Saúde
Do autismo ao Alzheimer, a culpa pode estar no metabolismo do cérebro
Problema metabólico do cérebro
Um grupo de pesquisa global, composto por 131 pesquisadores de 105 laboratórios de sete países, anunciou resultados surpreendentes e promissores sobre distúrbios neuropsiquiátricos que envolvem o comprometimento cognitivo dos pacientes.
A novidade é que alterações no metabolismo energético do cérebro parecem ser um fator chave em uma ampla gama dessas condições, a quase totalidade delas ainda sem tratamentos disponíveis.
Apesar de amplamente sustentada por experimentos com animais, essa linha de pesquisa não vem progredindo no ritmo esperado porque grande parte dos cientistas ainda apoia conclusões de estudos mais antigos, apesar de não estarem dando resultados práticos para os pacientes, como acontece como a hipótese das beta-amiloides da doença de Alzheimer. Por isso a equipe internacional se reuniu para revisar todas as conclusões bem fundamentadas disponíveis até agora envolvendo essa nova rota de pesquisa em neurociência.
O estudo identificou uma disfunção do metabolismo energético cerebral que leva a níveis alterados de pH e lactato como características comuns de distúrbios neuropsiquiátricos e neurodegenerativos, como deficiência intelectual, distúrbios do espectro do autismo, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtornos depressivos e doença de Alzheimer.
Um nível elevado de lactato e a diminuição resultante no pH já haviam sido apontados como um potencial componente primário dessas doenças em vários experimentos com modelos animais. Ao contrário dos pressupostos anteriores que associavam essas alterações a fatores externos – como as medicações que estavam sendo testadas – as descobertas do grupo agora indicam que eles podem ser intrínsecos às diversas doenças.
“Este é o primeiro e o maior estudo sistemático a avaliar o pH cerebral e os níveis de lactato em uma série de modelos animais para distúrbios neuropsiquiátricos e neurodegenerativos. Nossas descobertas podem estabelecer as bases para novas abordagens para desenvolver a caracterização transdiagnóstica de diferentes distúrbios que envolvem comprometimento cognitivo,” disse o Dr. Hideo Hagihara, líder do estudo.
As pesquisas sobre Alzheimer têm cada vez mais escapado da chamada “hipótese amiloide“, que credita a doença às placas formadas no cérebro, mas que nunca gerou um medicamento eficaz.
As conclusões do estudo incluem:
- I – Fenômeno comum entre distúrbios: Cerca de 30% dos 109 tipos de modelos animais apresentaram alterações significativas no pH cerebral e nos níveis de lactato, enfatizando a ocorrência generalizada de alterações no metabolismo energético do cérebro em várias condições neuropsiquiátricas.
- II – Fatores ambientais como causa: Modelos que simulam depressão por estresse psicológico, e aqueles induzidos ao desenvolvimento de diabetes ou colite, que apresentam alto risco de comorbidade para depressão, mostraram diminuição do pH cerebral e aumento dos níveis de lactato. Vários fatores ambientais adquiridos poderiam contribuir para essas mudanças.
- III – Relação com deficiência cognitiva: Uma análise abrangente integrando dados de testes comportamentais revelou uma associação predominante entre níveis aumentados de lactato cerebral e memória de trabalho prejudicada, esclarecendo um aspecto da disfunção cognitiva.
- IV – Confirmação em Coorte Independente: Essas associações, particularmente entre níveis mais elevados de lactato cerebral e fraco desempenho da memória de trabalho, foram validadas numa coorte independente de modelos animais, reforçando os resultados iniciais.
- V. Complexidade do Espectro do Autismo: Foram observadas respostas variáveis em modelos de autismo, com alguns mostrando aumento do pH e diminuição dos níveis de lactato, sugerindo subpopulações dentro do espectro do autismo com padrões metabólicos diferentes.
“Esta pesquisa pode ser um trampolim para a identificação de alvos terapêuticos compartilhados em vários distúrbios neuropsiquiátricos. Estudos futuros se concentrarão na descoberta de estratégias de tratamento que sejam eficazes em diversos modelos animais com alterações no pH cerebral. Isso poderia contribuir significativamente para o desenvolvimento de tratamentos personalizados para subgrupos de pacientes caracterizados por alterações específicas no metabolismo energético cerebral,” disse o Dr. Tsuyoshi Miyakawa, membro da equipe.