CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Conheça 8 vírus “zumbis” revividos a partir do gelo e permafrost do Ártico
Como inúmeras notícias nos últimos tempos deixam claro, o solo e os rios congelados e as geleiras do Ártico não são território estéril, e abrigam micróbios dos mais antigos. Vírus e bactérias com milhares de anos estão preservados nas camadas pré-históricas de permafrost, o gelo permanente das regiões mais frias do planeta. Com aumentos de temperatura, muito deste gelo pode derreter, tirando microorganismos desconhecidos de seu estado letárgico e lhes dando a capacidade de infectar os mais diversos animais.
Esse risco é ainda maior se levarmos o aquecimento global em consideração, que faz mais gelo derreter do que o normal, chegando em áreas que não derretem há centenas ou mesmo milhares de anos. Para a nossa sorte, até agora cientistas identificaram apenas vírus que infectam outros organismos unicelulares chamados amebas no permafrost do norte.
Não há evidências de outros tipos de vírus sobrevivendo há tanto tempo no gelo, embora não exista razão para que não conseguissem, afinal todos esses agentes infecciosos têm a mesma capacidade de ficar inertes quando fora da célula hospedeira.
Pesquisadores afirmam que não arriscariam isolar vírus que pudessem infectar mamíferos modernos, como nós — ao menos é o que disse o cientista Jean-Michel Claverie, biólogo computacional que trabalha com vírus exóticos na Universidade Aix-Marseille, na França, ao site LiveScience. Para saber mais e ter certeza de que, até agora, só descobrimos criaturas inofensivas no gelo, que tal conhecer 8 vírus que os cientistas descobriram no derretimento do permafrost?
1. Megavirus mammoth
O primeiro vírus da família Mimiviridae descoberto no permafrost foi o Megavirus mammoth. Os mimivírus foram os primeiros que a ciência classificou como vírus gigantes, desde que uma amostra foi encontrada na água de uma torre de resfriamento em Bradford, na Inglaterra, em 1992.
Esse tipo específico infecta amebas e tem partículas com 0,5 micrômetro de diâmetro, encapsuladas em facetas triangulares idênticas de 20 lados. Os megavírus, alguns dos quais você vai conhecer nesta matéria, são uma subfamília dos Mimiviridae e possuem as mesmas características.
A linhagem nova, que recebeu o nome de M. mammoth, foi encontrada em um pedaço de gelo com restos de lã de mamute de 27.000 anos, nos bancos do rio Yana, na Rússia. A região é famosa por trazer esse tipo de descoberta à ciência, de mamutes a micróbios incrivelmente preservados na neve e no gelo.
2. Mollivirus sibericum
Tendo de 0,6 a 1,5 micrômetros de diâmetro, o Mollivirus sibericum foi encontrado em uma amostra de permafrost siberiano com 30.000 anos, grandes o suficiente para serem visíveis em um microscópio ótico e se qualificando para serem vírus gigantes. Mais ou menos esférico, o micróbio é cercado por uma camada protetiva de cílios e pode produzir de 200 a 300 novas partículas virais a partir de cada ameba que infecta.
O M. sibericum não oferece perigo a qualquer animal, incluindo nós, humanos, mas o fato de que outro vírus (Pithovirus sibericum) foi encontrado junto a ele na amostra sugere, segundo pesquisadores, que outros patógenos dormentes podem estar escondidos no gelo. Parentes virais distantes que infectaram antigos humanos ou animais da Sibéria poderiam voltar à superfície após o derretimento ou poluição do permafrost por atividades industriais.
3. Pithovirus sibericum
O Pithovirus sibericum é um dos maiores vírus já encontrados, com 1,5 micrômetros de comprimento — o mesmo que uma pequena bactéria. Os vírus gigantes, grupo do qual ele faz parte, possuem duas fitas de DNA, e, fora algumas exceções, são visíveis em microscópios óticos. Este, em específico, tem um formato oval e “paredes” grossas, apresentando uma abertura em um dos lados com uma estrutura semelhante a uma rolha a tapando, bem como uma grade parecida com a de uma colmeia.
A amostra de permafrost da qual o P. sibericum foi retirado é a mesma do M. sibericum, extraída em 2000 em Kolyma, no extremo leste da Rússia. Com 30.000 anos, o patógeno foi exposto a amebas, únicos seres vivos que consegue infectar, como parte do protocolo de estudo.
O nome do agente infeccioso vem do grego “pithos”, significando um recipiente grande, ou uma ânfora, utilizada pelos antigos helênicos para guardar vinho e alimentos e de formato semelhante.
4. Pithovirus mammoth
Esta linhagem é a segunda de pithovírus encontrada na história, isolada a partir de uma amostra de 27.000 anos de lã de mamute petrificada, encontrada no banco do rio Yana, também no extremo leste ruso. Com uma partícula grande e alongada de 1,8 micrômetros de comprimento, o Pithovirus mammoth possui uma estrutura “arrolhada” semelhante à do P. sibericum e também só infecta amebas.
A pesquisa que descreveu o patógeno foi feita pela equipe de Claverie, e faz parte de uma publicação na qual 13 vírus “zumbis” foram revividos e identificados a partir do permafrost siberiano. Três deles foram descobertos a partir da mesma amostra pré-histórica de lã de mamute — são eles o Pithovirus mammoth, o Megavirus mammoth e o Pandoravirus mammoth.
5. Pandoravirus mammoth
Fazendo parte da família Pandoraviridae, que compõe a esmagadora maioria dos vírus revividos do gelo permanente, o Pandoravirus mammoth é um vírus gigante que só infecta amebas, também tendo formato de ânfora, mas se diferenciando dos outros patógenos pelo seu tamanho — 1,2 micrômetros de comprimento.
Ele foi descoberto a partir de uma amostra congelada de lã de mamute do rio Yana, mas também foi encontrado no conteúdo petrificado do estômago de um mamute nas ilhas Lyakhovsky, além da costa do noroeste da Rússia.
A equipe que encontrou esse novo tipo de pandoravírus o expôs a uma cultura de amebas, além de células humanas e de camundongos, como manda o protocolo padrão para verificar se os vírus não infectam células de mamíferos, garantindo a segurança de estudos mais aprofundados. Como esperado, o P. mammoth só infectou as amebas.
6. Pandoravirus yedoma
Este vírus é o mais antigo a ser revivido a partir do permafrost até hoje. Com 48.500 anos, o Pandoravirus yedoma estava nos depósitos gelados no fundo de um lago de Yekuchi Alas, no extremo leste da Rússia. Sua descoberta foi publicada em um artigo em 18 de fevereiro deste ano, no periódico científico Viruses.
O formato da partícula do P. yedoma é oval, medindo cerca de 1 micrômetro de comprimento. Para sua datação, assim como a dos seus parentes escondidos no gelo dos quais estamos falando nesta matéria, foi usado o método envolvendo isótopos de carbono, também chamada de datação por radiocarbono.
7. Cedratvirus lena
Mais uma família de vírus gigante que infecta amebas, os cedratvírus são um subgrupo da família pithovírus. Recentemente, 3 linhagens anteriormente desconhecidas deste tipo de patógeno foram encontradas em lugares diferentes do leste russo, todas descritas em estudos deste mesmo ano.
O Cedratvirus lena, especificamente, foi extraído do permafrost dos bancos enlameados do rio Lena, tendo uma partícula alongada de 1,5 micrômetros que lembra a do P. sibericum, mas com duas estruturas arrolhadas — uma em cada canto do agente. As outras linhagens encontradas na Rússia são a C. kamchatka, da península de mesmo nome, e C. duvanny, das lamas do rio Kolyma, que fluíram por conta do derretimento e mistura do permafrost de diversas idades geológicas.
8. Pacmanvirus lupus
Os pacmanvírus são uma descoberta recente, embora também façam parte dos que infectam amebas. Eles são parentes distantes dos vírus africanos da febre suína, da família Asfarviridae. Seu nome é uma clara homenagem ao protagonista do jogo Pac-Man e foi dado porque, quando quebrada, a cadeia de proteína que forma sua casca parece uma boca aberta.
O Pacmanvirus lupus é o terceiro membro da família a ser descoberto e a primeira linhagem a ser extraída do permafrost, vindo dos restos intestinais congelados de um lobo siberiano (Canis lupus) de 27.000 anos. Também retirado do rio Yana, o vírus teve um estudo dedicado publicado este ano. Apesar dos pacmanvírus estarem na classificação de vírus gigantes, o P. lupus tem apenas 0,2 micrômetros de comprimento, sendo invisível sob as lentes de um microscópio ótico.
Fonte: Journal of Virology, Microbiology, Biological Sciences, Viruses via LiveScience