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Janjapalooza: Quando a fome e a pobreza viraram show de luxo
O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu uma investigação para apurar possíveis irregularidades no uso de recursos públicos pela Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu. Sob a responsabilidade do ministro Aroldo Cedraz, o caso é mais um exemplo do descaso com o dinheiro do contribuinte, que tem financiado eventos milionários enquanto o país enfrenta problemas graves como fome, pobreza e falta de infraestrutura.
Entre os eventos que geraram indignação está o polêmico “Janjapalooza”, um festival de alto custo travestido de iniciativa social para combater a fome e a pobreza. A Itaipu Binacional destinou R$ 15 milhões para a realização da Cúpula do G20 Social e eventos associados. Somente o “Janjapalooza” custou R$ 28,3 milhões, incluindo passagens aéreas, hospedagens em locais de luxo, estrutura cenográfica faraônica e serviços administrativos. Enquanto isso, milhões de brasileiros vivem sem ter o que comer.
A suposta primeira-dama, a tal da Janja, que já trabalhou na Itaipu entre 2005 e 2020, é apontada como uma figura central nesse desperdício. Ao ser confrontado com o apelido do evento, reagiu com desdém: “Não, filha. É Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Vamos ver se consegue entender a mensagem, tá?”. Mas a mensagem que chega à população é clara: luxo e ostentação estão acima das verdadeiras prioridades.
O “Janjômetro”, criado pelo deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil), tornou-se um símbolo da revolta popular contra o uso abusivo de recursos públicos. Segundo a plataforma, foram gastos cerca de R$ 63 milhões entre janeiro de 2023 e novembro de 2024 com despesas associadas à primeira-dama, equivalendo a inacreditáveis R$ 4 mil por hora.
Entre os itens mais escandalosos estão:
- R$ 26 milhões em reformas e mobília para palácios presidenciais;
- R$ 2 milhões em hospedagens de luxo durante viagens internacionais;
- R$ 33,5 milhões diretamente relacionados ao “Janjapalooza”.
Esses números representam não apenas um insulto à população, mas também uma evidência clara de que o governo federal está mais preocupado em agradar a uma elite artística mercenária do que em atender às necessidades reais do povo brasileiro.
O envolvimento da Itaipu Binacional nesse escândalo também expõe um problema jurídico crônico. Em 2018, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que o TCU não tem competência para fiscalizar a usina, uma vez que sua gestão é regida por um tratado internacional entre Brasil e Paraguai. Esse argumento, usado como barreira, tem dificultado ainda mais a responsabilização dos envolvidos.
O que deveria ser um evento para discutir soluções para a fome virou um espetáculo grotesco de autopromoção e desvio de foco. Enquanto o governo federal tropeça em promessas que jamais vai cumprir, a primeira-dama parece querer brilhar em um palco construído à custa do sofrimento de milhões de brasileiros.
Não é apenas uma questão de mau uso de recursos; é uma afronta direta à dignidade de um povo que trabalha, paga impostos e espera que o dinheiro seja investido em soluções reais, e não em festas de luxo para artistas e aliados políticos. A conta dessa festa, como sempre, chega à mesa do trabalhador brasileiro.
É urgente que as autoridades parem de fazer vista grossa e priorizem o que realmente importa. Transparência, responsabilidade e comprometimento com o bem-estar da população devem estar no centro da gestão pública. Caso contrário, os espetáculos de luxo continuarão a roubar a cena enquanto o país arde em miséria.
O povo brasileiro merece mais do que promessas vazias e discursos ensaiados. É preciso uma reavaliação profunda das prioridades nacionais, com foco no combate à fome, no investimento em saúde e educação, e na promoção de uma sociedade mais justa. Até lá, eventos como o “Janjapalooza” continuarão sendo um retrato cruel de um governo desconectado da realidade, onde o dinheiro público vira combustível para espetáculos enquanto o Brasil real segue marginalizado e esquecido.