Educação & Cultura
CHICO REI: O REI DO CONGO QUE FOI ESCRAVIZADO NO BRASIL
Ninguém sabe ao certo se Galanga, também conhecido como Chico Rei, foi apenas uma lenda da instituição da escravidão no Brasil ou se realmente existiu. O excesso de história ao redor de seu nome, porém, principalmente no que diz respeito a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais – onde tudo aconteceu –, nos leva a crer que foi verdade.
Galanga era rei no Congo antes de ser capturado com sua família por portugueses para ser traficado e vendido como escravo para o Brasil. Ao longo do trajeto, ele perdeu mais do que a humanidade, riquezas, títulos e a liberdade, ele perdeu sua família também. Sua esposa, a rainha Djalô, e a filha, a princesa Itulo, foram lançadas ao mar e morreram afogadas.
Em meados de 1740, o então rei congolês e seu filho Muzinga chegaram ao Rio de Janeiro, onde ele foi rebatizado Francisco, ou Chico, e levado por um major para trabalhar na Mina da Encardideira, em Vila Rica (atual Ouro Preto).
Um homem incansável
De acordo com um documentário da Brasil Paralelo, entender a história de Chico é, primeiro, lançar um olhar para o período de exploração da mineração na cidade de Ouro Preto, onde foi aberta a mão por escravos africanos a primeira mina do Brasil.
Em meio aos escravizados estava Chico, comprado no Congo por sua experiência prévia com mineração, assim como os demais. O que torna ainda mais notória a história do então rei é que ele teria vivido intensamente cada dia, sem perder seus valores, apesar da situação na qual estava. Segundo relatos populares, ele ia trabalhar cantarolando e sempre com um sorriso no rosto.
Acredita-se que isso tenha conquistado o respeito dos demais escravizados e até mesmo do major, chefe da mina, com quem ele foi estreitando laços até que revelasse ser um rei no Congo antes de ser escravizado.
Impressionado, o major teria entrado em uma empreitada para garantir a alforria de Chico enquanto ele se tornava cada vez mais um líder querido entre os escravizados que trabalhavam na mina.
O legado do rei
Um lado da história diz que o major conseguiu alforriar Chico, enquanto outro ressalta que o rei trabalhou duro para comprar sua liberdade e a de Muzinga. O major teria morrido aos 75 anos, sem deixar herdeiros, alforriando o rei e doando a atual Mina Chico Rei ao ex-escravo.
Livre, Chico continuou a trabalhar até que ficasse rico, se estabelecendo como uma espécie de divindade para os escravizados ao comprar a liberdade deles. Foi assim que ele adquiriu o nome “Chico Rei”, tanto pela sua ascendência quanto pelo comportamento nobre.
Ao longo de sua vida, Chico Rei teria erguido a Igreja de Santa Efigênia, em 1785, em Vila Rica, com a ajuda dos ex-escravizados da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. A Mina Encardideira, onde Chico começou como escravo, foi outro local que ele comprou e deixou como legado histórico, rebatizando-a de Mina Chico Rei.
O nobre morreu de hepatite aos 72 anos e, até hoje, é celebrado em festas populares por Ouro Preto todo mês de janeiro; exaltado por meio da dança, do canto e de uma belíssima procissão.