Saúde
Progresso rumo a exames de sangue para distúrbios psiquiátricos e neurológicos
A natureza heterogênea da depressão… e a ineficácia dos tratamentos.
Exame para doenças psiquiátricas
Uma equipe de médicos e cientistas da Universidade Johns Hopkins (EUA) anunciou ter feito progressos no desenvolvimento de um exame de sangue para identificar alterações cerebrais associadas a doenças psiquiátricas e neurológicas.
Hoje, essas condições, que vão da depressão à esquizofrenia, são diagnosticadas por entrevistas clínicas entre pacientes e médicos, o que dá ao diagnóstico um caráter subjetivo e dependente da qualificação do profissional de saúde e da capacidade do paciente em relatar adequadamente sua situação.
Um exame de sangue que indique alterações fisiológicas alteradas por essas condições pode facilitar muito o diagnóstico, evitando tanto a dispensa de pacientes que precisariam ser tratados quanto o sobretratamento de pacientes com falsos positivos.
Lena Smirnova e seus colegas centraram sua pesquisa na identificação das “pegadas” de mRNAs derivados de células cerebrais no sangue que circula fora do cérebro. Essas vesículas extracelulares sanguíneas carregam pedaços de material genético específicos do cérebro que podem permitir aos pesquisadores detectar alterações associadas a doenças na atividade genética dentro do cérebro.
As vesículas extracelulares, bolsas gordurosas de material genético essencial para a comunicação entre as células, transportam RNA mensageiro (mRNA) e são liberadas por todos os tecidos do corpo, incluindo o cérebro. Em 2022, a equipe descobriu que a comunicação por vesículas extracelulares fica alterada em mulheres que desenvolvem depressão pós-parto.
Outro estudo recente trouxe esperança de um exame para diagnosticar e monitorar a depressão.
Exames promissores
Agora, utilizando a placenta humana como modelo, os pesquisadores identificaram 26 mRNAs placentários que estão presentes no sangue materno apenas durante a gravidez, e não após o nascimento, provando que mRNAs de tecidos específicos são encontrados em vesículas no sangue circulante. Então, usando tecido cerebral humano cultivado em laboratório derivado de células-tronco (organoides cerebrais), os pesquisadores descobriram que os mRNAs de vesículas extracelulares liberadas desses tecidos cerebrais refletem as mudanças que ocorrem dentro dos tecidos.
Uma análise mais aprofundada dessas vias genéticas de mRNA mostrou que os mRNAs específicos do cérebro nas vesículas extracelulares estavam envolvidos em funções cerebrais específicas e foram significativamente enriquecidos para genes já associados a distúrbios cerebrais que envolvem o humor, esquizofrenia, epilepsia e abuso de substâncias. Os pesquisadores também descobriram 13 mRNAs específicos do cérebro no sangue associados à depressão pós-parto.
São resultados entusiasmantes porque comprovam a existência de biomarcadores no sangue que podem ser usados para desenvolver exames que detectem condições neurológicas de modo objetivo – a equipe agora planeja estudar o caso do autismo.
Eventualmente, a disponibilidade de tais exames de sangue poderá permitir a detecção de sinais precoces de emergências de saúde mental, como comportamento suicida. A capacidade de identificar pacientes que correm risco de ter um episódio psiquiátrico permitiria à equipe de atendimento intervir e possivelmente prevenir desfechos negativos.