Nacional
Cadê o Lula?
A Esperança e a Realidade
Por Roberto Tomé
Em 2022, a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva reacendeu as esperanças de muitos brasileiros, especialmente entre os socialistas e comunistas, de que uma mudança política significativa estava a caminho. Com Jair Bolsonaro fora do poder, esperava-se que a esquerda tomasse as rédeas e programasse uma agenda progressista e inclusiva. No entanto, a realidade política brasileira revelou-se bem mais complexa.
A vitória de Lula trouxe consigo a ilusão de que uma nova era estava começando. Nomeações de representantes de grupos desfavorecidos, como Anielle Franco, Silvio Almeida e Sônia Guajajara, para ministérios foram vistas como passos importantes. Contudo, esses ministérios possuem pouca influência sobre as políticas mais amplas do governo. Enquanto isso, para governar de fato, Lula precisou fazer alianças com o Centrão – um grupo político centrado em interesses pragmáticos e que historicamente tem se associado ao poder vigente, independentemente de sua ideologia.
O Centrão, que mostrou preferir a continuidade das políticas de Bolsonaro, conseguiu manter uma sólida maioria à direita do centro no Congresso. Este cenário é resultado de um sistema eleitoral que reflete a composição diversa da população brasileira, mas que atualmente favorece uma maioria conservadora.
Lula, agindo como se estivesse em seu primeiro ou segundo mandato, subestimou os desafios políticos. Seu carisma e declarações, como as sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, foram insuficientes para contrabalançar a força política dos seus oponentes.
Ao invés de uma mudança política, o Brasil tem visto a continuidade da agenda bolsonarista sob a presidência de Lula. As propostas oriundas dos apoiadores de Bolsonaro continuam a definir o discurso político no país.
Um exemplo claro é a proposta de lei sobre o aborto, promovida por grupos religiosos visando proteger a vida e as mulheres. Se a esquerda valorizasse a vida da forma que afirma, promoveria melhores programas sociais para famílias e mulheres, alocando mais verbas para educação e saúde, e lutando por igualdade salarial e licença parental.
Outra vitória da direita foi à aprovação da “PL do agrotóxico” em novembro de 2023, que facilita o uso de pesticidas num país já campeão mundial no uso e consumo dessas substâncias. Sob o governo de Lula, mesmo com Sônia Guajajara como ministra dos Povos Indígenas, houve retrocessos significativos. A demarcação de terras indígenas passou do âmbito da FUNAI para o Ministério da Justiça, um movimento criticado como um retrocesso jurídico na garantia de direitos territoriais.
O marco temporal, que estabelece 1988 como referências para a demarcação de terras indígenas, foi aprovado com ampla maioria na Câmara, demonstrando o poder contínuo da agenda bolsonarista. Na prática, a maioria no Congresso tem sistematicamente derrubado os vetos de Lula contra propostas de lei da direita, com uma proporção de votos na Câmara de três para um contra o presidente e de dois para um no Senado.
Diante desse cenário, surge a pergunta: quem está realmente governando o Brasil? A resposta parece ser que, mesmo fora da presidência, Bolsonaro e seus apoiadores continuam a exercer uma influência decisiva sobre a política nacional. A sensação é de que um novo tempo está por vir, um tempo de mudança que depende de todos os brasileiros.
A eleição de Lula trouxe esperança, mas também destacou as dificuldades de implementar uma agenda progressista num Congresso dominado por forças conservadoras. O futuro político do Brasil continua em jogo, e a participação ativa de todos os cidadãos será crucial para determinar os próximos passos do país.