Nacional
Congressistas somem no ato de Lula: ausências que falam alto
Por Roberto Tomé
Brasília, palco de mais um evento simbólico na eterna luta pela suposta democracia a qual vivenciamos. Desta vez, o Lula resolveu reviver o fatídico 8 de janeiro com um ato na Praça dos Três Poderes. A ideia? Mostrar que as instituições resistem. Mas, olha só, os grandes figurões do Congresso Nacional decidiram tirar folga. Coincidência ou estratégia?
Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, foi esperto. Saiu do país e só volta semana que vem, deixando Veneziano com a batata quente da representação. Já Arthur Lira, chefão da Câmara, também está sumido. Ele não fez questão de aparecer e, pra variar, não deu explicação convincente. E os “herdeiros do trono”, como Hugo Motta e Davi Alcolumbre? Estão escondidos nos próprios redutos eleitorais, fingindo que o evento é só mais um dia qualquer no calendário político.
A ausência desses líderes não é só um deslize de agenda. É um recado. Um sinal claro de que a sintonia entre o Executivo e o Legislativo está longe de ser perfeita. Lira e companhia parecem evitar qualquer associação explícita a um ato que carrega o DNA político de Lula, especialmente em um momento em que alianças precisam ser costuradas com pinça.
E isso sem mencionar a sombra que ainda paira sobre os militares. Enquanto Lula busca mostrar união com a presença dos chefes das Forças Armadas, a realidade é que as investigações sobre o envolvimento de militares nos ataques de 2023 continuam como uma pedra no sapato do Planalto.
O evento está cheio de simbolismos. Lula descendo a rampa do Palácio do Planalto, ladeado pelos representantes dos Três Poderes. Uma obra de Di Cavalcanti, restaurada e relançada como símbolo de resistência cultural. É bonito no papel, mas será que chega ao coração de quem realmente importa?
Enquanto isso, movimentos sociais tomam a Praça com palavras de ordem e discursos inflamados. É quase uma reprise do que vimos ao longo de 2023: de um lado, o governo tentando unificar o país; do outro, uma parcela significativa do Congresso e das elites olhando pra esse esforço com desdém ou, pior, indiferença.
A verdade é que a reconstrução da democracia no Brasil anda no ritmo de um samba mal ensaiado. O governo faz seu show, mas os aplausos são protocolares e o elenco de apoio falta ao ensaio. O simbolismo é importante, claro, mas de que adianta se os protagonistas do cenário político preferem ficar nos bastidores?
O Brasil já entendeu que democracia não se sustenta só com discursos. É preciso ação, presença e, principalmente, coragem para enfrentar os fantasmas que ainda rondam as instituições. E, no caso de Pacheco, Lira e seus colegas, a ausência no evento de hoje fala muito mais do que qualquer discurso ensaiado.
No fim das contas, o 8 de janeiro virou um lembrete incômodo: a democracia brasileira continua se recuperando de um trauma, mas seus guardiões parecem mais interessados em evitar polêmicas do que em defendê-la de verdade.