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Educação & Cultura

O que é interseccionalidade?

O termo interseccionalidade nos permite compreender melhor as desigualdades e a sobreposição de opressões e discriminações existentes em nossa sociedade. Pode ser considerado como uma ferramenta analítica importante para pensarmos sobre as relações sociais de raça, sexo e classe, e os desafios para a adoção de políticas públicas eficazes.

Se interessou pelo assunto? Vem aprender sobre interseccionalidade com a gente.

Sobre o conceito

O termo interseccionalidade é um conceito sociológico preocupado com as interações e marcadores sociais nas vidas das minorias.

Através dele é possível enxergar que em nossa sociedade existem vários sistemas de opressão – as de raça ou etnia, classe social, capacidade física, localização geográfica, entre outras-, que relacionam-se entre si, se sobrepõem e demonstram que o racismo, o sexismo e as estruturas patriarcais são inseparáveis e tendem a discriminar e excluir indivíduos ou grupos de diferentes formas.

Mas como assim?

Para entendermos como esses sistemas de opressão têm impactos diferentes em diferentes pessoas, precisamos lembrar que existem naturalmente diversas diferenças de  gênero, cor da pele, idade, altura etc entre nós. Mas muitos indivíduos ou grupos, apenas por pertencerem a essas “categorias”, são submetidos a uma série de discriminações, preconceitos e opressões, como de classe, de gênero, de geração, de raça/etnia e de orientação sexual.

Inicialmente o conceito debruçou-se principalmente em relação ao impacto desses sistemas de opressão sobre as mulheres negras. E graças as lutas, discussões e ativismos feministas sobre o assunto, o conceito tornou-se importantíssimo para as ciências sociais no geral.

O que o termo significa para a militância feminista

Os debates sobre interseccionalidade surgiram a partir das lutas e teorizações dos movimentos feministas negros nos Estados Unidos e no Reino Unido entre os anos 1970 e 1980. Assim, o movimento conhecido como Black Feminism foi extremamente produtivo no que diz respeito a produção acadêmica e desenvolvimento das teorias feministas. Graças à entrada em maior número dessas mulheres no meio acadêmico, foi possível atingir um desenvolvimento sociológico do pensamento das mulheres negras naquele momento.

Entretanto, foi somente em 1989 que o termo foi de fato sistematizado por Kimberlé Crenshaw,  teórica feminista e professora estadunidense especializa em questões de raça e gênero.

Segundo Crenshaw, interseccionalidade é 

“… uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posiçõıes relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento” (2002).

Para a professora, é através desse termo que se explica como os eixos de poder relacionados a raça, etnia, gênero e classe estruturam os terrenos sociais, econômicos e políticos em que vivemos.

Crenshaw também explica que esses eixos são distintos e excludentes. Por exemplo, o racismo é diferente do patriarcalismo, que por sua vez é diferente da opressão de classe. Mas, frequentemente, eles podem se interligar criando complexas interseccções em que dois, três ou quatro eixos acabam se cruzando.

Assim, sempre que nos aventuramos a estudar o pensamento feminista negro, sem dúvidas, em algum momento, encontraremos o conceito de interseccionalidade que se tornou indispensável para pensar o lugar dessas mulheres na sociedade.

Nos últimos anos, o número de autoras interessadas em alimentar e fortalecer a teoria da interseccionalidade aumentou consideravelmente. Podemos citar alguns nomes mundialmente conhecidos:  Audre Lorde (1983), Bell Hooks (1984), Patricia Hill Collins (1990), Avtar Brah (2006), Angela Davis (2017).

A produção sobre o assunto também é marcante no Brasil por nomes como Sueli Carneiro (1985), Luiza Bairros (1995); além de Lélia Gonzales (1988) e Beatriz Nascimento (1989), que não trabalharam com o conceito em si, mas com muitas premissas que o antecedem.

Isso nos mostra que a teoria da interseccionalidade tem estimulado diversas análises e encorajado investigações reflexivas, críticas e responsáveis a fim de combater as consequências estruturais desses poderes que criam relações de subordinação, e, promover a adoção de políticas públicas eficazes de inclusão social.

Contribuições em outros movimentos

Quando pesquisamos sobre a ideia de interseccionalidade, inicialmente, é possível observar uma aplicação limitada ao âmbito das mulheres. Mas, como já mencionamos, existe a aplicação da teoria em outras esferas, já que a interseccionalidade nos mostra que ossistemas de opressão, que são inúmeros, se articulam e podem ser inseparáveis. 

Assim, o termo demonstra-se como um instrumento para os movimentos antirracistas, feministas e instâncias protetivas dos Direitos Humanos e, a cada dia, amplia suas análises, levando em conta também outros marcadores sociais como sexualidade, identidade de gênero, geração e tantos outros.

No Brasil, por exemplo, Carla Akotirene (2018), em sua coleção Feminismos plurais, propõe uma revisão teórica sobre o conceito de interseccionalidade que vai desde sua criação até as principais diferenças analíticas bem como as críticas que vem sendo construídas sobre o uso que foge da ideia inicial dessa ferramenta metodológica.

A autora define a relação entre os feminismos negros e interseccionalidade da seguinte maneira:

“o Feminismo Negro dialoga concomitantemente entre/com as encruzilhadas, digo, avenidas identitárias do racismo, cisheteropatriarcado e capitalismo. O letramento produzido neste campo discursivo precisa ser aprendido por Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Queer e Intersexos (LGBTQI), pessoas deficientes, indígenas, religiosos do candomblé e trabalhadores” (AKOTIRENE, 2018, p. 19).

Desta forma, entender as circunstâncias concretas nas quais o racismo e o sexismo convergem é apenas um início.

O termo se preocupa com fatores relacionados a raça ou etnia, classe social, capacidade física, localização geográfica, entre outros, nas vidas de minorias que também podem ser dominadas e discriminadas. Por isso, grupos minoritários, incluindo judeus, negros, muçulmanos, índios, imigrantes não brancos e LGBTs também são de igual importância para o conceito sociológico.

Afinal, devido a atos de discriminação intencional no emprego, na educação e em outras esferas, especificamente por esses indíviduos não serem membros dos “grupos dominantes” na sociedade, suas trajetórias são marcadas por maior vulnerabilidade e menor inserção em sociedade.

Carla Akotirene, a respeito disso, afirma em seu livro “interseccionalidade’’(2019), que o objetivo do assunto é introduzir questões relativas ao feminismo negro mas aponta que “a interseccionalidade pode ajudar a enxergarmos as opressões e combatê-las, reconhecendo que algumas opressões são mais dolorosas. E que às vezes somos oprimidos, mas às vezes somos opressores”

É por isso, então, que a ideia de interseccionalidade serve também como um instrumento de luta política, da inclusão dessas minorias, da afirmação dos Direitos Humanos e em favor da justiça social. Para saber mais sobre justiça social acesse: Igualdade, Equidade e Justiça Social: o que significam?

A partir disso, entende-se que a interseccionalidade é um processo de descoberta que nos alerta para o fato de que o mundo a nossa volta é complicado, contraditório e requer nossa atenção e a interseccionalidade  serve como um “aporte teórico metodológico para se pensar múltiplas exclusões e como de fato construir estratégias para o enfrentamento desse paradigma” (CRENSHAW, 2002).

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