Internacional
Guterres insta Conselho de Segurança a agir sobre a crise Israel-Palestina como ameaça à paz e segurança internacionais
Em correspondência invocando um artigo raramente utilizado da Carta da ONU, o secretário-geral apelou aos 15 Estados-membros para “pressionar para evitar uma catástrofe humanitária” em Gaza
O secretário-geral da ONU, António Guterres, entregou nesta quarta-feira uma carta ao presidente do Conselho de Segurança invocando o Artigo 99 da Carta da ONU enfatizando a escala da perda de vidas humanas em Gaza e em Israel, num espaço de tempo tão curto.
No documento apresentado em Nova Iorque, o chefe da organização reforça o apelo por um cessar-fogo humanitário total entre Israel e o grupo palestino.
Medida para evitar catástrofe humanitária
Numa declaração emitida aos jornalistas juntamente com a carta, o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, disse que esta foi a primeira vez que Guterres se sentiu compelido a invocar o Artigo 99, desde que assumiu o cargo em 2017.
O representante explicou que o mecanismo afirma que “o secretário-geral pode chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais.”
Na carta, o líder da ONU insta os membros do Conselho de Segurança a pressionarem para evitar uma “catástrofe humanitária” e apela para ser declarado um cessar-fogo humanitário com urgência.
No documento, Guterres afirma que em Gaza, “em meio ao bombardeio constante das Forças de Defesa de Israel, e sem abrigo ou itens básicos de sobrevivência, espera-se que a ordem pública colapse em breve”.
Para ele, a situação pode piorar com o alastramento de epidemias e um deslocamento em massa de pessoas para países vizinhos.
Pessoas deslocadas caminham do norte de Gaza em direção ao sul, enquanto as ambulâncias se dirigem na outra direção
Colapso do sistema humanitário
Guterres alertou para a rápida deterioração da situação que pode resultar em uma “catástrofe com implicações potencialmente irreversíveis para todos os palestinos e para a paz e segurança na região”.
O chefe das Nações Unidas disse que as condições atuais “estão tornando impossível a realização de operações humanitárias significativas” e que o sistema humanitário como um todo enfrenta “grave risco de colapso”.
Ele afirmou também que a capacidade da ONU e seus parceiros humanitários “foi dizimada por desabastecimentos, falta de combustível, comunicações interrompidas e aumento da insegurança”.
Da Jordânia, a porta-voz da agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, disse que a situação em Gaza “está piorando a cada minuto” e citou ligações constantes “de colegas e amigos com pedidos de socorro”.
Juliette Touma afirmou que acredita que o contexto atual representa o “fundo do poço” e que este é “um ponto de virada nesta guerra”.
Aumento de bombardeios e lançamento de foguetes
As últimas informações do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, indicam bombardeios israelenses “significativamente intensificados” por via aérea, terrestre e marítima em Gaza desde a tarde de segunda-feira.
O lançamento de foguetes por grupos armados palestinos contra Israel também aumentou, segundo a agência.
Em seu último informe de emergência o Ocha aponta “combates intensos entre as forças israelenses e grupos armados palestinos”.
Em particular na cidade de Gaza ao leste, ao redor do campo de refugiados de Jabalia no norte e em áreas de Khan Younis ao sul, onde milhares de pessoas procuraram segurança nos abrigos da Unrwa, que já estão superlotados.
Segundo a Unrwa, cerca de 60 mil pessoas chegaram a esses locais nas últimas horas.