro cenário é colocado em questão. Novamente, vou usar aqui o contexto de games.
Caso o seu foco seja desfrutar de games na resolução 4K, sua “paranoia” com o processador que casará com a placa de vídeo será infinitamente menor quando comparado com quem joga numa resolução mais baixa, como o Full HD. Resoluções mais altas necessitam muito mais da placa de vídeo do que do processador.
Este teste do Linus Tech Tips mostra a equivalência em performance que um processador Core i3-8100 (4 núcleos/4 threads), combinado a uma RTX 2060, tem quando comparado com Core i9-9900K (8 núcleos/16 threads) usando a mesma placa de vídeo.
A diferença pode até ser maior dependendo da VGA que esteja emparelhada com a CPU, mas o fato é que, com o aumento de resolução, a importância da placa de vídeo como fator primário é superior. Outra constatação nua e crua é que dificilmente você conseguirá se livrar totalmente do gargalo, ele pode advir até mesmo de lugares que fogem completamente do seu controle, como algum bug do sistema operacional que cause impacto na performance, e que dependerá de um patch para que isso seja atenuado.
Aliás, a paranoia em relação ao gargalo, assim como a paranoia de números frios de softwares de monitoramento, não deveriam nortear a experiência de ninguém ao mexer com o PC, mas, é aquilo, certas coisas não culturais da plataforma. A busca pelo ajuste fino é praticamente um mantra de boa base dos usuários de PC. É uma batalha eterna.
Há alguns meses, o Adrenaline fez uma matéria sobre como escolher a placa de vídeo e processador, e neste artigo eles citam um novo bom ponto de vista sobre o gargalo. Trocar a mentalidade do gargalo pelo “dá conta”. A combinação ideal, na medida do possível, que faça sentido para suas demandas, sejam elas games ou aplicações específicas.
Há algumas maneiras de compreender melhor este balanceamento com o intuito de reduzir a incidência do gargalo sobre pontos fundamentais da configuração. Uma delas é buscar análises dos componentes que você tenha interesse, e outra opção muito válida são as “calculadoras de gargalo”.
Com essa ferramenta você aponta o processador e a placa de vídeo desejada, determina qual será a demanda principal e a resolução preterida, e a calculadora se encarrega de indicar se haverá um casamento perfeito entre esses componentes.
Como vimos ao longo do artigo, o gargalo proveniente do processador e da placa de vídeo é apenas a ponta do iceberg no tema.
Portanto, a dica final é que você tente dar atenção para a configuração em sua totalidade.