ECONOMIA
Nível de competitividade do Brasil cai, aproximando-se da Venezuela, diz Revista Exame
Por Roberto Tomé
Pelo terceiro ano consecutivo, o Brasil figura entre as dez piores posições no ranking de competitividade global, elaborado pelo Institute for Management Development (IMD), com sede na Suíça. Segundo a revista Exame, na edição de 2024, divulgada recentemente, o país ocupa a 62ª posição entre 67 nações, registrando uma queda de duas posições em relação a 2023.
Essa colocação aproxima o Brasil dos últimos lugares da lista, que incluem Venezuela (67º), Argentina (66º) e Gana (65º). Notavelmente, as posições mais baixas são ocupadas predominantemente por países latino-americanos e africanos, refletindo desafios regionais comuns e persistentes.
Avaliação Detalhada
O levantamento do IMD, em sua 36ª edição, avalia 336 indicadores econômicos agrupados em quatro categorias principais: desempenho econômico, eficiência governamental, eficiência empresarial e infraestrutura. Neste ano, três novos países foram incluídos no estudo: Nigéria, Gana e Porto Rico.
O Brasil apresenta um desempenho particularmente fraco em “eficiência governamental”, ocupando a 65ª posição. Esse indicador é fortemente influenciado pelo alto custo de capital e pela desigualdade de oportunidades. Hugo Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC) e líder da pesquisa no Brasil, destacam que a competitividade econômica não se limita apenas ao PIB e à produtividade, mas também envolve aspectos políticos, sociais e culturais.
Em “eficiência empresarial”, o Brasil está na 61ª posição, impactado negativamente pela alta dívida corporativa e pela qualidade da mão de obra. No entanto, o país apresenta uma colocação um pouco melhor no indicador de “performance econômica” (38º), destacando-se pelo crescimento na oferta de empregos e no PIB real per capita.
Infraestrutura e Políticas Públicas
Na área de infraestrutura, o Brasil ocupa a 58ª posição, enfrentando desafios relacionados ao conhecimento e à tecnologia. Apesar disso, o país se destaca no subfator de “subsídios governamentais”, ocupando o quarto lugar. Este desempenho positivo é atribuído ao Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê investimentos de R$ 1,4 trilhão até 2026.
Além disso, em quatro indicadores específicos, o Brasil apresenta resultados favoráveis, ficando em quinto lugar: crescimento de longo prazo do emprego, crescimento do PIB real per capita, fluxo de investimento direto estrangeiro e uso de energias renováveis. Esses pontos positivos indicam áreas onde o Brasil tem potencial para crescer e melhorar sua competitividade.
Comparação Internacional
Os países mais competitivos do mundo, conforme o ranking do IMD, são Singapura, Suíça e Dinamarca. Estes países se destacam por suas políticas de governança ágil e acesso eficiente aos mercados. Suíça e Singapura, por exemplo, são líderes em todos os níveis de educação, sugerindo que o Brasil deveria ampliar programas de formação profissional e técnica para preparar alunos para o mercado de trabalho.
Desafios Estruturais
Hugo Tadeu enfatiza a necessidade de políticas educacionais alinhadas aos interesses de crescimento do país, especialmente nos aspectos de dívida corporativa, educação em gestão e habilidades linguísticas. Ele argumenta que a criação de um ambiente propício ao desenvolvimento empresarial depende de uma infraestrutura adequada e políticas eficientes que incentivem o crescimento das empresas.
A Fundação Dom Cabral ressalta que, apesar de algumas melhorias pontuais, a performance brasileira ainda revela fragilidades significativas. O Brasil precisa de uma abordagem holística que combine investimentos em educação, infraestrutura e políticas governamentais para melhorar sua posição no ranking de competitividade global.
Conclusão
A posição do Brasil no ranking de competitividade global do IMD reflete uma série de desafios estruturais e conjunturais. Enquanto o país mostra algumas áreas de progresso, especialmente em investimentos e uso de energias renováveis, há uma necessidade urgente de reformas abrangentes em governança, educação e infraestrutura para melhorar sua competitividade global. Investimentos contínuos e um foco em políticas de longo prazo serão cruciais para que o Brasil possa ascender no ranking e garantir um desenvolvimento sustentável e inclusivo no futuro.