Esporte
F1 fecha maio com 3 pilotos de 3 equipes vencendo: temos um campeonato?
Neste agitado mês de corridas, McLaren e Ferrari quebraram sequência de domínio da Red Bull, e os próprios pilotos começam a pensar numa possibilidade de título que até o começo do ano era inexistente
Está certo que a corrida de Mônaco, como previsto, não teve ultrapassagens pela liderança, mas o histórico resultado de uma vitória do monegasco Charles Leclerc nas ruas do país onde ele nasceu tornou a prova de 2024 emblemática.
E mais do que isso: ela coroou uma sequência de três corridas em maio, onde o F1MANIA.NET esteve presente in loco na cobertura, com três pilotos de três equipes diferentes vencendo no Mundial deste ano: primeiro, com Lando Norris trazendo a McLaren de volta ao pódio no GP de Miami, disputado no circuito nos arredores do Hard Rock Stadium.
Depois, foi a vez de Max Verstappen mostrar porque ainda é o grande favorito ao tetracampeonato em 2024 ao segurar a forte pressão do segundo colocado para vencer em Ímola. E este rival era novamente Norris, com a McLaren mostrando que a ascensão do time é real após os upgrades trazidos da prova nos Estados Unidos.
Há quem diga que Verstappen não tinha o melhor carro no Autódormo Enzo e Dino Ferrari, mas mesmo assim conseguiu estabelecer a pole na Itália e igualar o recorde de Ayrton Senna, de oito poles seguidas, obtido entre 1988 e 1989.
Só que em Mônaco o holandês sabia que teria um concorrente forte: Leclerc começou a mostrar força no Principado desde os treinos livres. “Ele parecia que já estava em ritmo de Q3 na classificação logo na primeira sessão de treinos na sexta”, comentou Carlos Sainz, seu companheiro de equipe, na coletiva após a corrida.
Aliás o espanhol e Oscar Piastri protagonizaram uma cena engraçada com os dois deitados no sofá esperando Leclerc chegar. “Foi a melhor ideia fazer estas entrevistas em um sofá”, brincou o australiano.
Leclerc sabia que a grande chance dele finalmente quebrar o jejum de vitórias em Mônaco seria em 2024 e fez um final de semana perfeito. Na entrevista, o monegasco admitiu que chegou a se emocionar faltando duas voltas para o fim, vendo que o sonho iria se realizar. “Pensei muito no meu pai, os sacrifícios que ele fez para estarmos aqui”, disse, dedicando a vitória para a memória dele, que faleceu vítima de câncer um ano antes de Leclerc estrear na F1, em 2017.
Em uma das coletivas mais concorridas do ano (afinal, Monaco é o GP com maior número de mídia credenciada, são cerca de 100 jornalistas de credencial permanente, que vão a todas as corridas, e mais 300 credenciados unicamente para esta prova), perguntei ao monegasco também como ele se sentia, afinal, colocando seu nome na mesma prateleira de vencedores de seu único e grande ídolo nas pistas, Ayrton Senna.
“Senna sempre foi meu ídolo e foi incrivelmente especial em Mônaco. E eu acho que provavelmente a primeira vez que meu pai falou comigo sobre Ayrton, ele me disse para ir ver a onboard dele dirigindo pelas ruas de Mônaco e eu pensei ‘oh meu Deus, isso é loucura! Daí em diante, obviamente, eu sabia cada vez mais enquanto crescia, cada vez mais sobre o Ayrton e isso se somava ao fato de que ele estava se tornando cada vez mais meu ídolo. Mas o fato de ele ser tão especial em Mônaco foi incrível de se ver. Vencer em Mônaco agora também é maravilhoso”, respondeu Leclerc.
A Ferrari agora se torna o único time que colocou seus dois pilotos no hall de vencedores em 2024, já que Sainz venceu na Austrália, e isso se deve também a eficiente gestão de Frederic Vasseur. Tanto Leclerc quanto Sainz colocaram este papel como definitivo para o upgrade de resultados da escuderia de Maranello nos últimos meses.
Em pequenos momentos você percebe a animação dos pilotos para responder aquela pergunta que coloquei no título. Afinal, temos um campeonato em 2024? Ao chegar na sala de imprensa, Leclerc foi perguntado sobre isso, sendo informado que são 31 pontos de diferença para Verstappen.
“Não são 23? Alguém me disse que era isso, então eu estava animado”, disse um surpreso Leclerc… Bom, se ele já está pensando nestas contas, é que, sim, o mês de maio mudou bastante em termos de perspectiva de temporada. “Em todo caso, ainda é cedo na temporada para falar em campeonato”, desconversou depois.
Ainda é preciso colocar a McLaren como um interessante elemento nesta disputa. Com a visível melhora do time, Norris e Piastri podem também entrar na briga ou até mesmo roubar pontos importantes de Verstappen ao longo das próximas corridas. Foi o que a dupla, que correu com um carro especial em homenagem a Ayrton Senna, nas cores do capacete do brasileiro, fez neste domingo no Principado.
Com um resultado no qualy um pouco diferente, era até possível pensar na McLaren vencendo em Mônaco também. E a próxima pista também será um circuito “atípico”, com um misto de traçado urbano e de pouca aderência no Circuito Gilles Villeneuve, em Montreal, para o GP do Canadá.
Na Red Bull, o clima foi de susto com o grave acidente de Sergio Perez na primeira volta, e ao mesmo tempo de contenção de danos por parte de Verstappen. O holandês chegou a dizer que o GP de Mônaco “não foi realimente uma corrida” – o que é natural pela sua frustração de não poder ir além do sexto lugar.
Só que agora é a hora de ver se o atual time dominante da F1 conseguirá manter o foco para conseguir mais um título. O clima de boatos, troca de acusações e briga de poder parece ter diminuído desde o seu auge, no começo da temporada e em especial na prova 2, em Jeddah, na Arábia Saudita. Mas é difícil não enxergar uma relação entre a queda de performance do time austríaco com os escândalos recentes com as brigas expostas na mídia.
Será que as turbulências fora das pistas vão atrapalhar a Red Bull e em especial Verstappen? Se você me perguntasse no mês passado, a minha resposta seria não. Mas depois de um mês de maio com a melhora da McLaren e Ferrari e a queda de rendimento dos austríacos (basta ver as dificuldades de Sergio Perez em lutar por um lugar no pódio), mostram que a situação neste mês de maio mudou bastante.
Ainda é cedo para dizer se temos um campeonato, afinal, esta foi apenas a oitava prova das 24 previstas no calendário e, depois de Montreal, uma sequência de provas na Europa em autódromos “tradicionais” tende a favorecer a Red Bull.
Mas, com a vitória de Leclerc em Mônaco, a sensação que fica é que o clima na Ferrari é daquele famoso meme da Internet com Ronaldinho Gaúcho: “estão deixando a gente sonhar”… Os pilotos e, claro, nós que também acompanhamos a F1 e torcemos por um Mundial mais competitivo em 2024.