Nacional
O fiasco do 8/1: entre reflexões tortas, discursos vazios e a vergonha alheia da esquerda
Por Roberto Tomé
Ah, o 8 de janeiro… Difícil esquecer. Impossível, na verdade. Aquele dia em que Brasília virou palco de um show bizarro, misturando vandalismo, radicalismo e a pior face da política brasileira. Passados meses, eis que surge um “ato em memória” para relembrar o que foi e, pior, tentar capitalizar politicamente o desastre. É sério que ainda estamos nisso?
Mas vamos aos pontos que ninguém quer discutir. Primeiro, que “ato democrático” é esse onde só a esquerda tem voz? Cadê o direito da direita de opinar, de contestar, de participar do debate? Ou será que a democracia agora virou um clube fechado, com lista de convidados filtrada? Parece mais um monólogo do que uma conversa nacional.
E o mais intrigante: alguém perguntou quem mandou matar Bolsonaro? Sim, porque, enquanto nos distraímos com o caos de Brasília, questões ainda mais graves seguem enterradas sob um sigilo conveniente. Ninguém fala ninguém toca, e quem devia investigar parece mais interessado em abafar do que esclarecer. Essa é a “democracia” que estamos defendendo?
Falar de memória democrática é importante, claro. Esquecer é perigoso, especialmente em um país onde a política tem memória de peixe. Mas não adianta chorar pelo leite derramado sem olhar para as causas do desastre. O 8/1 não foi um raio em céu azul. Foi o resultado de anos de discurso inflamado, intolerância crescendo nos cantos mais obscuros da sociedade e uma falta de ação gritante de quem deveria proteger as instituições.
Agora, sobre o “ato em memória”: vamos combinar, parece mais um teatro barato. A hipocrisia está em alta. Todos bradam pela democracia, mas onde estavam esses paladinos quando o ódio e a desinformação ganhavam terreno? Quando o extremismo florescia sob seus narizes, muitos preferiram o silêncio. Agora, levantam bandeiras, mas é difícil levar a sério quando o histórico é tão seletivo.
E a história oficial sobre o 8/1? Bem, ela ainda é cheia de furos. A resposta do Estado foi lenta ou, quem sabe, propositalmente preguiçosa? Teorias não faltam. Há quem aponte para conchavos internos, dedos que foram convenientemente cruzados enquanto o circo pegava fogo. Não dá para aceitar meia justiça. Se for para punir, que seja com transparência e sem distinção de quem mandou ou quem executou.
Por fim, o tal ato deveria servir como um convite à reflexão – mas não do jeito raso e automático que vimos. A grande questão não é só como chegamos aqui, mas o que faremos para não repetir esse papelão. Estamos tão presos em paixões ideológicas que nos esquecemos do básico: o outro lado também é feito de gente. A polarização é normal na política, mas transformar o debate em ódio é um tiro no pé coletivo.
O Brasil precisa mais do que um “ato em memória”. Precisa de autocrítica. Precisa de menos palanque e mais coragem para encarar verdades incômodas. Reconciliação não é fraqueza; é estratégia. E se a esquerda, à direita ou o que quer que seja quiser um futuro, melhor começar a trabalhar nisso já.