AGRICULTURA & PECUÁRIA
Pesquisa desenvolve concentrados proteicos de lentilha e grão-de-bico
Os produtos somam-se ao concentrado proteico de feijão, desenvolvido pela mesma equipe de pesquisadoras em 2023. O concentrado de lentilha apresenta 80% de proteína e o de grão-de-bico, 73%. Essas soluções tecnológicas são opções para produção no Brasil e alternativas a proteínas encontradas no mercado, como a de ervilha, majoritariamente importada. Testes comprovam que essas proteínas podem ser substituídas ou acrescentadas em produtos alimentícios, suplementos e bebidas. Os estudos mostram também que os resíduos gerados com a extração das proteínas de grãos de lentilha e grão-de-bico podem ser aproveitados, reduzindo o impacto ambiental de sua produção. |
A Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) apresenta ao mercado dois novos concentrados proteicos, de lentilha e grão-de-bico, com potencial para aumentar a disponibilidade e diversificação de ingredientes usados na formulação de alimentos à base de plantas (plant-based). As inovações somam-se ao concentrado proteico de feijão, desenvolvido pela mesma equipe de pesquisadoras em 2023, e também são similares aos concentrados de soja e de ervilha disponíveis no mercado. O concentrado de lentilha apresenta cerca de 80 gramas de proteína para cada 100 gramas do produto, ou seja, 80% de proteína. Já o de grão-de-bico possui, aproximadamente, 73 gramas de proteína para 100 gramas, o que representa 73% de proteína.
Os ingredientes possibilitam o acréscimo de teor de proteína a alimentos à base de vegetais que são similares a produtos de origem animal como hambúrgueres, empanados, salsichas, linguiças, bebidas vegetais e iogurtes. Além disso, também podem ser usados em panificação, bebidas proteicas e suplementos alimentares, lembrando que não foram desenvolvidos com a finalidade de substituírem o whey protein.
Segundo a pesquisadora Janice Lima, o desenvolvimento das pesquisas levou em consideração o uso de matérias-primas com teor razoável de proteínas, que é o caso das pulses. Essas sementes comestíveis de plantas da família das leguminosas apresentam naturalmente de 20% a 30% de proteínas e, por serem amplamente produzidas e consumidas no mundo, são candidatas naturais para a obtenção de concentrados proteicos. “Entre as pulses, o concentrado proteico obtido de ervilha, majoritariamente importado, já é conhecido do mercado, enquanto outras leguminosas são menos estudadas. O grão-de-bico e a lentilha são culturas que vêm ganhando força no País devido à versatilidade de produção”, observa.
Os concentrados também são opções para substituir ingredientes proteicos derivados de soja, muito conhecidos no mercado. “Os ingredientes podem ser utilizados em alimentos para melhoria das características tecnológicas como aumento de viscosidade, estabilização de espumas e melhoria de textura, possibilitando ampliar a oferta de produtos voltados ao público de alimentos vegetais como os veganos, vegetarianos ou flexitarianos”, informa Lima, acrescentando que “os processos para obtenção dos ingredientes foram desenvolvidos em laboratório e estão sendo trabalhados, agora, para serem reproduzidos em equipamentos maiores que simulam o ambiente industrial”.
Altos teores de proteínas
A pesquisadora Caroline Mellinger explica que ambos os concentrados proteicos apresentaram altos teores de proteínas, contendo quantidades mínimas suficientes de parte dos aminoácidos essenciais em sua composição, como a lisina, leucina, isoleucina, histidina e treonina, de acordo com as recomendações de órgãos nacionais e internacionais, como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
“As proteínas de ambos os grãos foram amplamente testadas em um experimento que simula a digestão humana, o que é interessante do ponto de vista nutricional, pois essas pequenas partes que compõem as proteínas, chamadas de aminoácidos e peptídeos podem ser absorvidas pelo intestino e irão compor parte do aporte proteico necessário para manter o funcionamento do organismo humano”, afirma.
A funcionalidade das proteínas pode ser medida sob os aspectos nutricionais, biológicos ou tecnológicos. Na avaliação nutricional, a expectativa é obter boas quantidades de aminoácidos essenciais e avaliar a digestibilidade das proteínas pelo trato gastrointestinal humano. Já na perspectiva biológica, avalia-se se as proteínas atuam em alguma função na saúde, como na atividade anti-hipertensiva, imunomoduladora, antioxidante, entre outras. As propriedades tecnológicas, por fim, avaliam o comportamento das proteínas frente ao desenvolvimento de produtos, como alimentos e bebidas, ou seja, se a proteína é capaz de solubilizar no meio aquoso, se é capaz de absorver óleo e água, e se forma emulsão ou espuma, por exemplo.
As proteínas do grão-de-bico e lentilha, assim como as de outras leguminosas, não são muito solúveis em pHs próximos ao neutro, mas são boas formadoras de espuma e emulsão. “Os nossos resultados demonstraram que, apesar das particularidades de cada matéria-prima, os ingredientes que desenvolvemos são similares a outros encontrados no mercado, o que comprova que essas proteínas podem ser substituídas ou acrescentadas em produtos alimentícios, suplementos e bebidas”, informa a pesquisadora.