Saúde
Especialistas propõem não chamar o câncer de próstata de baixo grau de câncer
Ciência do câncer de próstata
Há mais de uma década, estudos têm mostrado que o monitoramento pode ser o melhor tratamento para o câncer de próstata, com a vigilância ativa sendo a opção mais eficaz e mais adequada para pacientes com câncer de baixo risco ou com idade mais avançada.
As evidências começaram indicando que as terapias para o câncer de próstata não são adequadas para todos os casos e que a vigilância ativa supera os resultados das cirurgias. Mais recentemente, os estudos avançaram para os exames, mostrando que o toque retal não é útil para detectar precocemente o câncer de próstata, que o nível de PSA não é confiável para medir a sobrevivência no câncer de próstata e, finalmente, que os exames de rotina da próstata só aumentaram o sobrediagnóstico desse câncer.
Agora, um novo estudo publicado pelo Jornal do Instituto Nacional do Câncer dos EUA foi além, mostrando que os pacientes podem se beneficiar se os médicos pararem de chamar certas alterações iniciais da próstata de “câncer”.
Em outra pesquisa, um exame de urina conseguiu detectar o câncer da próstata com quase 100% de precisão.
O assunto é delicado porque o câncer de próstata é a segunda principal causa de morte por câncer em homens em todo o mundo, mas muitos mais pacientes são diagnosticados do que morrem da doença. Especificamente o câncer de próstata de baixo grau, comumente conhecido como GG1 entre os médicos, praticamente nunca metastatiza e nem causa sintomas.
Foi por isso que os pesquisadores médicos começaram a se perguntar se haveria algum ganho para a saúde pública em chamar o GG1 de algo diferente de câncer.
Se não vai espalhar e nem matar não é câncer
Para aprofundar essa discussão, pesquisadores convocaram um simpósio internacional com participantes de vários campos, incluindo a defesa do paciente.
As principais considerações incluíram a taxa muito alta de GG1 detectável em estudos de autópsia, o foco dos testes diagnósticos na detecção de cânceres de grau mais alto, os benefícios de relegar o GG1 a outro status, que os cientistas chamam de “incidentaloma”, os efeitos adversos à saúde do tratamento excessivo e o fardo psicológico de um diagnóstico de câncer para os pacientes.
Os participantes concordaram que, embora o GG1 seja comum entre homens mais velhos, ele não deve ser considerado normal: Pacientes com essa condição devem continuar a monitorá-la com seus médicos. Houve uma preocupação de que os pacientes podem não se preocupar em monitorar a progressão da condição se o médico não usar a palavra “câncer” para explicar o que está acontecendo.
Mas a conclusão geral é que, se o objetivo é reduzir as taxas de mortalidade por câncer de próstata, uma reconsideração da nomenclatura pode ser uma boa maneira de ajudar a fazer isso acontecer.
“A palavra ‘câncer’ ressoou com os pacientes por milênios como uma condição associada à metástase e mortalidade,” considerou o professor Matthew Cooperberg, um dos organizadores do simpósio. “Estamos agora encontrando alterações celulares excepcionalmente comuns na próstata que, em alguns casos, pressagiam o desenvolvimento de um câncer agressivo, mas na maioria não. Precisamos absolutamente monitorar essas anormalidades, não importa como as rotulemos, mas os pacientes não devem ser sobrecarregados com um diagnóstico de câncer se o que vemos tem capacidade zero de se espalhar ou matar.”