Educação & Cultura
18 indicações culturais para aproveitar nas férias
Especialistas e educadores dão sugestões de livros, filmes, documentários e podcasts que prometem boa companhia e formação aos professores durante o período de descanso
Mais um ano intenso de trabalho se aproxima do fim, e chega o momento de descansar! Para garantir boa companhia aos professores durante as férias, NOVA ESCOLA ouviu especialistas e educadores, que indicam sugestões de passeio, podcasts, livros, filmes, série, documentários e programa de TV.
As produções abordam uma diversidade de questões, como racismo, inclusão, autocuidado e histórias de vida, e provocam reflexões sobre temas relevantes do mundo contemporâneo. Além de ampliarem o repertório cultural, essas dicas também prometem diversão e estímulo para a criatividade. Confira as indicações:
Passeio
Quem indica: Antonio Bara Bresolin, diretor executivo do D3e – Dados para Um Debate Democrático na Educação.
Também conhecida como Estrada Velha de Santos, a Caminhos do Mar fica no Parque Estadual Serra do Mar, entre as cidades paulistas de São Bernardo do Campo e Cubatão. Ao longo de oito quilômetros pela Mata Atlântica, os visitantes podem conhecer nove monumentos construídos pelo arquiteto Victor Dubugras em 1922 para comemorar o centenário da Independência do Brasil. “Tem obras como o Belvedere Circular, a Calçada do Lorena e o Pouso Paranapiacaba. O passeio também vale pela paisagem natural incrível da Mata Atlântica”, recomenda Antonio.
Podcasts
Quem indica: Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Vidas negras importam. E, aqui, elas são celebradas”, diz a apresentação do podcast do jornalista Tiago Rogero. Disponíveis no Spotify, os episódios analisam e entrelaçam as trajetórias e as obras de personalidades da história e da atualidade. “Ele narra com maestria a vida das pessoas negras no Brasil. Cada episódio é um presente, com muitas descobertas, aprendizagem e emoção”, afirma Telma.
Quem indica: Regina Scarpa, educadora e diretora pedagógica da Escola Vera Cruz, em São Paulo (SP).
Todas as quintas-feiras, Mano Brown lança um novo episódio de seu podcast no Spotify. Ele traz uma diversidade de temas relevantes para pensar e compreender melhor o Brasil. “Recomendo especialmente as conversas com Sueli Carneiro e Silvio Almeida, dois intelectuais negros que nos ajudam a enxergar as questões do racismo no país, o antirracismo e as relações interraciais. São verdadeiras aulas para quem trabalha com educação, que contribuem com o nosso letramento racial”, explica Regina.
4. Live do podcast Mano a Mano com Angela Davis
Quem indica: Diego Elias, coordenador-geral do Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (Cieja) CIEJA Campo Limpo, em São Paulo (SP).
O podcast Mano a Mano lançou o formato de entrevistas por vídeo, ??com legenda e tradução em Libras. Para a estreia, a convidada foi Angela Davis, filósofa e ativista americana. “Vale muito a pena ver o processo cultural na periferia crescendo, ganhando proporções gigantes, como essa entrevista com a Angela Davis. Ela cita Paulo Freire, fala da questão racial nos EUA e no Brasil também”, comenta Diego.
Quem indica: Juarez Xavier, professor da graduação e pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da comissão de averiguação das autodeclarações para pretos e pardos no vestibular.
A história do Brasil é complexa e cheia de personagens dos quais não temos muitas notícias por meio da maioria dos livros didáticos. O Projeto Querino, do jornalista Tiago Rogero, surge para, enfim, contar essas histórias. “É um bom material para quem tem interesse em ampliar esse manancial extraordinário de estudos sobre as questões da diversidade e das relações étnico raciais. Essas questões são imprescindíveis para compreender aspectos do Brasil e para uma educação crítica e cidadã”, diz Juarez.
Livros
6. O infinito em junco: a invenção dos livros no mundo antigo, Irene Vallejo (Editora Intrínseca)
Quem indica: Tereza Perez, diretora-presidente da Comunidade Educativa Cedac
“É uma preciosidade que encanta quem tem paixão por livros”, destaca Tereza. A obra conta a história dos livros desde sua criação, milênios atrás, passando por todos os modelos e formatos que esse objeto adquiriu ao longo do tempo. E é protagonizada pelas pessoas que, muitas vezes, são apagadas das histórias, mas graças a elas a produção de um livro é possível, como contadores de histórias, escribas, iluminadores [que produziam as iluminuras], tradutores, vendedores ambulantes, professores, sábios, espiões, rebeldes, freiras e aventureiros.
“A autora nos lembra do poder que os livros representavam e da íntima relação entre a escrita e o comércio. Vallejo conta que o livro-caixa precede os livros: ‘Primeiro as contas, depois os contos’, afirma a autora. Além de linda, a obra é uma viagem no tempo e um convite para apreciarmos o que ela chama de palavras aladas, que assumem vida própria depois de escritas”, completa Tereza.
7. A lição final, Randy Paush (Editora Agir)
Quem indica: Fernando Trevisani, educador, formador de professores e especialista em metodologias ativas.
As universidades americanas costumam convidar grandes mestres para proferir uma hipotética palestra final, para que eles compartilhem sua sabedoria, como se fosse sua última oportunidade. Randy Paush, professor na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, Pensilvânia, foi um dos convidados. Com o anúncio de que lhe restavam apenas seis meses de vida devido a um câncer, ele realizou a palestra Concretizando realmente seus sonhos de criança.
“Ele resolveu dar sua última aula para mais de 400 pessoas e escreveu esse livro para deixar os ensinamentos para seus três filhos pequenos. O livro pode parecer triste, mas trará reflexões sobre a vida, filhos, trabalho e mudará o olhar de quem topar lê-lo”, aposta Fernando.
8. Entre o mundo e eu, Ta-Nehisi Coates (Editora Objetiva)
Quem indica: Serge Katembera, sociólogo congolês que pesquisa, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a influência das novas tecnologias da informação na democratização da África francófona.
O que é habitar um corpo negro e encontrar uma maneira de viver dentro dele? Como podemos avaliar de forma honesta a história e, ao mesmo tempo, nos libertar do fardo que ela representa? Estas são algumas das perguntas que o jornalista americano Ta-Nehisi Coates traz em sua obra, que articula questões da história com as preocupações mais íntimas de um pai em relação a seu filho.
“É um livro que tem uma abordagem totalmente nova da questão racial e adota um estilo muito pessoal, em forma de uma carta de um pai para seu filho. Nela, o tema racial nos Estados Unidos é abordado sem tabu e da maneira mais radical que já vi. Mas não é uma radicalidade agressiva. É apenas uma mudança de perspectiva sobre o ‘sonho’ da democracia americana”, aponta Serge. Segundo ele, Coates também não pretende ter respostas para todos os problemas do racismo nos EUA. “Seu objetivo é antes de tudo despertar seu filho e colocá-lo diante da realidade que são os EUA, para além do ‘sonho’.”
9. Cartas para minha avó, Djamila Ribeiro (Editora Cia das Letras)
Quem indica: Renata Frauendorf, coordenadora de projetos no Instituto Avisa Lá.
Ao revisitar sua história para discutir temas como ancestralidade negra e os desafios de criar filhos numa sociedade racista, a filósofa reflete sobre várias questões. Entre elas, as agressões que sofreu como mulher negra no Brasil, os desafios para integrar a vida acadêmica, os relacionamentos amorosos e as amizades que marcaram sua vida.
“Linda e sensível história em que a autora, na forma de cartas para sua avó, partilha suas memórias, trazendo passagens de sua infância e adolescência. Um livro que aborda uma temática atual e necessária ao discutir questões como ancestralidade negra”, indica Renata.
10. Talvez você deva conversar com alguém, Lori Gottlieb (Editora Vestígio)
Quem indica: Paolla Vieira, diretora da rede Conectando Saberes.
“Após um ano de muito trabalho, recomendo um livro que me surpreendeu bastante e me fez refletir sobre processos internos”, diz Paolla sobre a obra, que combina histórias de Lori, enquanto terapeuta e paciente, que lançam luz sobre perguntas, ansiedades e mistérios que rondam as vidas humanas.
“O livro trata de temas triviais a complexos, não apenas dos pacientes da Lori, terapeuta e personagem principal do livro, mas também de seus momentos de empatia, das suas próprias questões e como lidar com o que é seu e do outro”, ressalta Paolla. “Ele provoca autorreflexão, além da valorização do processo de falar e escutar. A obra te envolve, acolhe e traz leveza em muitos momentos, tudo que precisamos para as férias.”
11. Educação inclusiva de bolso, Liliane Garcez e Gabriela Ikeda (Editora do Brasil)
Quem indica: Liliane Garcez, consultora em políticas públicas com foco na Educação Inclusiva e idealizadora do Coletivxs, que desenvolve projetos educacionais colaborativos e inclusivos.
Como surge a ideia de que a Educação é um direito de todas as pessoas e não um privilégio de poucos? Na prática, será que todos estão mesmo incluídos nos processos educativos? Para debater essas questões, a obra apresenta o surgimento do conceito de Educação Inclusiva, desde acordos internacionais até as políticas públicas brasileiras. “Falamos sobre como tudo isso chega na escola e o que podemos fazer com o objetivo de reduzir a distância entre política pública, movimento social e escola”, explica Liliane.
12. Por terra e território: caminho da revolução dos povos do Brasil, Joel Ferreira e Erahsto Felicio (Editora Teia dos Povos)
Quem indica: Braz Nogueira, ex-diretor da Escola Municipal Campos Salles e um dos principais responsáveis por transformar a comunidade de Heliópolis, em São Paulo (SP), em “bairro educador”.
“A revolução e a verdadeira Educação só podem vir por meio dos movimentos populares”, defende Braz. Nesse contexto, ele indica esta obra, que trata de uma proposta de construir uma aliança preta, indígena e popular, em busca das soberanias hídrica, alimentar, energética, pedagógica e até de autodefesa, trazendo os povos como verdadeiros faróis de resistência e rebeldia. O prefácio foi escrito por Rosa Tremembé, liderança da Teia dos Povos e das Comunidades Tradicionais do Maranhão.
Filmes
13. No Ritmo do Coração (CODA), Sian Heder. Duração: 1h 51min.
Quem indica: Liliane Garcez, consultora em políticas públicas com foco na Educação Inclusiva e idealizadora do Coletivxs, que desenvolve projetos educacionais colaborativos e inclusivos.
O filme, disponível na Amazon Prime, conta a história da jovem Ruby, a única capaz de ouvir, em uma família de pessoas surdas. Ela vive a jornada de conciliar o trabalho com o pai em um barco de pesca, o papel de ser intérprete da família no dia a dia e seu sonho de estudar música. “Este filme, que teve o primeiro ator surdo a ganhar o Oscar, traz a temática da comunicação e do uso da Língua de Sinais Americana. Aborda também a necessidade de quebrar barreiras de comunicação para pertencer a um circuito mais amplo de pessoas, composto por ouvintes e pessoas surdas”, descreve Liliane.
14. Argentina, 1985, Santiago Mitre. Duração: 2h 20min.
Quem indica: Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A Argentina, que viveu uma ditadura entre 1976 e 1983, realizou um julgamento da junta de militares responsável pelo período mais violento do país, retratado no filme da Amazon Prime. Organizações de direitos humanos estimam que 30 mil pessoas desapareceram durante aqueles anos. “A violência que marcou o país, ao invés de ser ignorada, foi enfrentada com coragem e muito trabalho. As vítimas relataram suas histórias, humanizando os dados e obtendo justiça, de forma que o que aconteceu não seja esquecido e nunca mais ocorra”, salienta Telma.
Série
15. Uma advogada extraordinária
Quem indica: Liliane Garcez, consultora em políticas públicas com foco na Educação Inclusiva e idealizadora do Coletivxs, que desenvolve projetos educacionais colaborativos e inclusivos.
A série sul-coreana da Netflix conta a história de uma advogada de 27 anos que recebe o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mostra desde os desafios de sua infância, enfrentando o bullying, até sua ascensão como advogada bem sucedida, resolvendo casos criminais incomuns e complexos. “Acompanhamos a vida da personagem no mundo do trabalho, as barreiras que ela encontra para ter a vida que ela quer e seus desafios na relação com o pai, a mãe, os colegas de trabalho, as pessoas que vão contratar seu serviço e o sistema judiciário”, detalha Liliane.
Documentários
16. Extermine todos os brutos, Raoul Peck. Duração: 4 episódios de 60 min.
Quem indica: Serge Katembera, sociólogo congolês que pesquisa, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a influência das novas tecnologias da informação na democratização da África francófona.
“O documentário é fundamental para os professores e deveria fazer parte de todos os currículos escolares”, indica Serge. A narrativa, original da HBO, faz uma leitura do tráfico de escravizados e da escravização, do extermínio dos indígenas nos Estados Unidos e da colonização na África e na Índia, colocando em xeque os fundamentos da ascensão da cultura ocidental.
“Não é uma condenação gratuita e motivada pela vingança de uma pessoa que odeia os brancos. É a visão de um cidadão haitiano que viveu no Haiti, no Congo, na França e nos Estados Unidos. Ele questiona quem ele é tendo em vista a sua trajetória, fala da filha que nasceu em Uganda e estudou nos EUA, dos irmãos, um dos quais participou da Guerra do Vietnã, e dos pais, que passaram 25 anos na África. E, no fim, pergunta: quem sou eu? Ao contrário do que pode sugerir o título, trata-se de um documentário sobre a esperança”, conta Serge.
17. Um lugar para todo mundo, Olivier Bernier. Duração: 1h 43min.
Quem indica: Liliane Garcez, consultora em políticas públicas com foco na Educação Inclusiva e idealizadora do Coletivxs, que desenvolve projetos educacionais colaborativos e inclusivos.
O documentário acompanha a trajetória de Emílio, uma criança de 3 anos, e de sua família em busca de uma escola inclusiva na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. A obra, disponível em várias plataformas e canais, também possui um rico material complementar. “É interessante ainda para podermos comparar com o nosso sistema educacional e perceber que, apesar de ser carente e com defeitos, também tem suas potências em relação ao sistema norte americano”, sugere Liliane.
Programa de TV
18. Educando para a diversidade
Quem indica: Juarez Xavier, professor da graduação e pós-graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da comissão de averiguação das autodeclarações para pretos e pardos no vestibular.
O programa da TV UNESP, que pode ser assistido toda quarta-feira, às 10h30, pela televisão ou pela internet (Youtube e site), traz diálogos sobre os vários aspectos da diversidade e reflexões sobre cidadania e inclusão e promoção de uma sociedade pautada na cultura de paz e na empatia.
“Para tentar contribuir com o debate da questão étnico-racial de forma interseccional com as questões de gênero, de classe social e políticas sociais modernas, o programa traz temas como a questão racial, de gênero, indígena, da terceira idade, da mulher no mercado de trabalho e das populações em situação de vulnerabilidade. O objetivo é contribuir com uma Educação emancipadora, cidadã, crítica e criativa”, finaliza Juarez.