Saúde
Enciclopédia do Sedentarismo destaca benefícios de se mexer, mas aponta problemas nos estudos
Ampla revisão reuniu conceitos e informações sobre impactos no organismo de ficar muito tempo sentado e apontou necessidade de melhores estudos científicos sobre o tema
Problemas de ser sedentário
O comportamento sedentário tem agora uma “enciclopédia” onde estão reunidas desde informações sobre impactos no organismo e na saúde humana até conceitos e recomendações.
Em mais de 100 páginas, resultantes de três anos de pesquisa, cientistas brasileiros e de instituições internacionais revisaram toda a literatura científica sobre o tema.
O trabalho reforça a mensagem “Sente-se menos, mova-se mais”, mas também aponta uma série de lacunas nos estudos clínicos e experimentais, que deverão ser preenchidas para elucidar os efeitos fisiológicos da combinação de exercícios com interrupções do período sedentário. Por exemplo, não existem ainda pesquisas suficientes para recomendar o quanto é preciso diminuir o comportamento sedentário para não existir risco à saúde.
Mesmo indivíduos que praticam exercício moderado em determinado período, mas têm comportamento sedentário no restante do dia – permanecendo muito tempo sentados ou deitados enquanto acordados -, correm maiores riscos de desenvolver doenças cardíacas e vasculares, por exemplo. Nestas condições, o gasto de energia é muito baixo.
O trabalho mostra que o excesso de comportamento sedentário está associado a vários resultados ruins para a saúde, como a resistência à insulina, disfunção vascular, redução da aptidão cardiorrespiratória, perda de massa e força muscular, além de aumento da massa de gordura corporal e visceral.
Além disso, o tempo excessivo em que as pessoas ficam sentadas ou deitadas tem impactos nas respostas fisiológicas semelhantes aos relatados para a inatividade física, com pouco exercício.
Quando você não conseguir mesmo se exercitar, alguns exercícios para as pernas fazem a diferença.
Estudos deficientes
Infelizmente os benefícios de deixar o sedentarismo em benefício de mexer-se mais ainda não estão bem fundamentados pelos estudos científicos feitos até agora: A equipe listou várias questões que precisarão ser melhoradas nos estudos futuros para que as conclusões sejam melhor fundamentadas e mais generalizáveis.
Quando adotadas intervenções de longo prazo destinadas a substituir ou interromper o sedentarismo com atividade física leve a moderada, os benefícios incluem apenas pequenas melhorias no peso, na circunferência da cintura, no percentual de gordura corporal, na glicemia de jejum, nos níveis de insulina e na função vascular em adultos e idosos.
Mas os cientistas acreditam que mesmo isto vale a pena porque mesmo pequenos movimentos podem servir como trampolim para aumentar a atividade física até níveis que produzam efeitos mais substanciais, sobretudo em pessoas com dificuldades para atingir metas de exercícios, como indivíduos com obesidade.
“Um ponto importante do combate do comportamento sedentário com atividades muito leves, como ficar em pé ou caminhar por alguns minutos, é que esta pode ser uma ‘porta de entrada’ para o indivíduo se tornar, adiante, mais ativo. Essa ideia é muito atrativa do ponto de vista da saúde pública, mas precisa de subsídios científicos, de estudos que mostrem que isso realmente acontece,” disse o professor Bruno Gualano, da Universidade de São Paulo (USP).
Fique em casa, mas não fique parado, alertam pesquisadores.
Recomendações sobre sedentarismo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de exercícios físicos moderados por 150 a 300 minutos semanais ou vigorosos por 75 minutos para a manutenção e melhoria da saúde mental e física.
Alguns estudos demonstram que o ideal seria pelo menos 8 mil passos diariamente para reduzir riscos de mortalidade precoce por doenças evitáveis, outros falam em 7 mil passos ao dia como já suficientes para reduzir consideravelmente as chances de morte prematura, e ao menos um estudo mais amplo afirma que 10.000 passos por dia é bom, mas andando depressa é melhor.
A intensidade da atividade física pode variar de leve (como caminhada durante as compras), moderada (as que deixam a pessoa com a respiração ofegante) a intensa (exercícios que levam à exaustão).
“Essa é a revisão mais abrangente sobre o comportamento sedentário. Esperamos que o trabalho desperte o interesse de mais pesquisadores sobre o tema e direcione estudos futuros para melhorar a qualidade da evidência, preencher lacunas na literatura e evitar limitações atuais na área de comportamento sedentário e saúde,” disse a pesquisadora Ana Jéssica.
A “Enciclopédia do Sedentarismo” só está disponível em inglês, no endereço https://journals.physiology.org/doi/abs/10.1152/physrev.00022.2022.