Educação & Cultura
3 pontos para refletir sobre a prática pedagógica
Após o fechamento do semestre, faça uma autoavaliação para pensar em aprimoramentos possíveis para garantir aprendizagens mais significativas
Que tal aproveitarmos o encerramento do bimestre para refletir e repensar nossa prática? Hoje é sobre isso que irei falar neste espaço. Te convido a embarcar comigo e olhar para a prática na alfabetização matemática.
Refletir envolve voltar para pensar sobre nós mesmos, retomando nossas ações, investigando-as com um olhar focado e crítico. No caso da escola, voltamos essa reflexão para nossa prática pedagógica.
O propósito desse movimento não é nos culpar, pensarmos no quanto estamos certos ou errados. Mas, sim, analisar sobre como estamos trabalhando e quais resultados estamos obtendo, ou seja, o quanto nossos alunos estão realmente aprendendo.
Refletindo sobre a prática pedagógica
Esse exercício de aprimoramento contínuo exige estar constantemente estudando e se questionando quais estratégias e intervenções fazer de forma a garantir as aprendizagens das crianças.
Aqui vamos focar na Matemática, mas o mesmo processo pode (e deve) ser realizado com todas as áreas do conhecimento.
Para isso, três perguntas-disparadoras para conduzir a reflexão a respeito de nosso fazer pedagógico.
1. Quais os tipos de propostas levamos para a sala de aula?
São listas e listas de exercícios sempre iguais para fazer conforme um modelo dado? São atividades envolvendo tecnologia que continuam reproduzindo exercícios mecânicos? São propostas que permitam que a turma pense sobre a partir de um desafio proposto?
A professora Renata Soares, baseada nas suas pesquisas e nos estudos do professor João Pedro da Ponte, nos explica, neste post em seu Instagram, que “um exercício é uma tarefa fechada e de desafio reduzido. Um problema é uma tarefa fechada, mas com desafio elevado. Uma investigação é uma tarefa aberta com desafio elevado. Uma exploração é uma tarefa aberta e acessível à maioria dos alunos”.
Diante desse conceito, temos a diferença entre entre exercício e tarefa (problema, investigação ou exploração). O primeiro é a aplicação do conteúdo explicado. São listas de operações descontextualizadas, pautadas em chegar a uma única resposta correta, sem espaços para questionamentos, limitando o estudante a reproduzir procedimentos fixos.
Já a tarefa propõe “um problema que requer a resolução a partir dos conhecimentos prévios dos alunos. Traz uma lista de operações que estimulam o cálculo mental e favorecem a observação de regularidades, possibilitando a reflexão sobre o aprendizado e o processo matemático envolvido”, segundo Renata.
Essa diferenciação já abre um espaço para questionar-se. Estamos propondo desafios reduzidos? Ao planejar, temos em mente o objetivo que queremos alcançar, quais habilidades e expectativas estão em jogo? A nossa intencionalidade com a proposta está clara? Olhamos para a proposta compreendendo-a e pensando em possíveis questionamentos para que os alunos avancem?
Responder a essas perguntas e, quando necessário, rever a nossa prática, é difícil. Porém, com estudo poderemos evoluir cada vez mais e por conseguinte contribuir para que nossos alunos aprendam e avancem.
2. Como o uso de estratégias, como os jogos, fazem parte de sua rotina?
Sempre falo aqui sobre a importância de usar jogos para o processo de alfabetização matemática. Algumas perguntas que podem te auxiliar a fazer a autoavaliação desse aspecto:
- Tenho conseguido usar os jogos de forma a promover a aprendizagem dos meus alunos?
- A escolha do jogo é feita intencionalmente, com base em objetivos de aprendizagem previstos no currículo e na Base Nacional Comum Curricular (BNCC)?
- Preparo boas perguntas para estimular que a turma pense sobre o conteúdo e avance?
A clareza do que queremos alcançar com o jogo permite promover a aprendizagem. Além, claro, de reservar um tempo após jogar para problematizar situações vivenciadas pela turma. Só assim, o jogo será uma estratégia adequada e não será o jogar pelo jogar, uma atividade divertida.
3. Como acompanha os avanços e dificuldades no processo de aprendizagem das crianças?
Este é um aspecto que a equipe docente em minha escola está discutindo, como cada um acompanha a aprendizagem da sua turma.
O acompanhamento da aprendizagem é um processo intencional realizado pelo professor, equipe gestora e equipe da secretaria da educação com o objetivo de identificar, registrar e analisar as aprendizagens, a fim de reorganizar o percurso e garantir a aprendizagem de todos.
Por isso é tão importante ter instrumentos para avaliar os avanços em todas as áreas do conhecimento. O ponto de partida é saber quais expectativas de aprendizagem ainda precisam ser retomadas, tendo uma visão do grupo como um todo e de cada aluno em particular.
No que se refere à alfabetização matemática, você…
- tem clareza sobre os aspectos que necessita acompanhar?
- Quais as habilidades essenciais para o desenvolvimento matemático? Está restrito à ideia de número?
- Como você tem feito o acompanhamento destas aprendizagens de seus alunos? Quais instrumentos utiliza?
Se ainda não possui registros que te ajudem a identificar quais necessidades e quais desafios tem pela frente, é hora de conhecer um pouco mais sobre o tema e buscar colocá-lo em ação.
Enquanto professora sempre utilizei pautas de observação para registrar como a turma compreendia determinado jogo ou resolvia situações-problema durante aquela atividade. É uma forma de visualizar melhor o que cada um já sabe para retomar ou propor novos desafios.
É válido ressaltar que ter parceiros mais experientes, na figura da equipe gestora, a quem recorrer é fundamental. Entretanto, é preciso estar aberto a olhar para a prática a fim de aprimorá-la, sem buscar culpados ou assumir uma posição defensiva. Vamos nessa?
Um abraço.
Até a próxima!
Selene
Selene Coletti é professora há 43 anos na rede pública. Atuou na Educação Infantil e foi alfabetizadora por 10 anos, lecionando do 1º ao 5º ano. Em 2016, foi uma das ganhadoras do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto “Mapas do Tesouro que são um tesouro”, na área de Matemática. Foi diretora de escola e recebeu, em 2004, o Prêmio “Gestão para o Sucesso Escolar”, do Instituto Protagonistes/Fundação Lemann. Atuou como coordenadora do Núcleo de Formação Continuada e também como formadora da Educação Infantil na Prefeitura de Itatiba (SP). Atualmente é vice-diretora da EMEB Philomena Zupardo, em Itatiba.
Nova Escola