Educação & Cultura
Poeta feirante versa sobre o seu cotidiano na Paraíba
Vendo salada de frutas
Eu vendo até pra juiz
Quem da salada, desfruta
Geralmente pede bis!
Era assim, com versos de poesia popular, que Tiago Duarte anunciava a venda de salada de frutas na tradicional Feira Central de Campina Grande, Paraíba. Tiago não vende mais salada de frutas, mas continua sendo feirante. Nas suas andanças e vendas na tradicional feira das feiras sempre foi comum recitar alguns versos para amigos e clientes, mas a primeira vez que de fato se apresentou como poeta em um evento cultural foi durante o II Encontro Paraibano de Cordelistas, realizado ano passado na Feira Central, onde Tiago trabalha há 36 anos.
Tiago foi descoberto por integrantes do grupo Experimentalismo Brabo, que fizeram a ponte entre Tiago e produtores do encontro evento, onde foi muito bem acolhido quando afirmou ser “poeta feirante”. Ainda tímido, ele recitou alguns versos, com acompanhamento musical do poeta El Gorrión. Organizado pela pela Feira Literária de Campina Grande (FLIC), o encontro reune artistas e pesquisadores do cordel, mas esse ano aconteceu de forma virtual, devido à pandemia de COVID-19.
Em seus escritos, Tiago fala sobre suas vivências, e já escreveu diversos poemas sobre o trabalho na feira, como o folheto de cordel “O trabalhador da feira central de nossa cidade”, publicado pelo Experimentalismo Brabo, onde fala sobre esta instituição tradicional de Campina Grande, que hoje é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil.
“Tenho a feira como um grande mestre para mim. Eu passei a minha infância e adolescência na zona rural. Só com 17 anos é que fui morar na cidade. Daí, meu pai montou uma mercearia nesta feira, onde fui trabalhar e permaneço até hoje.” – afirma Tiago, o poeta feirante. Abaixo, poesia de Tiago Duarte sobre a profissão de vendedor:
O dia do vendedor
Por Tiago Duarte
Dia primeiro do dez
É dia do vendedor
E sem querer querendo, eu
Querendo ser trovador!
Vendedor desenrolado
Pensa bem no que falar
Vende papel enrolado
Mesmo sem desenrolar!
Tem que ter bastante lábia
Esconder a timidez
Ter uma palavra sábia
Pra não perder o freguês!
Bom vendedor vende um friso
Sem precisar se esforçar
Só não vende para o liso
Ou pra quem não quer comprar!
O vendedor não dá trégua
Se caso for ambulante
Anda bem mais de uma légua
Sempre firme e confiante!
Já tive mercearia
Eu já vendi prestação
De casa em casa, eu dizia:
Quer panela de pressão?
Na feira, eu vendi salada
Geladinha, de primeira
Extremamente gelada
Gelada na geladeira!
Parte de seus escritos podem ser vistos em: https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=103449