Nacional
Ex-secretário denuncia pressão governamental para compra de arroz: “bode expiatório”
Por Roberto Tomé
O ex-Secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller, revelou na última quarta-feira (12) que foi pressionado pelo governo para organizar um leilão que adquiriu 263 mil toneladas de arroz importado. O leilão, no entanto, foi anulado na última terça-feira (11) devido às suspeitas de irregularidades. Geller se declara “bode expiatório” do fracasso.
Neri Geller renunciou após surgirem suspeitas de favorecimento ao seu filho, Marcello Geller, parceiro de uma das corretoras participantes do leilão. Quatro empresas ganharam a licitação a um custo de R$ 1,3 bilhão, com três delas não atuando no mercado de transação de grãos. Geller afirmou que sofreu pressão da Casa Civil e do Ministério da Agricultura para adquirir uma abundância de arroz, enfrentando intensas críticas do setor agrícola.
Em entrevista à BANDNEWS TV, Geller afirmou que a quantidade de arroz foi uma decisão da Casa Civil com o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Ele destacou que as especificações técnicas para o leilão não foram seguidas, corroborando as afirmações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que cancelou o leilão. “Faltou organização, faltou orientação”, declarou Geller, ressaltando que as normas não foram cumpridas de forma adequada.
Geller confirmou que 78% da safra de arroz do Rio Grande do Sul já estavam colhidas e armazenadas antes das enchentes que afetaram a região. Ele destacou que o Centro-Oeste do Brasil experimentou um aumento de 30% na produção de arroz e mencionou a produção de outros países do MERCOSUL, sugerindo que o leilão deveria ter sido escalonado.
Negando qualquer privilégio ao seu filho, Geller defendeu que Robson Almeida de França, ex-assistente e parceiro de negócios, envolveram-se em leilões de grãos após deixar seu escritório e participou de outros leilões anteriormente. “Eu vou sair como aquele que leva a culpa no lugar de outro dessa questão? Eu não vou aceitar de forma nenhuma”, afirmou, solicitando que a Polícia Federal investigue seu envolvimento.
Neri Geller, ex-ministro da Agricultura durante o governo Dilma Rousseff (PT) e ex-deputado federal, desempenhou papel crucial na aproximação de Lula com o agronegócio durante as eleições de 2022. Sua escolha para importar arroz ocorreu em resposta às inundações no Rio Grande do Sul, que contribui com 70% da produção nacional do grão.
Durante o último fim de semana, a Conab estabeleceu que as quatro companhias vencedoras do leilão devessem demonstrar capacidade técnica e financeira para mediar à compra de R$ 1,3 bilhão. A anulação do leilão, devido às suspeitas de irregularidades e pressão governamental, colocou em foco a necessidade de transparência e rigor nos processos licitatórios para garantir a confiança do setor agrícola e da sociedade.
O caso envolvendo Neri Geller evidencia desafios significativos na gestão de políticas agrícolas e a importância de procedimentos claros e justos em licitações governamentais. A pressão política, as suspeitas de favorecimento e a necessidade de uma investigação transparente são elementos cruciais para restaurar a confiança no sistema e garantir a eficácia das ações governamentais em momentos de crise.