CONCURSO E EMPREGO
Pedidos de demissão batem recorde no Brasil: por que isso está acontecendo?
Sair de um emprego por livre e espontânea vontade é uma escolha corajosa e um tanto arriscada. Mas muitos brasileiros têm “demitido o patrão” nos últimos tempos. No ano passado, 7,3 milhões de pessoas pediram demissão de seus empregos, um número 7% maior do que o registrado em 2022.
Neste ano, o movimento continua forte, pois entre janeiro e junho foram 4.259 milhões de pedidos de desligamentos, uma alta de 14%. Se o ritmo for mantido, 2024 deverá bater o recorde do ano passado.
Por que houve o aumento de pedidos de demissão?
As respostas são muitas, como demonstra a pesquisa feita pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Veja:
- Outro emprego em vista (36,5%);
- Baixo salário (32,5%);
- Pouco reconhecimento no trabalho (24,7%);
- Problemas éticos com a forma de trabalho da empresa (24,5%);
- Problemas com a chefia imediata (16,2%);
- Inexistência de flexibilidade da jornada (15,7%).
O fim do home office em muitas empresas e a menor flexibilidade impactaram negativamente muitos trabalhadores, que aproveitaram para mudar de lugar ao perceberem um cenário econômico cada vez mais aquecido.
“É interessante observar que a maioria das razões para pedidos de demissão está relacionada com um novo tipo de relação que as pessoas vêm estabelecendo com a vida profissional. Diferentemente de outras épocas, a estabilidade em um emprego não é mais vista como indicativo de profissionalismo”, explica Francisco Nogueira, fundador da consultoria Relações Simplificadas.
Movimentações pós-pandemia, que colocaram em xeque alguns dos pilares do mundo corporativo, como o quiet quitting e a luta pelo fim da escala 6×1, foram abraçadas pelos Millennials e Geração Z, e também tem tudo a ver com o aumento das demissões voluntárias.
“O quiet quitting é um reflexo da necessidade de equilibrar vida pessoal e profissional, pois uma força de trabalho exaurida, cansada e que eventualmente, para contrabalancear as altas demandas de trabalho, acaba entregando menos energia ou fazendo somente aquilo que é necessário, até mesmo como uma contrarreação à questão da exaustão”, alerta Tatiana Iwai, professora do Insper e especialista em comportamento organizacional.
Repensar os métodos
Francisco Nogueira aponta que a política de benefícios flexíveis precisa estar em um pacote que inclui um conjunto de revisões de métodos de avaliação, flexibilidade de horários e locais de trabalho, possibilidade do home-Office, licenças-maternidade e paternidade expandidas, entre outros. “As empresas precisam ter uma agenda e um olhar que acompanhe os novos anseios”, indica o consultor.