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Educação & Cultura

Conectando Boas Práticas 2023: confira os vencedores da categoria coordenadores

Os projetos ganhadores utilizaram da escrita, da leitura e da ludicidade para impulsionar o aprendizado dos estudantes

A terceira edição do Conectando Boas Práticas, que teve foco na recomposição de aprendizagens, busca identificar propostas pedagógicas de impacto, valorizando o trabalho realizado por educadores e educadoras de todo o Brasil. 

O reconhecimento é uma iniciativa da rede Conectando Saberes que, desde 2015, busca apoiar os professores para transformar a Educação brasileira. Atualmente, possui cerca de 700 educadores espalhados por todas as regiões do país. Desde abril de 2023, a Conectando faz parte da área de comunidades da NOVA ESCOLA.

O edital de 2023 teve mais de 200 propostas inscritas e cinco foram escolhidas como as melhores de cada uma das três categorias – professores, coordenadores e gestores escolares. A seguir, apresentamos os vencedores da categoria coordenadores.

Um terreno fértil para ler e escrever

Daniela Arfeli aproveitou o jornal escolar, que já existe em sua escola há mais de 10 anos, para fazer a recomposição de aprendizagens

Em Mirante do Paranapanema (SP), a EE Assentamento Santa Clara recebe alunos de seis assentamentos rurais e um acampamento. Ao perceber que a escola era o único acesso dos estudantes em situação de vulnerabilidade econômica e social à cultura letrada, a coordenadora Daniela Arfeli criou, há 12 anos, o “Santa Clara Notícias”. O objetivo era desenvolver as competências de leitura e escrita por meio do gênero jornalístico. 

“O jornal perpetua a função social da escrita, e a maior parte dos alunos só conhece a leitura por meio da escola. Por isso, realizar o lançamento de mais uma edição do jornal é um marco para os estudantes”, diz Daniela.

Ela conta que sensibiliza todos os professores e os incentiva, independentemente do componente, a trabalharem com os alunos a produção textual para o jornal. Para isso, faz momentos formativos com os educadores, mostrando os elementos e gêneros do texto jornalístico, como coletar depoimentos e escrevê-los e como eles podem ser trabalhados em sala de aula. 

Inicialmente, o projeto envolvia os Anos Finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio, mas hoje inclui toda a comunidade escolar na produção da edição anual do folhetim. Ao longo dos anos, o jornal também deixou de ser feito apenas pelos estudantes e abriu espaço para que os professores pudessem contribuir com suas produções. 

Atualmente, são impressos em torno de 500 exemplares, que trazem projetos realizados em sala de aula, poesias escritas pelos estudantes, textos diversos e matérias de autoria de professores, diretora, supervisora e outros funcionários.

Para preparar a edição de cada ano, a professora desempenha o papel de editora-chefe e, junto com mais quatro estudantes do grêmio, dois professores, a gestora e vice-gestora da escola, compõem a equipe editorial. O grupo é responsável por selecionar os textos que serão publicados na edição e gerenciar os trabalhos de produção, revisão e fotojornalismo. A diagramação é feita externamente. 

Como nem todos os textos são publicados na versão impressa por falta de espaço, o blog e as redes sociais do “Santa Clara Notícias” veiculam o restante da produção. “Isso faz com que os alunos tenham interesse em escrever, pois sabem que terão público para ler o que produziram”, comenta Daniela. 

O evento de lançamento de cada nova edição, aberto a toda a comunidade, costuma acontecer entre os meses de novembro e dezembro. Na ocasião, os estudantes realizam apresentações de dança, teatro e declamação de poesia, entre outras manifestações culturais relacionadas às matérias e textos do jornal. Após o lançamento, são distribuídos exemplares para os estudantes da escola e para os participantes do evento. 

Projeto: Jornal escolar: práticas de letramento em escola de assentamento

Coordenadora: Daniela Aparecida Ferreira Arfeli 

Instituição: E.E. Assentamento Santa Clara

Etapas: Ensino Fundamental e Ensino Médio

Cidade: Mirante do Paranapanema (SP)

Destaque: diante dos diversos desafios para o letramento dos estudantes em situação de assentamento, o projeto mudou a relação dos alunos com a leitura e escrita. Além disso, envolve toda a comunidade escolar e incentiva a multidisciplinaridade e o protagonismo dos alunos.

Conteúdo na palma da mão

Utilizar ferramentas digitais foi uma das estratégias encontradas pela coordenadora Ana Cleia Barros para engajar os alunos e as atividades de recomposição

Após a pandemia, os professores da EM Maria Quevedo, em Caroebe (RR), perceberam que os alunos estavam menos atentos e tiveram a ideia de levar algo novo e atrativo para a sala de aula. Paralelamente, havia a necessidade de ações que auxiliassem os estudantes na aprendizagem de habilidades não trabalhadas durante o período pandêmico, sobretudo as relacionadas à leitura, escrita e conhecimentos matemáticos. 

Nesse momento, a Secretaria Municipal de Educação estava colocando em prática um projeto de recomposição de aprendizagens e realizou a distribuição de 59 tablets para a instituição e mais duas escolas do município. A coordenadora pedagógica Ana Cleia Barros viu então a oportunidade de usar a tecnologia para cativar os alunos. “Precisávamos levar o novo, algo de que eles gostassem. Computadores, celulares e tablets chamavam a atenção deles e, com isso, realizamos escalas para que todos os estudantes pudessem ter acesso ao dispositivo.”

Os professores e professoras passaram por momentos formativos, com sugestões de atividades que poderiam ser utilizadas em sala de aula. Eles escolheram aplicativos para realizar atividades com os estudantes. “Nas aulas, os alunos se organizavam em duplas ou trios e usavam plataformas interativas, com jogos pedagógicos relacionados ao conteúdo que estavam vendo nas aulas”, diz a coordenadora.

As atividades também foram direcionadas para a preparação dos alunos que passariam pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Ana Cleia conta ainda que, com a aplicação das avaliações diagnósticas no início e final de ano, a equipe escolar pôde perceber os avanços no aprendizado dos estudantes.

Os próximos passos do projeto incluem aumentar a quantidade de tablets disponibilizados aos alunos, para que cada estudante tenha o seu, e melhorar o acesso à internet. “No momento que percebemos que precisávamos nos abrir para o novo, os professores se mostraram dispostos a aprender a lidar com a internet e os tablets. Isso ajudou a captar a atenção dos alunos e a despertar o desejo deles em realizar as atividades”, conclui a coordenadora.

Projeto: Compromisso com a mudança: as mídias digitais na recomposição das aprendizagens do Ensino Fundamental

Coordenadora: Ana Cleia Barros

Instituição: Escola Municipal Maria Quevedo

Etapas: Anos Iniciais do Ensino Fundamental 

Cidade: Caroebe (RR)

Destaque: a tecnologia foi usada para recompor e impulsionar a aprendizagem dos estudantes e resgatar o interesse pelos conteúdos pedagógicos e pela escola.

Afeto por meio da leitura

Veja como a coordenadora Sônia Lídia Almeida da Silva uniu incentivo à leitura com o enfrentamento das defasagens deixadas pela pandemia

Criar memórias afetivas com a leitura e apresentar para as crianças o universo dos livros eram alguns dos desejos da coordenadora Sônia Lídia Almeida da Silva Barbosa, da EEF Salviano Patrício de Almeida, em Quixeramobim (CE), com o projeto “Abrace a leitura e sinta o seu aconchego”.

Para alcançar esses objetivos, ela realizou três ações de forma simultânea que uniram escola, família e estudantes em torno da contação de histórias. No “Aconchego literário”, as crianças tinham um espaço para realizar leituras individuais no pátio da escola, em um ambiente criado exclusivamente para isso e que deixasse o hábito da leitura mais prazeroso. Uma criança era convidada para aproveitar o espaço por dia, no período da manhã.

Conforme a atividade foi acontecendo, a escola viu a oportunidade de convidar familiares dos alunos para aparecerem de surpresa e compartilharem com a criança o momento de leitura. “Elas ficavam emocionadas ao verem a família na escola, e isso instigou outras a participarem. Tivemos casos de familiares entrando em contato com a escola para agendar um momento com seu filho ou filha”, relata Sônia. “Isso levou a família a ser a referência da criança nesse primeiro espaço de aconchego, além de trazer a ideia de afeto, parceria e memória da infância atrelada a um livro”.

A segunda ação foi o “Alforje de histórias”, em que os professores e professoras fizeram a contação de histórias e atuaram como mediadores para o entendimento da narrativa e para as discussões que surgiam após a leitura. A ideia era que os educadores levassem obras que gerassem algum tipo de reflexão sobre o cotidiano e vivências dos estudantes.

“Queríamos promover o protagonismo da criança e o desenvolvimento de reflexões e percepções. Nas reuniões de planejamento, escolhemos as histórias e orientamos os professores em relação à obra e a como proceder na hora da contação da história, para eles poderem se preparar para a atividade”, destaca Sônia.

Por fim, a terceira ação do projeto foi o “Avental de histórias”. A proposta era apresentar a narrativa de uma forma lúdica e mais atrativa. Assim, em vez de o professor contar a história, as crianças podiam soltar a imaginação e apresentar o enredo de uma forma não convencional. Muitos vestiram-se como os personagens e fizeram apresentações de teatro, música e fantoches. 

Segundo Sônia, o projeto fez a coordenação e os professores perceberem que precisam cada vez mais pensar em novas estratégias e recursos para atrair os estudantes. “Esses momentos devem se tornar mais regulares, não podemos deixar que sejam apenas por protocolo”, finaliza. 

Projeto: Abrace a leitura e sinta o seu aconchego

Coordenador: Sônia Lídia Almeida da Silva Barbosa

Instituição:  EEF Salviano Patrício de Almeida

Etapas: Educação Infantil e Anos Inicias do Ensino Fundamental 

Cidade: Quixeramobim (CE)

Destaque: a partir do universo da leitura e do desejo de encantar os alunos por meio dos livros, o projeto realizou ações que conseguiram unir família, escola e estudantes. Em cada uma delas, os participantes tiveram uma conexão afetuosa com o hábito de ler, incentivando essa prática. 

Resgatando aprendizagens com a chuva

A dificuldade de chegar na escola em dias de chuva foi ponto de partida para desenvolver muitas aprendizagens na EM Professor Aluizius Sehnem, em Joinville (SC)

A cidade de Joinville, no interior de Santa Catarina, possui uma geografia peculiar. Por estar cercada por uma serra, o paredão formado pelas montanhas acaba se tornando uma barreira para a umidade, o que faz do município um dos que mais recebe chuvas da região sul do país. Mesmo sem saber as causas, esse fato já intrigava o coordenador pedagógico Reginaldo Rodrigues da Silva, da EM Professor Aluizius Sehnem.

Para investigar o assunto, ele mobilizou as turmas dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental de forma lúdica, aproveitando a temática e a necessidade de muitos estudantes de recompor as aprendizagens. Além disso, em dias de chuva, muitos alunos não conseguiam comparecer à escola. Todos esses fatores contribuíram para a criação do projeto Guarda Chuville. 

O coordenador pensou então em diferentes propostas, como a leitura de obras sobre a temática da chuva, a exploração do formato do guarda-chuva na Matemática, a construção de uma maquete sobre a situação das chuvas na cidade e o estudo das unidades de medida utilizadas para precipitações.

“Imaginei alinhar o lado social e o pedagógico e usar o guarda-chuva como objeto de estudo. Propus também aos pais que construíssemos um guarda-chuvário, no pátio da escola, para que os alunos o utilizassem em dias de chuva. Logo de início, conseguimos arrecadar 50 guarda-chuvas para deixar à disposição dos estudantes”, comenta Reginaldo.

Outra ação realizada pelo projeto foi a sacola literária. Após a compra de livros que trabalham o tema da chuva, cada sala recebeu o nome de um autor famoso ou conhecido da cidade e uma sacola temática sobre esse escritor com um guarda-chuva. O objetivo era que a sacola visitasse a casa dos estudantes e eles fizessem a leitura da obra com a família. 

Ao longo dos meses, foram feitas parcerias com empresas privadas, e o projeto recebeu doações. Uma delas foi a entrega de 500 guarda-chuvas para a escola. O projeto também foi apresentado na tribuna da Câmara de Vereadores, para sensibilizar o poder legislativo municipal. O Guarda Chuville foi ainda contemplado em editais de fomento e premiações, como Fundo Social da Cooperativa Sicredi e “Joinville faz o bem”.

Assim, o projeto recebeu grande visibilidade na cidade e incentivo da comunidade. A mãe de um estudante doou uma máquina de costura, e a escola organizou um espaço para um ateliê. A ideia agora é gerar desdobramentos do que já foi realizado, e o professor Reginaldo já tem planos.

“Com o tempo, os guarda-chuvas ficaram danificados, e tivemos a ideia de reciclar esse material. Com uma costureira voluntária da comunidade, estamos transformando os guarda-chuvas em sacolas literárias para os estudantes levarem para a casa”, conta. “A ideia é que as obras dessas bolsas sejam de diferentes temas, para trabalharmos assuntos como educação antirracista e meio ambiente”. 

Projeto: Guarda-Chuville

Coordenador: Reginaldo Rodrigues da Silva

InstituiçãoEM Professor Aluizius Sehnem

EtapasAnos Iniciais do Ensino Fundamental

CidadeJoinville (SC)

Destaque: a partir de um assunto que gerava curiosidade, o coordenador viu a oportunidade de trabalhar a temática da chuva em diferentes componentes curriculares. Com isso, atraiu a atenção da comunidade, que se engajou no projeto. 

A metodologia de projetos como aliada 

Uso de metodologias ativas e jogos foram as estratégias escolhas pela coordenadora Hozana da Silva Araújo para recompor as aprendizagens nos Anos Iniciais do Fundamental

No município de Caroebe (RR), o período da pandemia foi desafiador no que diz respeito à continuação dos estudos pelos alunos da Educação Básica. Devido a questões de acesso à internet e à tecnologia, a opção encontrada pelas escolas foi a elaboração e a entrega de apostilas aos estudantes.

Com a baixa escolaridade das famílias, com muitos pais e responsáveis que não foram alfabetizados, a orientação em casa para a realização das tarefas escolares não acontecia. Com o retorno às aulas presenciais, em 2021, foi então necessário desenvolver uma avaliação diagnóstica e mapear as dificuldades dos estudantes.

Diante desse cenário que se repetiu em diversas partes do país, os estados estavam elaborando seus planos de recomposição de aprendizagens, conforme exigência do Decreto 11.079, de 2022, que instituiu a Política Nacional para Recuperação das Aprendizagens na Educação Básica. Dessa forma, a equipe pedagógica da Secretaria de Educação, onde a coordenadora Hozana da Silva Araújo trabalha, tomou a iniciativa de organizar um projeto municipal para recompor aprendizagens. 

“Orientamos os professores a trabalharem de forma lúdica e saírem da rotina. Muitos pensaram em dinâmicas para complementar o dia a dia da sala de aula e apresentar o conteúdo de forma descontraída para o aluno”, diz Hozana.

Paralelamente, houve formação continuada e oficinas para os professores ficarem munidos de jogos e desenvolverem atividades, além de medirem o impacto dessas ações por meio de avaliação diagnóstica realizada no início e no fim do ano. Alguns desses momentos foram subsidiados pelo centro de formação do estado, emitindo certificados para os educadores.

Durante a realização do projeto, duas ações ganharam destaque. A primeira foi a “Escolas de mãos dadas: brincando e aprendendo” com foco na leitura, escrita e aprendizagens essenciais de Matemática por meio de jogos e brincadeiras.

A segunda, “Compartilhando saberes”, constituiu um desdobramento da primeira, visando a troca de experiências e conhecimentos do primeiro momento de aprendizagem. Foram realizados saraus, apresentações de teatro, seminários e feira literária, que contaram com a participação das famílias.

Todas essas atividades foram acompanhadas pela equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, e o projeto foi desenvolvido em três escolas. “Além dos alunos, os professores também estão se sentindo mais encorajados. Vemos que eles estão acreditando mais na potencialidade do seu trabalho”, salienta a coordenadora. “Temos projetos fantásticos desenvolvidos a partir do ‘Recompondo’ e conseguimos mostrar como a metodologia de projetos é uma forma de impulsionar o aprendizado dos alunos”, completa. 

O avanço significativo na leitura dos estudantes deixou a equipe da Secretaria Municipal entusiasmada com o projeto. “Vemos hoje que o ‘Recompondo’ veio para ficar. Mesmo que inicialmente o foco tenha sido a pandemia, sabemos que muitos estudantes precisam de auxílio, e a ideia é que se torne uma política pública do municipio”, considera Hozana.

Projeto: Recompondo as aprendizagens do Ensino Fundamental Séries Iniciais

CoordenadorHozana da Silva Araújo

InstituiçãoEM Maria Quevedo

EtapasAnos Iniciais do Ensino Fundamental 

CidadeCaroebe (RR)

Destaque: a partir de uma política pública nacional, a equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação mobilizou 10 escolas para recompor a aprendizagem dos alunos e sensibilizar os professores para que pensassem para além do tradicional. Com a aplicação da metodologia de projetos, os estudantes apresentaram avanços.

Fonte: Nova Escola

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